Santa Clara do Sul – A falta de interesse público em implantar projeto de erradicação de tuberculose e de sanidade nas propriedades rurais permite que a doença se espalhe no campo. Nos últimos dois anos, 51 animais foram abatidos.
A recorrência de casos atenta a Vigilância Sanitária para o risco de epidemia. Outra reclamação se refere à demora do Fundo Estadual de Sanidade Animal (Fundesa) em indenizar os produtores afetados e o baixo valor pago por animal condenado.
O caso mais recente na região ocorreu na propriedade de Darlei Henrique Dick, 30, em Nova Santa Cruz. Sete vacas leiteiras das raças holandesa e jersey foram condenadas no fim de março, após teste feito por um veterinário da Languiru. Segundo o produtor, o exame foi uma exigência do banco para que conseguisse financiar a compra de quatro novilhas que aumentariam o plantel para 16 animais.
A ideia de Dick era tornar o leite a principal fonte de lucro da família. O destaque é a criação de suínos. Ontem de manhã, o agricultor teve o sonho adiado. Mais da metade do rebanho foi transportada para um frigorífico sanitário de Marques de Souza, onde os animais foram sacrificados.
Perdas preocupam
Com o prejuízo aproximado de R$ 13 mil, o produtor cogita, inclusive, largar a atividade leiteira, caso o estado não repasse o dinheiro da indenização. A compra das quatro novilhas está descartada no momento.
Dick acredita que as vacas foram contaminadas de vizinhos. “Pode ter sido até pela água do arroio que passa pela comunidade”. Segundo ele, a fiscalização teria que ser mais rígida, em especial para evitar a venda clandestina de animais nas propriedades.
Cobra adesão dos municípios e produtores ao projeto de erradicação da brucelose e tuberculose. “Não adianta eu cuidar e o vizinho não.” Com a redução do plantel, a produção de leite caiu de quatro mil litros para 500 litros mensais.
O governo do estado estrutura um programa de informatização das propriedades rurais com cadastro de todos os animais e chipagem. Por meio da proposta – que é a extensão do projeto de Sanidade (Procetube) na Comarca de Arroio do Meio efetivado em outubro de 2010, a doença deve ser erradicada dos municípios.
Para uma cidade ou região começar o trabalho é necessário elaborar um plano de trabalho e fornecê-lo para a avaliação do comitê técnico do governo. Após aprovado, os municípios devem ter todas propriedades saneadas e 100% do rebanho testado a cada 90 ou 120 dias. A propriedade será considerada controlada quando apenas um animal testado de todo o rebanho apresentar resultado positivo.
Segundo o presidente da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari, Oreno Ardêmio Heineck, a proposta esbarra na dificuldade de contratar veterinários e demais profissionais para trabalhar no projeto. Heineck ressalta que é preciso montar uma parceria entre produtores, município e governo para tornar a proposta efetiva.
O principal agravante para as contaminações, segundo ele, é a falta de interesse do poder público. “É uma questão de saúde pública, que denigre a imagem da região.” A projeção é de que em oito anos todas as propriedades que criam bovinos para a produção de leite e carne no estado estejam certificadas.
Programa estadual é elaborado
Uma equipe composta por 70 técnicos da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Sapa) iniciou em março o Inquérito Epidemiológico de Prevalência de Tuberculose e Brucelose Bovina no Rio Grande do Sul. Coordenada pelo Departamento de Defesa Agropecuária (DDA), a ação pretende testar cerca de 11 mil animais em 1.065 propriedades.
As coletas serão finalizadas em junho, e o resultado divulgado no segundo semestre. O estado foi dividido em sete regiões. Em cada uma delas serão feitos 150 testes em propriedades a serem sorteadas. Os animais em que forem detectadas as doenças serão encaminhados ao abate sanitário e seus proprietários, indenizados. O investimento será de R$ 430 mil, numa parceria entre Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio e Defesa Sanitária Animal (Fundesa).
Diagnóstico será elaborado
Heineck afirma que não há atrasos no pagamento da indenização. Cita que problemas ocorriam na época de funcionamento do Fesa – fundo que deu lugar ao Fundesa em 2007. “Tem produtores que aguardam o dinheiro daquele programa. Agora, o processo é rápido.”
Para garantir o recebimento de recursos por meio do Fundesa, o agricultor deve solicitar a inspeção de um veterinário em sua propriedade. Depois da vistoria e abate dos animais, se condenados, deve ser encaminhada a documentação com todos os registros referentes aos laudos e testes para ao fundo. A partir daí serão feitas as avaliações dos dados.
Conforme o presidente do Fundesa, Rogério Jacob Kerber, em média o prazo é de 30 a 60 dias para o produtor receber o valor, que varia entre R$ 500 e R$ 1 mil por animal, de acordo com sua raça, registro e classificação.
Para produtores que aguardam pelo recebimento do recurso, Kerber diz que é possível acompanhar o processo pelo (51) 3212-6163 ou encaminhar um e-mail para fundesa@via-rs.net