Vale do Taquari – A rigidez da Lei Seca deixa religiosos em alerta. Na tradição católica, instituída na Santa Ceia com a representação do vinho como sangue de Cristo, os padres costumam consumir a bebida. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) estuda alternativas.
O assunto será abordado na reunião da entidade marcada para o dia 26. Por enquanto, não há recomendação oficial para evitar que os sacerdotes sejam surpreendidos nas fiscalizações.
Padre da Paróquia São Gabriel Arcanjo, de Cruzeiro do Sul, Aldo José da Silveira prefere não arriscar. “Quando estou dirigindo, não bebo.” Ele chega a percorrer 50 quilômetros pelo interior do município nos fins de semana.
Nas celebrações, repassa o cálice para os ministros, equipe de liturgia e fiéis. Em média, são seis missas. O padre é favorável à lei, mesmo acreditando que em alguns casos ela possa ser exagerada. “Esse é o único jeito de reduzir os acidentes e conscientizar os motoristas.” Na religião, acredita que a mudança não interfere nas tradições cristãs.
O bispo da Diocese de Santa Cruz do Sul, Dom Canísio Klaus, recomenda aos padres para que sigam a legislação vigente. “Estudaremos isso nas reuniões entre bispos e padres. Por enquanto, cada um tem que se adequar ao que vale para todos.” Afirma que a restrição não influencia nas missas e que há alternativas para a celebração.
As opções apontadas pelos religiosos vão desde a substituição do vinho por suco de uva, essa pouco provável, até a redução da dose no cálice ou a imersão da hóstia na bebida durante o sacramento.
Frei critica radicalismo
Para o frei Gastão Zart, da Paróquia São Cristóvão, de Lajeado, a Lei Seca é exagerada. “Acho que tem de ter um mínimo de tolerância.” Cita como exemplo o fato de algumas pessoas ingerirem medicamentos com álcool, o que, de acordo com o religioso, pode aparecer no etilômetro e prejudicar o cidadão.
No que se refere à tradição cristã, o frei também vê dano. Diz que, quando Jesus instituiu a Santa Ceia com vinho, o suco não validaria a consagração. De acordo com o pároco, é necessária licença do bispo para celebrações com suco de uva.
Em média, Zart realiza cinco missas por semana. Todas na área urbana do município. Diz que o consumo da bebida é natural nas celebrações.