Lajeado – O cumprimento da lei do piso nacional, o fim do Ensino Médio Politécnico e a destinação de mais recursos para a educação pública uniram professores, funcionários e alunos em protesto, ontem. Mais de 500 pessoas caminharam pelas principais ruas da cidade e participaram de ato público próximo do Colégio Presidente Castelo Branco (Castelinho).
A manifestação se iniciou na Escola Estadual Erico Verissimo, no bairro São Cristóvão, às 8h30min. Com bandeiras, placas e apitos, os protestantes seguiram pela Av. Alberto Pasqualini, interrompendo o trânsito em uma das pistas.
Próximo do supermercado Imec houve a primeira parada. Coordenadora do 8° Núcleo do Cpers/Sindicato, que engloba 86 escolas de 30 municípios, Luzia Hermann organizou o manifesto.
Taxista do bairro São Cristóvão, Adelar Kunrath, observava o caminhada. Mesmo atrapalhando o fluxo de veículos, Kunrath mostrou-se favorável ao manifesto. “É positivo. Só assim que se consegue as coisas.”
Ao chegar na área central do município, o grupo começou a chamar a atenção dos comerciantes. Estudantes com a cara pintada e nariz de palhaço distribuíam folhetos do Cpers. Um dos lojistas contestou a ação. “Nunca está bom. Sempre estão criticando o governo.”
No Posto Faleiro, mais pessoas se juntaram ao protesto. Alguns carregavam cartazes com críticas ao governador Tarso Genro. Durante o manifesto, eles gritavam “Tarso fora da lei”. Alguns o ofendiam com palavrões.
Em mais de dois quilômetros, as manifestações foram interrompidas apenas em frente ao Hospital Bruno Born (HBB). O ato público no Castelinho durou cerca de 30 minutos.
Os manifestantes foram até a Prefeitura de Lajeado para deixar as faixas e cartazes no pátio. Funcionários se sentiram ameaçados, e os seguranças fecharam as portas da sede do Executivo. Um pequeno princípio de confusão se iniciou, quando alunos começaram a bater no vidro.
Manifestações
Professor há 38 anos, Egomar Kirsheim, 62, percebe que a qualidade do ensino público está em decadência. Cobra a lei sancionada em 2008, que estabelece o piso nacional dos profissionais de educação. Para chegar aos R$ 1.451 por 40 horas semanais, o salário no estado precisa aumentar 28,98%.
Educadora do Castelinho, Eliane Silva refuta a aprovação automática dos estudantes. Conforme ela, o sistema diminui os índices de repetição, mas desqualifica o aprendizado. Pede melhores condições na sala de aula e investimentos em aparatos tecnológicos.
A mudança para o Ensino Politécnico é a maior revolta dos alunos. Segundo eles, o novo sistema exclui conteúdos que são cobrados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares.
Estudante do 2° ano, Hector Lopes, 16, pretende ingressar numa universidade federal. Relata que faz cursos pré-vestibular, pois o conteúdo repassado na sala de aula é insuficiente.
Líder do Grêmio Estudantil do Colégio Reynaldo Affonso Augustin, de Teutônia, Patrik Costa da Silva, 19, exige mais investimentos na estrutura física. Destaca que o Grêmio e o CPM precisam organizar eventos e repassar os recursos para melhorias na instituição de ensino. Mais de 1,2 mil alunos estudam no educandário. Mesmo assim, segundo Silva, inexiste ginásio e o laboratório de ciências está obsoleto.
Alunos desconhecem motivos do protesto
Alguns estudantes que participaram da caminhada desconheciam os motivos da paralisação. Um aluno da Escola Erico Verissimo empunhava a bandeira do Cpers, mas não sabia o significado da entidade.
Estudante do 1o ano do Ensino Médio, Taina Costa revelou que os professores entregaram as faixas aos alunos. Acredita que a instituição de ensino não recuperará o dia de aula perdido.
Conforme Luzia Hermann, o assunto foi abordado em sala de aula. O Cpers realizou mobilizações nas escolas por meio dos Grêmios Estudantis. Ela minimizou a desinformação dos estudantes. Sugeriu que em caso de dúvidas, procurassem mais dados com os educadores.
Paralisação continua hoje
A manifestação pelas ruas de Lajeado faz parte da greve nacional dos professores, organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores de Educação (CNTE). Dos 86 colégios estaduais da região, 21 paralisaram as atividades ontem.
A greve continua. Cada instituição de ensino define a programação do dia. Luzia informa que os três dias de paralisações serão recuperados em eventos escolares, com data a ser determinada pela direção dos educandários.
CRE promete qualificação
A responsável da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Marisa Bastos, avalia como positivo o protesto. Afirma que indiferentemente da mobilização, a CRE se esforça para qualificar a educação pública.
Cita os investimentos feitos nos últimos dois anos. Foram mais de R$ 11 milhões em reformas e construção de novas estruturas por meio do Projeto de Necessidade de Obras (PNO). Outra melhoria apontada por Marisa é o reajuste de 76% na manutenção do plano de carreira.
Sobre o Ensino Politécnico aponta que a falta de entendimento de escolas e professores gera insatisfação ao sistema. Para ela, o novo modelo qualifica o estudante ao mercado de trabalho. Destaca que o horário de aula é ampliado para manter o conteúdo básico.