Vale do Taquari – O trajeto da BR-386 entre as cidades de Lajeado e Estrela registrou quatro mortes por atropelamento em um ano. Três das vítimas têm mais de 60 anos e cruzavam a rodovia em pontos sinalizados, mesmo que de forma precária, com faixas de segurança. Há três passarelas distribuídas nesses seis quilômetros, mas a maioria dos pedestres ignora as estruturas.
O caso mais recente ocorreu na tarde desse sábado. Celson Andres, 78, de Lajeado, não conseguiu cruzar a rodovia nas imediações do acesso a Estrela. Foi atingido pela parte dianteira de um Vectra que trafegava em direção à capital. Arremessado ao valão que separa os dois sentidos da BR-386, o aposentado sofreu fraturas e teve morte instantânea.
Submetido ao teste do bafômetro, o motorista Claudimir Luís Schutze, do bairro Conservas, em Lajeado, foi flagrado com 0,29 miligramas de álcool por litro de ar expelido. Após receber voz de prisão em flagrante, pagou fiança e responderá em liberdade por homicídio culposo. Testemunhas afirmaram que o condutor – assim como outros veículos – tentou desviar da vítima.
Cerca de 500 metros distante do local do acidente há uma passarela. Ela foi construída para interligar os bairros Boa União e Imigrante, após o atropelamento de uma aluna da Escola Coronel Müssnich. A vítima sobreviveu e está tetraplégica. A manifestação popular pela passagem contrasta com o desprezo atual dos pedestres pela estrutura.
Irresponsabilidade
Para o chefe da 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Lajeado, Adão Vilmar Madril, falta responsabilidade para alguns pedestres, que insistem em desdenhar a utilidade das passarelas. “O pedestre pode, inclusive, causar acidentes. Nesse caso, ele será responsabilizado.”
Madril alerta para a dificuldade de cruzar as quatro vias da BR-386 em alguns trechos. Cita o aumento do limite de 60 para 80 quilômetros por hora como um agravante para quem insiste em atravessar fora das passarelas. “Muitos utilizam a sombra das estruturas para cruzar a via. A comodidade coloca em risco a vida dessas pessoas.”
Maioria das vítimas é idosa
Madril ressalta o perfil das vítimas mortas por atropelamento. “São pessoas com reflexo e mobilidade reduzidos. É preciso cuidado dobrado.” O último caso aconteceu em dezembro de 2012. A aposentada Maria Therezinha Becker Pelegrini, 74, morreu após ser atingida por um micro-ônibus, por volta das 19h.
Ela tentava atravessar a rodovia entre os bairros Americano e São Cristóvão, próximo da empresa Fruki, em Lajeado. No local existem paradas de ônibus e precárias faixas de segurança. Também há muitas empresas instaladas ao longo do trecho. É comum avistar dezenas de funcionários cruzando a via em horários de maior movimento.
Em abril do mesmo ano, outra idosa foi atropelada ao tentar atravessar a principal rodovia da região. Era véspera do feriado de Páscoa. Por volta das 15h30min, Eroci Dornelles, 65, foi atropelada por um Peugeot, quando tentava atravessar a BR, nas imediações da entrada de Estrela. Três horas depois, um ciclista morreu após ser atropelado no entroncamento da ERS-130 com a 386 em Lajeado.
Muretas para impedir passagem
No mesmo trecho, entre os quilômetros 344 e 349 da rodovia, ocorreram pelo menos outros quatro atropelamentos em 2012. Em todo o estado, foram 363 em rodovias federais, com 74 óbitos.
A Câmara de Vereadores de Estrela encaminhou ao Departamento Nacional de Infraestrutura e Trânsito (Dnit) pedido para construção de mureta próximo da passarela. A estrutura serviria para impedir a travessia de pedestres. Segundo Madril, existe um pré-projeto para a obra.
Conforme o Dnit, o trajeto que envolve a passarela entre os bairros Boa União e Imigrante pertence ao Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). No entanto, a regional do Daer afirma que o ponto pertence ao Dnit.
O mesmo pedido por muretas foi encaminhado por deputados estaduais ao departamento para separar as duas pistas de rolamento no trecho alargado da BR-386, entre os municípios de Canoas e Tabaí. A estrutura seria semelhante àquela na BR-116, de Canoas a Porto Alegre.
Duplicação não prevê passarelas
O projeto de duplicação de um trajeto de 33,5 quilômetros da BR-386 entre Tabaí e Estrela não prevê instalação de passarelas. Para o chefe da PRF, o fato é preocupante. “Existem muitos perímetros urbanos que necessitariam de passarelas. É um risco.” Tabaí e Fazenda Vilanova seriam as cidades mais prejudicadas.
A última construção ocorreu em 2000, em frente ao Shopping Lajeado, graças ao intermédio de empresários. Já a passarela que interliga os bairros Hidráulica e Alto do Parque foi construída originalmente há mais de 30 anos. Após a duplicação da BR-386 no trecho lajeadense, ela foi implodida e reconstruída no mesmo local. Hoje, uma estrutura semelhante custa em torno de R$ 1,5 milhão.