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A tragédia em Santa Maria evidencia a preocupação quanto à segurança em casas de shows e boates. O incêndio, que vitimou 231 pessoas na madrugada desse domingo, foi a maior catástrofe do estado. Diante da repercussão mundial, surgem movimentos para intensificar a fiscalização em estabelecimentos que reúnem grande quantidade de pessoas.

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Rio Grande do Sul – Do governador Tarso Genro veio a promessa de uma investigação rápida e eficiente. Ontem, foi decretada a prisão dos empresários donos da boate e de integrantes da banda, que faziam apresentação no momento do incêndio. Segundo ele, agora é o momento de tomar providências para apurar as responsabilidades.

No Vale do Taquari, Fernanda Tischer, de Paverama, representa a dor das centenas de famílias, amigos e parentes das vítimas. Joel Berwanger, de Arroio do Meio, é um dos sobreviventes. Ele permanece internado no Hospital de Caridade em Santa Maria.

Estima-se que em torno de 1,5 mil pessoas estavam na festa. A maioria era estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O fogo começou pelas 2h45min, durante show da banda Gurizada Fandangueira.

Durante uma das músicas, o assistente de palco acionou um equipamento que emite faíscas, o que teria provocado o fogo. Pelo depoimento dos sobreviventes, em poucos minutos a chama se espalhou pelo teto, que era todo revestido de espuma para isolar a acústica do ambiente.

Havia apenas uma saída, com cerca de dois metros de largura. A fumaça negra se espalhou rapidamente pela boate. A maior parte das vítimas, cerca de 90%, conforme informações do Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, morreu por asfixia.

vFoi acionada a coordenação da Força Nacional do SUS para preparar as equipes médicas, leitos e suprimentos para atendimento das vítimas. A estrutura teve também equipes da Força Nacional de Segurança e da Polícia Federal.

Aviões e helicópteros ajudavam no translado dos sobreviventes do município a Porto Alegre. Até a tarde de ontem, 121 feridos permaneciam internados. Os mortos foram levados para o Centro Desportivo Municipal e ao longo do domingo eram identificados.

A festa “Agromerados” foi organizada por estudantes de Agronomia, Medicina, Veterinária, Zootecnia, técnico em Agronegócio, em Alimentos e Pedagogia da UFSM. O evento teve participação de duas bandas e três Dj’s.

Sonhos desfeitos aos 21 anos. Pastor chora no enterro

O desejo de se profissionalizar para ajudar a família na produção de leite foi preponderante na escolha de Fernanda Tischer, 21, pelo curso de Medicina Veterinária. Natural de Paverama, ela está entre as vítimas do desastre na Boate Kiss. Ontem, centenas de pessoas acompanharam o velório em Linha Santana.

Nesse domingo, por mais de 6h, os familiares ficaram sem saber do paradeiro da jovem. A mãe, Diana Beatriz Höerle Tischer, 45, foi informada do desaparecimento de Fernanda às 8h. Após diversas ligações para o celular da filha, sem conseguir resposta, decidiu ir para Santa Maria.

Ao chegar na cidade, a primeira parada foi no apartamento onde Fernanda pernoitava. O local estava vazio. Procurou nos hospitais da cidade, e o nome da filha não estava na lista de atendidos, aumentando o desespero de Diana.

Mesmo com as evidências desfavoráveis, ela mantinha a esperança de que a filha pudesse estar viva. O triste desfecho ocorreu às 14h30min, quando Irineu Barcelos, 44, a identificou em meio aos mortos. A jovem era o número 77, em um espaço onde outras cem vítimas.

Com a mãe em estado de choque, Barcelos assumiu o compromisso de procurar a sobrinha no local onde estavam os mortos. Esperou por mais de uma hora na fila de identificação. A entrada no ginásio era feita em grupo de dez pessoas, um representante por família.

Diana se recorda de poucas coisas após a confirmação da morte de Fernanda. Lembra do momento que viu o corpo. “Tinha uma pequena queimadura no rosto, e os cabelos estavam pretos por causa da fumaça.”

A última vez que conversou com a filha foi na noite de sexta-feira. A estudante estava entusiasmada com o aprendizado no curso. A paixão pelos animais motivava Fernanda. Conforme a mãe, com 12 anos, a jovem vacinava o gado e ajudava na propriedade. Aos 15 ajudou a parir um bezerro. “Esse dom estava com ela.”

