Vale do Taquari – A ausência de equipamentos de pesagem nos postos da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) impossibilita o controle em veículos de carga nas estradas da região. Estudo do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) aponta que o sobrepeso reduz em 40% a vida útil do asfalto.
Sem balanças para comprovar o excesso, a fiscalização é facilmente burlado pelos caminhoneiros. No estado, dos 40 postos da PRE, apenas um tem aparelho de pesagem: na ERS-122, em Bom Princípio, no Vale do Caí.
Isso resume o controle à verificação de notas fiscais. O comandante da PRE no Vale do Taquari, capitão Samaroni Teixeira Zappe, ressalta que o modo é precário e lamenta a falta de investimentos públicos e privados para melhorar a fiscalização.
No Vale do Taquari, as principais rodovias são pedagiadas. Segundo ele, é dever das concessionárias oferecer os equipamentos. Mas conforme o capitão, nenhuma empresa demostrou interesse em ajudar no controle.
“Um veículo com excesso de peso ou da capacidade de tração pode não conseguir frear e ocasionar um acidente”, exemplifica Zappe, que também cita os problemas causados aos pavimentos, como desníveis e buracos.
O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) adianta que uma licitação será aberta para que empresas interessadas operem 15 balanças móveis em 60 locais diferentes. A promessa é de que os equipamentos comecem a operar até o fim do ano e auxiliem na conservação das estradas.
Conforme diagnóstico elaborado pelo Dnit em 2012, 77% dos caminhões trafegam com excesso de carga nas rodovias do país. E a consequência é grave: 10% de sobrepeso por eixo já compromete a pavimentação.
Univias alega que tem balanças
Conforme a gerente de Comunicação e Marketing da Univias, Gabriela Mendonça, a empresa oferece duas balanças fixas na BR-386 (Tabaí e Lajeado) e uma móvel para as todas as rodovias estaduais do Vale.
Gabriela afirma que faltam policiais para operar o equipamento e a concessionária não tem o que fazer. Reconhece que o excesso de peso é um dos principais motivos de buracos nas estradas.
Caminhoneiros confirmam o problema
O motorista Ademir Peres, 45, de Bento Gonçalves, foi abordado nessa quinta-feira durante uma fiscalização no posto da PRE em Teutônia. Peres transporta soja. Só com a nota fiscal os policiais não conseguiram constatar irregularidades.
Segundo o caminhoneiro, a transportadora para qual trabalha não permite que os caminhões trafeguem acima do peso. “Nas empresas onde descarregamos existem balanças. Se a carga estiver acima, eles não deixam descarregar.”
Peres conhece colegas de profissão que andam com sobrepeso no caminhão. “Quase não tem balanças no país e o pessoal não respeita.”
Décio Gonçalves, 52, de Arroio do Meio, transporta milho para várias cidades do país. Reconhece que a falta de equipamentos gera abusos da maioria dos caminhoneiros. “Nossa empresa não transporta com sobrepeso, mas conheço muita gente que carrega até 20 toneladas a mais da capacidade.”
Rodovias deterioradas
Uma das principais rodoviais da região, a ERS-130, sofre com a passagem de caminhões pesados. No trecho de Lajeado, diversos buracos e rachaduras geram insegurança aos motoristas. Nas margens do trecho existem empresas do ramo de transportes e indústrias que recebem dezenas de caminhões a cada dia.
O morador do bairro Montanhas, Ênio Andrade, 35, anda de bicicleta na rodovia. Diz que o asfalto chega a tremer quando carretas passam no local. “Qualquer um pode ver que os caminhões transportam mercadorias acima do peso.”
Entrevista com o comandante da PRE no Vale do Taquari, capitão Samaroni Teixeira Zappe
A Hora: Como ocorre a fiscalização de excesso de peso nas rodovias do Vale do Taquari?
Zappe: Com a verificação da nota fiscal, confrontando com as especificações
do veículo de carga.
O modelo tem sido eficiente?
Zappe: Esse modo é precário. Sabemos de algumas artimanhas dos caminhoneiros para passar pela fiscalização. A principal delas é a divisão da carga em mais de uma nota fiscal. Um exemplo é em cargas a granel, quando o caminhão tem capacidade para 30 toneladas. Para o valor excedente é feita outra nota. Na hora da abordagem, só apresentam o primeiro documento.
Com que frequência ocorrem autuações por excesso de peso no Vale?
Zappe: A frequência é baixa em virtude da falta de balança para poder fiscalizar. Nas ações verificando as notas fiscais em caminhões, em cargas que são divididas, por exemplo, não temos grandes problemas. A deficiência está nas cargas a granel, como areia, brita, grãos e outras.
O quanto a fiscalização é prejudicada pela falta de balanças?
Zappe: Dificulta, não impossibilita. Mas é complicado de trabalhar assim.
Quais problemas geram um caminhão que trafega com excesso de carga?
Zappe: São dois tipos de problema. O primeiro é o prejuízo direto nas rodovias, que acabam danificadas. As pontes e viadutos também ficam danificadas em função disso. O asfalto dura bem menos. O sistema de freio também é afetado e se ocorrer muitos excessos, o veículo pode ficar sem freios. Proporcionando mais chances do veículo se envolver em acidentes.
De quem é a responsabilidade de oferecer balanças?
Zappe: As principais rodoviais do Vale do Taquari tem pedágios. Cabe a concessionária providenciar o equipamento. Se o pavimento tem prejuízos, deveriam se interessar para resolver com o equipamento. Nenhuma concessionária procurou a PRE demostrando interesse em instalar as balanças.