Vale do Taquari – O telefone da Vigilância Sanitária de Teutônia recebeu centenas de ligações nos últimos dias. A maioria para denunciar possíveis focos da dengue. A mudança na rotina dos profissionais de saúde iniciou após a divulgação de que larvas do mosquito Aedes aegypti foram encontradas no município nessa sexta-feira.
Para agravar o momento de apreensão, um agricultor de 28 anos teve confirmada a presença do vírus. Ele foi internado na semana passada com suspeita de leptospirose. Como a doença não se confirmou, o médico desconfiou de dengue e solicitou exame. No entanto, o resultado positivo apontado no diagnóstico do Hospital Ouro Branco (HOB) é inconclusivo.
Outras doenças foram confirmadas nessa mesma análise. Um novo teste foi enviado ao Laboratório Central do Estado (Lacen) em Porto Alegre para confirmação. O resultado será divulgado nesta segunda-feira.
Morador de Linha Catarina, área rural do município, o homem recebeu alta do hospital nesse domingo, após quase uma semana internado. Ele passa bem e afirma estar tranquilo. Aparenta certo constrangimento com a repercussão do caso.
Contaminação ocorreu em Teutônia
A possível contaminação ocorreu no município, o que pode caracterizar o primeiro caso de autóctone na região que se tem registro. Isso porque o agricultor garante não ter viajado nas últimas semanas. Não esteve próximo da creche municipal na rua Albino Schneider, no bairro Teutônia, onde as larvas foram encontradas.
Outra moradora de Teutônia realizou o exame após apresentar sintomas da doença. A aposentada mora próximo da creche municipal, em uma rua paralela. O resultado negativo para dengue é inconclusivo. Uma amostra foi encaminhada para análise na Lacen.
Conforme o coordenador da Vigilância Sanitária de Teutônia, Nelson Cardoso, os resultados dos exames de sorologia realizados na capital chegam na próxima segunda-feira.
Mais 50 focos suspeitos
Desde segunda-feira, a equipe da vigilância realiza inspeção num raio de 300 metros do ponto focal, em todos os possíveis criadouros. Segundo Cardoso, 50 possíveis focos foram encontrados.
Nas proximidades da creche, há uma oficina, um cemitério, uma empresa de calçados e um campo de futebol. Na tarde de ontem, a reportagem flagrou vasos com água parada no cemitério evangélico. No local, inexiste placas orientando sobre o uso correto dos artefatos. Foram avistados pneus velhos largados sobre a calçada da rua Albino Schneider.
Cardoso é enfático. Para ele, a cidade só não se enquadra como área infestada por uma questão de “sorte”. Ele admite que o trabalho de monitoramento é insuficiente para controlar uma possível epidemia. “A suficiência do trabalho de prevenção depende da conscientização da comunidade.”
Segundo ele, são realizadas visitas domiciliares, em empresas e comércios para orientar os moradores e vistoriar possíveis focos. Afirma ser impossível averiguar todos os pontos só com os dois funcionários destinados para esse serviço. “Em algumas visitas não temos acessos às caixas de água. Em outras, os moradores estão fora.”
Para Cardoso, a comunidade não está levando a sério o risco e alarma para a possibilidade de uma epidemia. Ele faz um alerta. “Se alguns desses 50 pontos confirmarem a presença do Aedes aegypti, será quase impossível controlar a situação.”
O resultado dessas análises será divulgado no início da próxima semana. Estão sendo monitoradas 46 armadilhas e 23 pontos estratégicos na cidade. Muitos receberão larvicidas em breve.
Cinco focos e 15 larvas em Lajeado
Na mais populosa cidade do Vale do Taquari, há 147 pontos de monitoramento. Durante o último mês, foram encontrados cinco focos contendo 15 larvas do mosquito transmissor da dengue. Nenhuma pessoa foi diagnosticada com sintomas da doença até o momento.
Os focos estavam nos bairros Montanha (Rua Irmando Weischeimer), Americano (Praça do Papai Noel), Santo Antônio (Creche municipal), Jardim do Cedro (Rua João Francisco Schneider) e Bom Pastor (Rua Pedro Theobaldo Breitenbach).
Conforme o biólogo da Vigilância Sanitária do município, Fernando Diel, o alto número de focos é atípico na região. “Em 2012, houve apenas um caso no bairro São Cristóvão.” Se preocupa com o veranico de maio, quando o calor deve voltar à região e o risco de proliferação dos mosquitos aumenta.
Entrevista com agricultor de 28 anos, suspeito de contrair o vírus da dengue
A Hora– Como o senhor está?
Agricultor– Tranquilo, só prefiro não divulgar meu nome e nem ser fotografado. Depois os vizinhos vão falar.
A Hora– Quais foram os sintomas que o senhor sentiu?
Agricultor – Senti dores pelo corpo há umas duas semanas, dor muscular, cansaço e muita febre. Daí fui ser tratado para leptospirose. Como a febre persistiu, o médico pediu exame de outras doenças, inclusive dengue. Deu positivo para dengue e outras viroses como mononucleose. Esses múltiplos resultados podem ser em função da febre alta. Daí pediram outro exame que foi encaminhado para Porto Alegre.
A Hora – Você tem conhecimento de como o vírus da dengue se prolifera?
Agricultor– Sim, tenho conhecimento de anos anteriores, das campanhas. A gente vê no jornal né, tem que evitar água parada.
A Hora– Você está assustado com toda essa situação e com a repercussão do caso?
Agriculto r– Não, até porque estou bem, se era para complicar teria complicado. Fui bem tratado no hospital. O próprio médico acha que é leptospirose. Aqui não tem muito mosquito, mas no interior sempre temos muito contato com ratos. E não passei perto daquele local (Rua Albino Schneider) e nem lembro de ter sido picado por mosquito.