Comoção entre colegas de curso

Um grupo de estudantes de Santa Maria deu o adeus à colega. A estudante Franciele Gusatto, 20, foi uma das sobreviventes do incêndio. Lembra que viu Fernanda pela última vez à meia-noite. “Ela estava longe da porta, talvez por isso não tenha conseguido sair”, lamenta.

Relembra a dedicação de Fernanda. Aluna exemplar, tinha no histórico boas notas. Fernanda era estagiária na TechVet Júnior, onde atuava no setor de Relações Públicas.

Em meio a tragédia, um alívio

Faltavam 15 minutos para as 5h, quando o telefone da família Berwanger de Forqueta, Arroio do Meio, tocou. Ao ver a chamada, José e Gladis se desesperaram. O telefonema tinha o prefixo (55)de Santa Maria, cidade onde o filho Joel, 18, cursa Agronomia.

O pai relata que foram minutos tensos até que ele telefonou de novo. Na ligação que durou menos de 5 minutos, Joel informou que havia acontecido um incêndio grave e muitas pessoas estavam feridas. Ele tinha inalado fumaça, queimou os braços e as costas, mas passava bem. “Nasci de novo,” acredita Joel. Ele estava no banheiro, próximo da porta de saída, no momento do incêndio. Ao ver a fumaça, tirou a camisa para proteger os olhos e o nariz. Conseguiu sair do local em poucos minutos e desmaiou na rua.

Quando acordou, duas pessoas desconhecidas prestavam os primeiros socorros. Classifica o momento como uma “cena de guerra”. “Havia pessoas sangrando e morrendo do meu lado.” Nove colegas de curso estão entre as vítimas do incêndio.

Joel foi medicado no Hospital de Caridade. Gladis se deslocou a Santa Maria para acompanhar a recuperação do filho, enquanto que o pai e a irmã Denise mantiveram contato por telefone. José lembra que nas primeiras 24 horas após o acidente, a família recebeu mais de 50 ligações de amigos e parentes. A irmã Débora, que está na Alemanha, ficou sabendo da tragédia pelos noticiários. “Ela ligou desesperada.”

Conforme o pai, após os momentos de pavor, a sensação agora é de alívio. Conta que o filho é um aluno exemplar e lembrado pela inteligência que lhe rendeu a 10° posição no vestibular da Universidade Federal de Santa Maria. Ele deve retornar à casa dos pais hoje.

“As cenas foram de um filme de terror”

A estudante Aléxia Blau Miotto, 20, de Lajeado, visitava a amiga Lidia Lis Tomasi, acadêmica do curso de Fonoaudiologia, na sexta-feira. No sábado, as duas participaram da festa organizada por várias turmas da universidade. Aléxia conta que quando notou o sinistro, entrou em pânico e começou a correr para a porta. “Foram momentos de pavor e medo. Em segundos tudo ficou cheio de fumaça preta. As pessoas gritavam, pediam socorro e desmaiavam. O que vi foram cenas de um filme de terror.”

A lajeadense diz que ela e as amigas conseguiram sair. Pessoas que Aléxia conheceu durante a estadia estão entre os mortos.

Lidia relembra que viveu momentos de terror até conseguir sair da boate. Ela e as amigas estavam perto do palco quando um integrante da banda começou a balançar um sinalizador. As faíscas chegaram ao teto e iniciou o fogo. Destaca que as pessoas começaram a gritar e correr para a saída.

“Apenas queria que todos saíssem bem de lá. Infelizmente não foi o que aconteceu. Foi uma noite de momentos terríveis, de angústia e pavor. Quero pensar que não passou de um pesadelo.” Lidia relata que tinha tinha gente caindo no chão no meio do caminho. Muitos dos meus amigos morreram lá dentro.

Casal de ex-moradores de Encantado morre abraçado

Entre os mortos, está o casal Rosane Fernandes Rehermann, 44, e Luís Antônio Xisto, 45. Ela, natural de Uruguaiana, morou por sete anos em Encantado, no Vale do Taquari, onde atuava no Fórum. Há cerca de cinco anos se mudou para Santa Maria, recebendo transferência do emprego e passando a trabalhar como escrivã no Poder Judiciário.

Eles estavam casados dede 2009. Xisto, seu segundo marido, era natural de Santa Maria. Ele cursava Medicina Veterinária. Os corpos foram encontrados abraçados no interior da boate. A identificação foi feita pela filha de Rosane, que estuda na UFSM.

A vítima deixa outro filho de 16 anos. O sepultamento ocorreu na manhã de ontem, em Uruguaiana. Xisto foi enterrado no sítio onde morava em Santa Maria.

