Vale do Taquari – Os Hospitais Filantrópicos e as Santas Casas da região aderiram ao movimento nacional pelo reajuste de 100% na tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimentos de baixa e média complexidade.
No Vale do Taquari, só o Hospital Bruno Born (HBB) decidiu manter o cronograma e realizar os procedimentos cirúrgicos agendados. Mesmo assim, a direção garante apoio à reivindicação.
A tabela de valores não é alterada desde 2002. Houve só uma atualização nos custos de procedimentos de alta complexidade. Segundo informações da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Rio Grande do Sul, a cada R$ 100 de custo, apenas R$ 65 são pagos pelo SUS e o restante é bancado pelas instituições.
O déficit dos hospitais gaúchos é próximo de R$ 1,2 bilhão. São R$ 300 milhões anuais. No Hospital Ouro Branco (HOB), de Teutônia, o prejuízo com o SUS foi superior a R$ 1,2 milhão em 2012. Nesse período, foram realizados 33 mil atendimentos e 1,8 mil internações.
Conforme o diretor do HOB, André Lagemann, quatro cirurgias de baixa e média complexidade foram remarcadas. Diz que todos os pacientes foram informados da mudança com antecedência.
Lagemann preside o Sindicato dos Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Vale do Taquari. Comenta que as instituições de menor porte são cada vez mais dependentes das administrações municipais – Teutônia, por exemplo, repassa 27% do orçamento para a saúde.
Espera que a campanha nacional sensibilize a presidente Dilma Rousseff. Segundo Lagemann, o governador Tarso Genro entregará documento de reivindicação em nome dos hospitais gaúchos. Afirma que os valores defasados são um desrespeito ao profissional da área médica. “Alguns médicos recebem R$ 10 por consulta. Paguei isso para cortar meu cabelo”, ironiza.
Hospitais menores paralisam atendimentos
O Hospital Estrela, de Estrela, bloqueou a agenda de ontem para procedimentos de média e baixa complexidade, mantendo apenas atendimentos de emergência. Conforme a direção, são realizadas, em média, cinco cirurgias via SUS por dia.
No Hospital Santa Terezinha, em Encantado, todos os atendimentos e cirurgias eletivas foram paralisados. Exames, ultrassom e tomografias foram os principais serviços suspensos.
O diretor Vagner dos Anjos vê como necessária a mobilização para sensibilizar o governo e aumentar os valores. Cita como exemplo os valores pagos pelo sistema para cesarianas. “Cobramos R$ 1,4 mil pelo procedimento e o SUS paga R$ 395.”
Menciona outros exemplos de defasagem, como a realização de exames ultrassom no abdômen. De acordo com Anjos, o SUS repassa R$ 37,90 por procedimentos que custam R$ 208. As consultas, orçadas em R$ 98 pelo hospital, são contempladas com apenas R$ 11.
Lamenta a situação do Centro Regional de Oftalmologia, fechado desde dezembro. Segundo Anjos, a entidade aguarda por reformas e está sem a renovação de contratos devido aos baixos custos repassados pelo SUS.
HBB estima déficit de R$ 21 milhões
A direção do HBB reuniu líderes municipais, autoridades e imprensa para divulgar os números e valores referentes aos atendimentos.
Segundo o presidente do HBB, Claudinei Fracaro, havia cirurgias marcadas há mais de três meses, que envolviam pacientes de outras cidades. “Não poderíamos desmarcar esses procedimentos. O principal prejudicado seria o paciente.”
Conforme o diretor administrativo, Élcio Callegaro, há uma dívida de R$ 21 milhões da União com o hospital. Informa que o HBB realiza, em média, 34 mil procedimentos pelo SUS todo mês, que geram um prejuízo de R$ 380 mil mensais. “Precisaríamos receber cerca de R$ 500 mil a mais todos os meses.”
Callegaro informa que a despesa com os serviços é 40% superior em relação à receita paga pela União. “De cada R$ 100 gastos, o SUS paga R$ 60. Os outros R$ 40 são por nossa conta.”
O HBB recebe por ano R$ 32,6 milhões do SUS para atender pacientes de todos 41 municípios da 16ª Coordenadoria de Saúde. Segundo a direção, o hospital aguarda outros R$ 3,6 milhões do estado, dívida acumulada desde 2011. A receita total do HBB em 2012 foi de R$ 6 milhões.
Saiba mais
Segundo informações da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Rio Grande do Sul, o aumento de 100% na tabela de valores do SUS representaria um acréscimo de R$ 6,8 bilhões no Orçamento da União, que hoje é de R$ 99,8 bi para a área da saúde em 2013.
O déficit dos hospitais gaúchos é de R$ 1,2 bilhão. A estimativa é de que o número cresça para R$ 1,5 bilhão e R$ 16 bilhões até o fim do ano. A maior parte é com o sistema financeiro, referente à concessão de empréstimos e o restante se divide entre fornecedores e dívidas tributárias.
As direções das casas de saúde remarcaram mais de 150 mil atendimentos em todo o Brasil. No Rio Grande do Sul, foram cerca de cinco mil. Além do reajuste, as entidades querem a anistia das dívidas relacionadas a tributos ou contribuições, transferência de dívidas com bancos privados para públicos e edição de linhas de crédito de longo prazo com juros subsidiados
As 245 entidades filantrópicas do estado respondem por mais de 75% do atendimento SUS à população. Contam com 22.977 leitos, sendo 15.590 destinados ao sistema. Os procedimentos via SUS representam quase 90% dos atendimentos da saúde. Mais de sete milhões de gaúchos possuem somente o SUS como sistema de saúde.