Vale do Sampaio – A divisão territorial da comunidade de Sampaio é peculiar. Com as emancipações políticas, a região ficou dividida entre cinco municípios: Mato Leitão, Santa Clara do Sul, Venâncio Aires, Cruzeiro do Sul e Sério. Formou-se um novo Vale dentro de outros dois maiores – Taquari e Rio Pardo – com uma população estimada em dois mil habitantes.
Cada município tem uma associação de agricultores que presta serviços para a região de Sampaio. Assim, a comunidade não fica refém das ações de uma administração municipal. Quando um Executivo não pode, o outro ajuda.
A aposta para o desenvolvimento do Vale está na diversificação das culturas e parcerias com cooperativas e associações para elevar a produtividade nas lavouras. Com isso, é possível garantir a permanência dos jovens nas propriedades. “O segredo é o cooperativismo”, destaca o técnico agrícola, Claudiomiro Oliveira, 42, da Emater de Mato Leitão.
Sampaio é um dos grandes polos produtores de leite, suínos, tabaco e grãos. A economia gerada é uma das principais fontes de arrecadações no setor primário dos municípios aos quais a região pertence.
Os produtores recebem o acompanhamento de técnicos, propiciando a profissionalização da atividade. O campo se torna mais rentável, motivando jovens a permanecer na lavoura, diferentemente do que ocorre em outras regiões. “Quem quer trabalhar aqui, tem emprego. A agricultura está consolidada”, observa Oliveira.
Segundo o técnico agrícola, a participação comunitária e a união são os diferenciais do Vale do Sampaio. Indiferentemente de qual município os moradores pertencem, todos se reúnem durante a realização de eventos ou nas confraternizações dos fins de semana.
Produção de leite motiva feira
Entre as diversas culturas no meio rural, a produção de leite é praticada na maioria das propriedades. Estes produtores, em parceria com associações, Emater, cooperativas e as administrações municipais de Mato Leitão, Santa Clara do Sul, Venâncio Aires e Cruzeiro do Sul realizam neste sábado e domingo a III Feira do Gado Leiteiro.
O evento ocorre na Assoessa. Entre as principais atividades está o concurso de terneiras e novilhas, em que 107 animais são apresentados por 42 produtores. Os três primeiros colocados de cada categoria, num total de seis, recebem premiação. O campeão de cada grupo participa da final, no domingo. Cerca de 15 expositores de máquinas e equipamentos ligados ao ramo leiteiro apresentam as novidades tecnológicas do setor.
Heitor Kerber, 54, registra a maior produção de leite do Vale do Sampaio, com dois mil litros por dia. Tem 80 vacas em lactação. Para a feira leva sete novilhas da raça holandês com o intuito de apresentar sua genética a outros produtores. Os animais foram preparados durante a semana com tosa e outros cuidados. “Não é uma disputa. Queremos ampliar nossos conhecimentos.”
Cooperativas e associações fazem a diferença
Na região que faz divisa com cinco municípios, atuam quatro associações de produtores e três cooperativas, duas no ramo de alimentos e uma na distribuição de energia elétrica. Oferecem assistência técnica, prestação de serviços, garantia de preço, compra do produto e acesso facilitado ao crédito para modernizar a infraestrutura das propriedade e elevar os índices de produção.
O produtor e presidente da Associação de Prestação de Serviços e Assistência Técnica do Vale do Sampaio (Apsat), Aloísio Heisler, 57, destaca que essas parcerias ajudam a diversificar a economia e reduzir os custos na lavoura.
Ressalta a atuação das cooperativas que influenciam os jovens a permanecer no meio rural. “A assistência técnica, aliada à diversificação e garantia de lucro, seduz os nossos filhos e os motiva para assumir nossos negócios.”
Destaca que as mais de 300 propriedades espalhadas no Vale do Sampaio são modelo de diversificação e sustentabilidade. Todos os agricultores trabalham com duas ou mais atividades, com destaque para o leite, suínos, fumo, grãos e aves.
Heisler cultiva dez hectares. Investe na produção de leite e suínos. Cita que a associação, que preside e neste ano completa 25 anos, tem 53 sócios. “Vale mais a pena contratar nossas máquinas do que fazer um financiamento bancário para comprar os equipamentos.” Os diferenciais do desenvolvimento da região são a diversificação, a assistência técnica e a sucessão rural.
A força dos jovens
A ideia de que o futuro está nos grandes centros urbanos não seduz mais jovens rurais do Vale do Sampaio. Uma realidade que contrasta com as demais regiões. Cristian Wildner, 13, deve seguir a profissão dos pais. No futuro, pretende assumir a gerência da propriedade de dez hectares que hoje produz em média 6,6 mil litros de leite por mês.
As melhorias na infraestrutura, logística, energia elétrica, internet, telefonia e parceria com cooperativas e associações motivam os jovens a continuar o trabalho dos pais. Gilberto, pai de Cristian, se orgulha da escolha do filho.
Segundo Wildner, o ideal para preparar um sucessor é começar cedo. Pede aos pais para levar seus filhos ainda pequenos à lavoura. Ensinar a dirigir um trator, a roçar, fazer com que tenham contato com a terra.
Cristian ajuda nas tarefas diárias desde os 8 anos. A rotina se inicia às 5h com a ordenha das vacas. “Não é exploração, é uma forma dele começar a gostar da profissão.” Ele sabe que o filho precisa estudar e que o conhecimento será o diferencial para obter sucesso no agronegócio.
Para ele, os pais precisam passar aos filhos atitudes positivas. O pessimismo fará com que busquem alternativas e migrem para a cidade. Outro ensinamento que deve ser passado aos filhos desde cedo é que a agricultura vive de ciclos com alta e baixa nos preços.