Amigos encantadenses, como o casal Gildo e Sônia Buffon Bagatini, foram ao velório. Sônia conhecia a vítima há 15 anos. Tinha visto a amiga há menos de 15 dias, quando ela esteve na cidade para uma formatura. “Ainda não acredito que ela morreu. Era tão cheia de vida e alegre.”

Horrorizada com as cenas vistas, a filha de Rosana descreve a dor que sentiu entre tantos corpos e famílias desoladas. “Parecia um massacre, pior do que uma guerra. Nunca mais quero ver isso na minha vida.” Com filhas de 25 e 19 anos, ela conta que não se conteve ao ver as mães desesperadas à procura de seus filhos.

Depois de passar a noite junto ao local onde eram veladas dezenas de corpos, a estudante do técnico de Enfermagem ficou chocada com a quantidade de jovens aglomerados no ginásio à espera de identificação. “A cidade toda está morta e entristecida”, resume.

Outra cena que lhe chamou atenção foi a mobilização das pessoas, a atuação dos profissionais e voluntários, diante do auxílio prestado às famílias.

Bombeiros garantem fiscalização efetiva em Lajeado

Auxiliar do comando de atendimento e análise técnica do Corpo de Bombeiros de Lajeado, soldado Jonatan Ramon Santos Pereira, afirma que a instituição do município faz avaliações anuais nas casas de shows.

Para novos estabelecimentos, realça que o empreendedor precisa apresentar o projeto. Após análise dos bombeiros, são delimitadas as necessidades de adequações. Com os ajustes, é emitido um certificado de conformidade, permitindo o funcionamento do espaço.

Diante de eventos com shows pirotécnicos em locais fechados, Pereira condiciona: “Por lei não pode. Mas os bombeiros não têm condições de estar durante o evento orientando o dono do local ou as apresentações sobre suas responsabilidades”.

Segundo ele, os locais de festas em Lajeado apresentam boas condições de segurança. Atribui a isso a relação de parceria com o Executivo e Ministério Público. Conforme o soldado, na emissão de alvarás do município é cobrado o laudo do Corpo de Bombeiros.

“Em Lajeado, o incidente não ocorreria”

Pela norma nacional, instituída em 1997, são especificados os modelos de prédios para recebimento de público. Constam na legislação a necessidade de saídas de emergência, extintores de incêndio, e capacidade máxima comportada.

De acordo com Pereira, nesse último item é calculado duas pessoas por metro quadrado. Logo, um local de 500 metros, pode receber mil pessoas. Na boate Kiss, de Santa Maria, o local tem cerca de 600 metros quadrados, que resulta em uma capacidade máxima de aproximadamente 1,2 mil pessoas.

Sobre a interdição de estabelecimentos com alvará vencido, o bombeiro conta que há um prazo de 30 dias para a adequação. Depois disso, é feita nova fiscalização no local. Caso o proprietário não procure os órgãos de segurança para a prorrogação do documento, é feita uma advertência.

Nesse processo, o estabelecimento pode continuar em funcionamento, sob responsabilidade do proprietário do espaço. Em Lajeado, quando um estabelecimento é multado por duas vezes, o MP é acionado. “Pela fiscalização no município, um incidente como o de Santa Maria não iria ocorrer.”

Segundo ele, os empresários da região seguem as diretrizes impostas pela legislação para evitar incidentes. Comenta que, quando os bombeiros pedem adequações nos espaços, os donos costumam atender as reivindicações.

Planos de segurança são seguidos

Três donos de casas noturnas e clube de Lajeado, que têm proposta semelhante à da Boate Kiss, garantem que a tragédia de Santa Maria não se repetiria aqui. A afirmação dos donos do Country Clube, Sprits e Django Promoções é amparada na rigidez, elaboração e manutenção dos planos de segurança das estruturas.

Ivair Giovanella, proprietário do Country Clube, às margens da BR-386, no bairro Olarias, em Lajeado, destaca que nos últimos anos investiu cerca de R$ 32 mil em equipamentos de segurança.

Foram instaladas portas e janelas de emergência, aumentada a largura da porta de entrada e saída, instalado hidrante e aumentado o número de extintores. Outra medida que está sendo providenciada é a colocação de roletas para controlar a entrada de pessoas no clube para evitar a superlotação. O investimento será de R$ 19 mil.

A capacidade autorizada é de 1,5 mil pessoas em um espaço de mil metros quadrados. “Até chegamos a trancar a entrada para evitar a superlotação. O investimento que fizemos é alto, mas é fundamental para evitar tragédias e oferecer total segurança aos nossos frequentadores para que possam se divertir sem riscos.”

