Prostituição avança e comunidade reage

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Prostituição avança e comunidade reage

Mais de 200 moradores pedem interferência dos órgãos públicos para garantir sossego noturno. Travestis de diversas cidades e estados procuram clientes em Lajeado. Casos de algazarra, atos obscenos e discussões incomodam comerciantes e residentes do bairro Americano.

Lajeado – A família de Eugênio (nome fictício) volta para casa. Passam das 23h30min. No carro está o casal com a filha de 4 anos. Próximo da entrada para a garagem, em um condomínio na rua General Mallet, no bairro Americano, se deparam com um travesti que, ao ver o veículo se aproximar, mostra os seios.

pA cena provoca a curiosidade da criança, que pergunta: “Por que aquela mulher está pelada na rua?” Os pais ficam sem reação. Não sabem como explicar para ela o que acontece na frente de casa.

O constrangimento se alia às reclamações de consumo de drogas, perturbação do sossego noturno e sujeira nas ruas. Uma senhora, que mora próximo da esquina com a rua Expedicionários do Brasil, acorda e sente o cheiro de urina na calçada. Pega a mangueira e com uma vassoura limpa o chão.

Do outro lado da rua, no local onde fica o terreno cercado de um mercado, moradores afirmam que por vezes há fezes na calçada. Esse somatório de queixas está expresso em um abaixo-assinado, com cerca de 200 adesões, levado à câmara de vereadores.

A moradora mandou uma mensagem ao vereador Hugo Luis Vanzin (PMDB). Parte do texto foi lido pelo parlamentar na sessão da terça-feira passada. No relato, acusações graves de que menores serviriam como “mulas”, levando drogas para o consumo de alguns travestis.

Nas próximas semanas, o documento com as assinaturas será entregue ao Ministério Público (MP). Planejam se reunir com o prefeito Luís Fernando Schmidt.

BM estuda forma de agir

O principal ponto de prostituição em Lajeado fica entre as ruas General Mallet e Expedicionários do Brasil, próximo do acesso à cidade. A pouca iluminação garante discrição para os clientes.

Há cerca de dois anos, as esquinas da av. Benjamin Constant eram os locais ocupados pelos travestis e transexuais. Com a mudança no sentido do trânsito e a mobilização daqueles moradores, o ponto mudou para as proximidades da av. Senador Alberto Pasqualini.

Comandante da 1ª Companhia do 22° Batalhão da Polícia Militar (BPM), capitão Fabiano Henrique Dorneles desconhecia o abaixo-assinado. Diz que o documento legitima a ação policial. Afirma que há possibilidade da corporação interferir. Segundo ele, os travestis têm direitos, mas não podem exceder e causar problemas aos moradores.

Dorneles ressalta que na próxima semana, a Brigada Militar (BM) e setores da administração municipal analisam formas de abordar os travestis. O capitão propõe uma ação social, com participação da Secretaria Municipal de Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas), para catalogar os frequentadores das ruas. “Vamos propor alternativas.”

Para o comandante da companhia, é necessário dialogar com os travestis para impor limites. “Vamos conversar frente a frente, sem preconceito e com respeito a dignidade deles para resolver o problema.” Pela lei, a prostituição não é crime.

Os casos de prisão são de delitos como ato obsceno (com pena de detenção de três meses a um ano ou multa) ou importunação ofensiva ao pudor (que pela lei de Contravenções Penais pressupõe importunar alguém em local público, com pena de multa).

Município aprova ação com a BM

A presença dos travestis é diária, contam os moradores. A partir das 20h é possível encontrar algum pela rua. Enquanto famílias tomam chimarrão, acompanham a movimentação do ponto. De táxi chegam mais quatro. Arrumados como se estivessem indo para uma festa, alguns bebem e fumam.

A oferta por sexo na rua se estende até as 6h. A secretária de Trabalho, Habitação e Assistência Social, Arilene Maria Dalmoro, diz que não há como proibir os travestis de estarem nas ruas. Ela é favorável a elaborar um plano com a BM. Acredita que ao reunir diversos segmentos do Executivo, como Saúde, Educação e Assistência Social, é possível determinar uma forma de agir.

Segundo ela, os travestis estão fora dos critérios de atuação para projetos assistenciais. “São pessoas instruídas, que têm casas e renda.” Um dos travestis comenta a tentativa dos moradores de tirá-los da rua. “Se estão incomodados, então paguem nossas contas que paramos de nos prostituir.”

Vida arriscada

As preocupações dos profissionais do sexo são muitas. As doenças, em especial a Aids. Mas também os atos de violência. Sabrina, quando trabalhava em Passo Fundo, foi levada até um lixão. Se negava a fazer o programa naquele lugar. Ao tentar sair do carro, foi puxada pelos cabelos. O homem pegou a trava do volante e a agrediu. O caso foi parar na Polícia Civil.

De Ijuí, Carol também está há dois meses na cidade. Não sofreu agressão em Lajeado. Conta que o mais comum são ofensas. Alguns atiram garrafas contra os travestis. O mais grave que vivenciou na cidade foi uma ameaça de atropelamento.

Conta que houve vezes em que embarcou em um veículo e após problemas na negociação do programa, teve de desembarcar em locais distantes, em plena madrugada. “Daí temos de dar um jeito. Só com carona para voltar.”

Renda de R$ 6 mil por mês

Sabrina é natural de Ribeirão Preto, São Paulo. Está em Lajeado há dois meses. Conheceu o município depois de ter participado do Miss Transex em Porto Alegre. Assumiu a homossexualidade na adolescência.

Fez a primeira cirurgia aos 17 anos. Começou a trabalhar na rua dois anos depois. Confessa que não é agradável. “A gente faz pelo dinheiro.” Por mês, os programas rendem até R$ 6 mil. Essa condição de vida proporciona alguns luxos. Ela comprou seu primeiro carro e quer investir em um lugar para morar.

A carreira na prostituição tende a ser curta para os travestis. Sabrina conta histórias de alguns, que chegaram a uma certa idade e agora passam dificuldades para se manter. Exemplifica que muitos começam a usar drogas. “Quando a carreira acaba, as bixas estão lá, sem nada. Não têm carro nem dinheiro no banco. Faço isso para ter alguma coisa no futuro.”

Há uma semana em Lajeado, a transexual Gabriela, de Florianópolis, fez cinco programas no primeiro na quarta-feira da semana passada, das 22h até as 3h. O resultado foram R$ 500.

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