Vale do Taquari – O descuido e a imprudência com o maquinário são responsáveis pela maioria dos acidentes com mortes no meio rural. A modernização das propriedades rurais e a falta de treinamento no manuseio das máquinas são alguns motivos que impulsionam as tragédias. No Vale do Taquari, desde 1991, pelo menos oito pessoas morreram.
O último caso foi registrado nessa terça-feira, por volta das 6h, na localidade de Linha Orlando, em Marques de Souza. O agricultor Jurandir Giovanella, 48, teve a cabeça prensada contra a carroceria de um caminhão, enquanto ajudava a carregar suínos na propriedade da filha, Vanessa Huppes.
Havia outros sete familiares no momento do acidente. O grupo acabava de alojar os animais para o caminhão que os levaria ao abate. Jurandir ficou na carroceria para contar o número de suínos. Foi quando o motorista fechou a tampa hidráulica.
O irmão da vítima, Sérgio Giovanella, aponta que o incidente aconteceu por um descuido do motorista. “Ele poderia ter descido do caminhão e assim evitaria esta tragédia.” O corpo de Jurandir foi enterrado ontem no Cemitério Católico da comunidade a qual presidia há oito anos.
Na tarde desse sábado, outro acidente foi registrado na região. Um trator despencou de um precipício de 30 metros em Sério. O motorista Edimilson Machado, 19, caiu da máquina agrícola. Ele teve ferimentos leves.
O jovem dirigia sem habilitação e, conforme o dono do trator, Mario Candido, não tinha autorização para manuseá-lo. “Devido à imprudência e ao descuido, ele quase morreu.” Candido havia deixado o trator na borracharia onde o jovem trabalhava para consertar o pneu.
Conscientização previne acidentes
De cada dez acidentes que acontecem no meio rural, nove poderiam ser evitados, caso os agricultores seguissem as orientações e normas de segurança. O alerta é feito pelo engenheiro de Segurança da Emater de Porto Alegre, Antônio Braga Guimarães.
Destaca que com a imprudência é a principal causa dos acidentes que, muitas vezes, resultam na morte do envolvido. Outro fator apontado é a desinformação para manusear os novos maquinários. “Os agricultores nem sempre estão capacitados.”
Com o avanço da mecanização nas propriedades agrícolas, Guimarães teme aumento no número de acidentes. Para evitá-los, afirma que o agricultor precisa se conscientizar da importância de usar os equipamentos de segurança.
“O produtor precisa seguir as orientações”
Para o consultor de vendas de uma concessionária de Estrela, Jair Inácio Sulzbach, antes da entrega do maquinário, os produtores recebem explicações sobre os cuidados que devem ter para evitar acidentes na propriedade por um técnico em segurança. “Usar o cinto é fundamental, mas poucos seguem as orientações.”
Cita que a conscientização é o ponto-chave para que o agricultor mude sua forma de operar os tratores e outros implementos. Relata que recentemente em Roca Sales um produtor capotou um trator, e a carreta basculante caiu sobre o maquinário. O operador sofreu ferimentos leves, pois o teto de proteção aguentou todo peso da carreta sem oferecer risco ao condutor. “Se tivesse tirado, com certeza teria morrido.”
Por mês, a concessionária vende cerca de dez unidades. O valor varia entre R$ 90 mil a R$ 140 mil. Mais de 70% é financiado pelo programa Finame PSI, a um juro de 3% ao ano e prazo de pagamento de até 10 anos.
A cada quatro acidentes, um causa invalidez
Hoje, no estado, 39% dos agricultores sofreram algum tipo de acidente com máquina agrícola, sendo a maioria com tratores. Cerca de 54% dos acidentes fatais com tratores acontece por capotamento. A cada quatro acidentes, um causa a invalidez permanente do operador.
O agricultor João Gerhardt (foto acima), 70, de São Caetano, em Arroio do Meio, teve que amputar a perna direita em 2006, após prendê-la no eixo cardam do trator enquanto limpava a esterqueira. “Me descuidei e após o acidente fiquei inválido.”
Sem conseguir voltar ao trabalho na lavoura, foi obrigado a vender parte das terras. Ele e a mulher sobrevivem da aposentadoria. Para caminhar, utiliza uma perna mecânica.
Casos mais recentes
– Em março de 2009, a moradora de Arroio do Meio, Clair Schweizer, 50, morreu atropelada pelo trator que dirigia na propriedade da família, no Passo do Corvo. Ninguém viu o acidente. A sogra Erna Scweizer relata que correu para o local ao ver o veículo trafegando sem condutor.
Após a morte, a família teve de se desfazer de parte do gado pela falta de pessoas para ajudar na lida. A produção leiteira diminuiu.
– Em janeiro de 2010, o agricultor Írio Brandt, 67, transportava esterco com o trator. Ele capotou na barranca de um arroio em Colinas. Caiu na água e foi esmagado pelo veículo em seguida.
– Um ano depois, Ernani Bildhauer, 47, morreu em Linha 32, Arroio do Meio. Ele tombou com o trator em um perau de cerca de 50 metros. Foi encontrado por moradores cerca de dez horas depois do acidente.
– O agricultor Vital Antônio Acadoril, 57, capotou o trator enquanto carregava troncos de eucaliptos em Westfália. Conforme a Delegacia de Polícia de Teutônia, o maquinário estava sem cinto de segurança e teto de proteção.