“No país, 90% das casas apresenta irregularidades”

O proprietário da Sprits, Renato Breunig, destaca que o local tem três saídas de emergência, mas há porta, extintores, luzes de emergência, luzes nos degraus, hidrantes, ligações de água com 30 mil litros espalhados por toda estrutura e entrada para deficientes físicos. “A nossa estrutura de segurança é uma das mais modernas do país. Se for feita uma fiscalização, 90% das casas apresentará irregularidades.”

Com capacidade para receber mil pessoas, Breunig diz que a entrada e o sistema de comandas são informatizadas. “Isso evita superlotação e, em casos de emergência, as pessoas podem sair que a despesa estará registrada nos computadores e pode ser quitada depois.” O alvará de funcionamento é atualizado anualmente.

Temos que reduzir os riscos”

O promotor de eventos, Luiz Antônio Heissler, o Django, comenta que a tragédia faz com que a atenção e os cuidados sejam redobrados. Segundo ele, ao alugar casas noturnas e clubes é feita uma vistoria para avaliar a segurança do local. É analisada a estrutura, extintores, acessos, portas de emergência e outros itens.

Django diz que nunca permitiu a cobrança por comandas. Observa que isso dificulta a saída das pessoas e, em caso de emergência, pode ser determinante para evitar o pior. “Temos que reduzir os riscos. São muitas vidas em jogo. Agora olharei com mais cuidado. Como promotor me imaginei nessa situação. Seria irreparável. Não há volta e nem adianta pedir perdão.”

Vale reforça atenção em boates e casas noturnas

Para evitar que acidentes como esse se repitam, autoridades da região organizam a revisão preventiva dos alvarás de funcionamento. Promotor de Justiça do Ministério Público (MP) de Lajeado, Neidemar José Fachinetto, relata que o Corpo de Bombeiros será convocado para rever a segurança das casas noturnas.

De acordo com ele, a fiscalização em Lajeado é satisfatória. Avalia que, pelo fato de as boates locais serem construções recentes, estão de acordo com as normas de segurança. “Não há motivo para pânico.”

Sobre os alvarás, Fachinetto relata que no período de renovação é permitido por lei a continuidade do funcionamento da empresa. “Temos de ter um cuidado maior com os estabelecimentos sem documentação.”

Em Lajeado, toda liberação para casas de espetáculos depende de laudo do Corpo de Bombeiros, que avalia aspectos relacionados a saída de emergência e prevenção de incêndios. Quanto ao isolamento acústico, esse é estabelecido por avaliação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Com a proximidade do carnaval, o promotor atesta que o MP, junto com os demais órgãos de segurança, intensificará a fiscalização nas casas de shows.

“Tragédia despertou para essa situação”

Na manhã de ontem, o prefeito em exercício, Vilson Jacques se reuniu a equipe de governo para tratar formas de intensificar o rigor na fiscalização de boates e casas de shows. Com os secretários da Fazenda, Planejamento e Administração, Jacques pediu um levantamento sobre as casas noturnas do município e a relação dos alvarás de funcionamento.

Conforme o governo municipal, o intuito é de trabalhar de forma conjunta, ao lado das autoridades de fiscalização, MP e donos de estabelecimentos para garantir segurança aos frequentadores das festas.

De acordo com Jacques, está marcada para quarta-feira uma reunião com integrantes da administração municipal e com o comando do Corpo de Bombeiros. Relata que serão avaliadas a situação dos alvarás de funcionamento dos estabelecimentos, com atenção especial para os documentos provisórios. “A tragédia despertou para essa situação.”

Falta legislação nacional

No país não há uma lei geral que especifique a estrutura que cada estabelecimento deve ter para prevenção de incêndios. As leis estaduais existentes são baseadas em apontamentos como da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). A fiscalização de prédios residenciais ou comércio e a concessão de alvarás são de responsabilidade dos bombeiros e das administrações municipais.

As regras de plano de prevenção variam de acordo com o tipo de uso do imóvel, tamanho da área construída e a previsão de ocupação populacional. Locais com área inferior a 800 metros quadrados, precisam ter extintores, pessoal treinado para usá-los, sinalização de saída, luzes de emergência e saída de emergência, sem nenhum tipo de obstrução.

O que dizem as normas:

• O uso de recursos pirotécnicos dentro de casas noturnas são proibidos

• O Plano de Prevenção e Controle de Incêndios (PPCI) deve estar em dia. O funcionamento costuma ser permitido enquanto a empresa espera nova fiscalização.

