Vale do Taquari – A praça de pedágio de Marques de Souza foi alvo de protestos na noite dessa quinta-feira. Cerca de 300 manifestantes ligados aos movimentos da Via Campesina abriram as cancelas por mais 45 minutos na BR-386.
Integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e do Movimento Sem Terra (MST) cobram o fim das concessões cedidas pela Justiça no mês passado. Escolheram a praça por ter a taxa mais cara do estado.
Oito ônibus vindos de Porto Alegre, após uma série de reivindicações na capital, chegaram ao pedágio por volta das 21h45min. Até às 22h30min, mais de 200 veículos passaram sem pagar. Os manifestantes entregaram folhetos e adesivos justificando as reivindicações.
Ao chegarem no local do protesto, os agricultores danificaram as cancelas e algumas câmeras. Os camponeses se posicionaram nas laterais das cabines de cobrança pedindo para que os caminhoneiros passassem. Alguns estavam com os rostos cobertos.
“É de graça, aproveitem”, gritou um manifestante. A maioria dos motoristas buzinava em aprovação ao ato, enquanto outros, receosos, paravam em frente ao pedágio.
Funcionários da Sulvias observavam de longe o manifesto. Uma carreta de Florianópolis, transportando uma retroescavadeira, bateu num pilar e quebrou três eixos.
Um dos líderes do MPA no Vale do Taquari, Larry Röhrig, destaca que a ação é um repúdio ao Poder Judiciário, que prorrogou os contratos de concessão por mais seis meses. “Queremos chamar a atenção do estado para uma reflexão.”
Ressalta que a sociedade também deve se mobilizar e protestar contra os pedágios. “É um absurdo o valor que é pago aqui.” Agricultores de diversas regiões do estado participaram. O representante do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos, Carlos Alberto Litidamer, ressalta que a classe apoia a ação. Para ele, o governo deve assumir o quanto antes as rodovias.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi acionada pela Sulvias, mas eles chegaram na praça depois que o grupo havia se retirado. O chefe de operação da PRF, Leandro Wachholz, alega que a viatura disponível atendia outra ocorrência. Afirma que será feito levantamento para verificar danos.
Poucos minutos após a saída dos protestantes, a equipe da Univias colocou novas cancelas e retomou a cobrança.
Prejuízos
Conforme a coordenadora de Marketing, Gabriela Mendonça, a Univias faz o levantamento dos danos patrimoniais e da arrecadação. Afirma que a empresa pretende processar os responsáveis pedindo indenização.
Motoristas apoiam abertura das cancelas
Para o caminhoneiro Vanderlei Pereira, 42, de Santa Rosa, é uma vergonha o preço cobrado no pedágio. “Tem que protestar e destruir isso daqui.” Passa duas vezes por semana pelo local e paga R$ 26 por um caminhão de dois eixos.
O condutor de carreta Emerson de Matos, de Sananduva, alega que a taxa é um absurdo. “Pago R$ 52,80 por passagem, é mais caro que o diesel.” Destaca que se fosse cobrada a metade, seria mais justo. Apoia o protesto e pede atenção do governo.
A mesma opinião tem Vilmar da Silva, de Passo Fundo. “Tem que ocorrer mais vezes, pagar R$ 14 para passar de carro não é justo”. Segundo ele, pelos investimentos na rodovia, RS 5 seria o suficiente.
Protesto em outros pedágios
Pelo menos outros dois pontos tiveram manifestações dos agricultores, que obrigaram as concessionárias a levantarem as cancelas. Por volta das 17h, a praça de pedágio do Capão Seco, na BR-392 em Rio Grande, teve o tráfego no sentido Norte bloqueado por cerca de uma hora. Três horas depois, o KM 100 da BR-290, no pedágio de Eldorado do Sul, foi alvo de protestos que deixaram o trânsito lento na região.
Entre a manhã dessa terça-feira e a tarde dessa quinta-feira, os mesmos manifestantes participaram de um acampamento e de caminhadas na capital para marcar a luta pela reforma agrária. Por uma decisão judicial, a área localizada nas proximidades do Ministério da Fazenda, em Porto Alegre, onde os agricultores acampavam, precisou ser desocupada.
Paralisação pelo fortalecimento
Cerca de quatro mil famílias ligadas ao movimento da Via Campesina acamparam por três dias em frente ao pátio da Receita Federal e Incra, em Porto Alegre. Os manifestantes cobram investimentos estaduais e federais para a reestruturação das pequenas propriedades rurais.
Conforme um dos coordenadores estaduais do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Ivanildo Santos Vieira, mais de 70% dos produtores rurais gaúchos estão excluídos das linhas de crédito do Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
A situação faz com que os produtores desistam da atividade e migrem para os centros urbanos, em especial a juventude. Formam-se agronegócios que produzem alguma cultura em grande quantidade para a exportação, enquanto o país precisa importar alimentos da China, como no caso do feijão.
No ano passado, os organizadores da Via Campesina encaminharam ao governo federal uma proposta de organização dos pequenos empreendimentos rurais. Eles querem construir redes de agroindústrias familiares para incentivar os agricultores familiares e atrair desempregados da área urbana.
O alimento produzido por essas agroindústrias será repassado para programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e PEA. A meta é envolver 15.150 famílias camponesas até 2016.
Governo promete R$ 100 milhões
Encabeçado pelo MPA, o manifesto se estendeu até a tarde dessa quinta-feira. O término das ações foi motivado por decisão da Justiça, que concedeu reintegração da posse dos terrenos da União. Entendia que a aglomeração de pessoas violava a liberdade de locomoção dos funcionários da Receita Federal e Incra.
Além do acampamento, os manifestantes promoveram passeatas e um ato público diante do Palácio do Piratini, pedindo a aceleração da reforma agrária, mais escolas no interior e incentivo aos alimentos saudáveis.
Durante a mobilização, o governador Tarso Genro afirmou que o estado e a União elaboram um programa de investimentos de R$ 100 milhões às pequenas propriedades rurais. O valor será repassado pelo governo em dois anos, com o auxílio do BNDS.
“Essa é a melhor proposta para os camponeses na história”, classifica Vieira. Para ele, o recurso potencializará a produção familiar e aumentará a oferta de alimentos saudáveis à população brasileira.
Coordenador do MPA no Vale do Taquari, Larri Röhrig acredita que a proposta freará o êxodo rural na região, além de incentivar novos empreendimentos no campo.