Vale do Taquari – O maior investimento privado na região pode ser desfeito. A Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat) pede tempo para estudar a proposta de construção de uma usina térmica de R$ 250 milhões no município de Taquari. A empresa teria capacidade para transformar pelo menos 250 toneladas de lixo por dia em 20 megawatts de energia elétrica, capazes de abastecer 30 mil economias.
A Amvat se negou a assinar o termo de compromisso em que as cidades garantem o repasse da matéria-prima para a produção de energia. A entidade decidiu que antes é preciso analisar questões relacionadas ao grupo de investidores, como credibilidade e riscos contratuais.
Durante a reunião periódica do grupo realizada no início do mês em Colinas, o prefeito de Lajeado, Luís Fernando Schmidt (PT), destacou que é impossível firmar uma parceria sem ter a certeza do que é feito.
O vice-prefeito de Taquari, André Brito, acredita um jogo de interesses pode estar motivando a demora. Ressalta que se a proposta fosse analisada desde a primeira semana de gestão dos prefeitos, como foi proposto à Amvat, todas as dúvidas estariam esclarecidas. “A situação tornou-se incoerente. É muita enrolação.”
Brito cobra agilidade dos municípios. Em paralelo às negociações com a Amvat, a Administração Municipal de Taquari procura empresas particulares que tenham dificuldade de dar um destino correto para o lixo. “Temos que ter alternativas, mas é difícil. Vejo a região perder esse investimento.”
Um dos responsáveis pelas negociações e representante do grupo europeu Interjuvi & Associados, Marcelo Gularte enfatiza que a proposta é discutida com a entidade desde o ano passado.
Segundo ele, não há implicações contratuais na assinatura desse termo, mas a garantia da empresa em ter sua matéria-prima para a produção de energia – que é de no mínimo 250 toneladas de lixo por dia. “Se demorar mais, podemos desistir. Outras regiões querem o nosso investimento.”
Municípios que aderirem, segundo Gularte, terão redução nas despesas com lixo, sobretudo pela distância, pois hoje os resíduos são enviados a Minas do Leão. Taquari, por exemplo, deixa de gastar R$ 500 mil anuais em transporte.
Lixo é mandado a Minas do Leão
Dos 36 municípios do Vale, 27 enviam parte de seus resíduos para o aterro sanitário de Minas do Leão. São mais de 1,4 mil toneladas despachadas para a região carbonífera todos os meses. No local, inexiste triagem do lixo, que é de responsabilidade dos clientes. Por se tratar de uma antiga mina de carvão, o impacto ambiental é mínimo.
Inaugurada há dez anos, a área tem 294 hectares com capacidade para receber até 25 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Com licença ambiental renovada e vida útil aproximada de 23 anos, a unidade de Minas do Leão recebe lixo de 140 municípios do estado, entre eles Porto Alegre. São cerca de três mil toneladas diárias, o que representa 40% do lixo produzido no estado.
O aterro representa quase 80% do retorno de ICMS de Minas do Leão, empregando 70 funcionários residentes no município. É constante a reclamação de moradores de Vila Coreia, bairro vizinho, sob dores de cabeça, ânsia de vômito e mau cheiro em dias de chuva.
Saiba mais
Conforme a proposta, a usina será implantado numa área de cinco hectares, ao lado da subestação da Certaja Energia, próxima da rótula de acesso ao município. Ao redor da usina há a possibilidade de instalação de um polo industrial para que empresas possam se beneficiar com a reciclagem de materiais.
Será uma das maiores usinas do tipo no estado. Gularte informa que o processo de transformação de lixo em energia será feito por meio da gaseificação e não incineração dos agentes químicos. Conforme o profissional, o processo de geração de eletricidade a partir do lixo é uma grande opção para transformações e melhorias ambientais, sociais e econômicas.“Muito mais eficaz e menos poluente. Não produz odores, fumos ou degradação ambiental.”