• A norma ABNT, um dos parâmetro observados na lei estadual, estabelece que locais como boates e clubes noturnos devem ter duas saídas, mesmo com que a porta principal seja de grande porte.

• O alvará do estabelecimento especifica sua capacidade máxima.

• É obrigatória a instalação de luzes de emergência. Elas devem ter uma bateria autônoma e capacidade de funcionamento de uma hora.

• Para um estabelecimento como a boate Kiss, a legislação exige, pelo menos, quatro pessoas treinadas e habilitadas para usar extintores.

• O revestimento acústico deve ser com espuma especial, que não propague chamas e que derreta rapidamente ao ser aquecida.

• A regulamentação que estipula regras para prevenção de incêndios existe desde 1997 e é válida, praticamente para todos os municípios. A exceção é Porto Alegre, que instituiu sua própria lei, um ano depois. Hoje, na capital gaúcha são 25 mil PPCIs, entre estabelecimentos comerciais e prédios residenciais.

• Pela lei de Porto Alegre, as indicações de “saída” devem ter luz permanente, enquanto que na estadual elas podem funcionar com um sistema que capta e armazena luminosidade. Neste caso, se funcionam em locais com pouca iluminação, não conseguem ter energia suficiente para permanecer iluminadas.

• As regras de plano de prevenção variam de acordo com o tipo de uso do imóvel, tamanho da área construída e a previsão de ocupação populacional. Locais com área inferior a 800 metros quadrados, precisam ter extintores e pessoal treinado para usá-los, sinalização de saída, luzes de emergência e saída de emergência.

Boates são indicadas com grau oito de risco de incêndio que varia de um a 12. O índice é considerado médio. Este tipo de estabelecimento recebe vistorias para renovação de alvarás anualmente.

Morte por asfixia leva de três a quatro minutos

O médico especialista em Pneumologia, Claudio Klein, cita que quando ocorre um dano nos pulmões, inicia-se um processo inflamatório que causa inchaço nos órgãos internos, situação grave e de risco à vida.

Conforme Klein, para ocorrer a respiração, o oxigênio que está no ar deve entrar nos pulmões até os alvéolos e cruzar uma fina barreira e delicada para a circulação e assim ser entregue para o aproveitamento de todas as células do organismo, e no caminho inverso, ser liberado o gás carbônico do sangue para os alvéolos pulmonares e quando é soltado o ar, é liberado este gás. “Qualquer situação que prejudique este processo causa asfixia e em poucos minutos a morte.”

No caso registrado em Santa Maria, destaca que a superlotação do local contribuiu para elevar o número de mortes. Destaca que o cérebro é a área mais delicada e que mais rapidamente sofre com a falta de oxigênio. “Sem ele, em questão de 3 a 4 minutos em média começa a ocorrer morte celular, ou seja, danos irreversíveis.”

O médico diz que, além do fator tóxico, outro agravante é o calor. A fumaça quente aumenta os danos nas vias respiratórias. Observa que os sobreviventes que não foram hospitalizados devem ficar atentos com os sinais de irritação. Essas pessoas podem desenvolver, em até cinco dias, doenças perigosas como a bronquiolite e a pneumonia.

Como ocorre a morte por asfixia

• A fumaça reduz o oxigênio. Ao respirar, as vítimas absorvem monóxido de carbono.

• No organismo, ao chegar nas vias respiratórias (aéreas nasais, faringe e pulmão) provoca tosse. Diante da sensação de falta de ar, a respiração fica rápida e ofegante, o que aumenta a inalação de fumaça.

• Com a falta de oxigênio, a pessoa começa a sentir tontura e sonolência. Em até três minutos provoca desmaio.

Em seguida, alguns minutos depois, a morte cerebral causa parada cardíaca.

Polícia pede prisão de quatro suspeitos

O dono do estabelecimento, Elissandro Spohr, o sócio, Mauro Hoffmann e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira foram presos provisoriamente. Os advogados dos empresários, se pronunciou sobre o incidente, classificando como “uma fatalidade”.

Na tarde de ontem, Hoffmann, que estava desaparecido desde a tarde de domingo, compareceu na delegacia para prestar depoimento. Ele foi levado para a Penitenciária Estadual de Santa Maria, no distrito de Santo Antão.

Quanto à Spohr, ele está internado no Hospital Santa Lúcia, em Cruz Alta, sob custódia da polícia. Os integrantes da banda, um músico e o auxiliar de palco, foram presos nos municípios de Mata e em São Pedro do Sul. A polícia também cumpriu mandados de busca e apreensão.

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