Vale do Taquari – A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) começa uma campanha para conscientizar pais, cuidadores e professores dos riscos que os andadores causam às crianças.
O grupo busca apoio para restringir o uso e fabricação dos aparelhos no país. A ação motiva o vereador lajeadense, Sérgio Kniphoff, que lança projeto para proibir o equipamento em todas as creches da cidade.
A campanha nacional começou em 2005, após um bebê de 9 meses morrer ao cair, com o andador, de uma escadaria com dez degraus, na Bahia. Com o acidente, teve fratura cervical.
Segundo a médica pediatra Renata Waksman, que coordena o Departamento Científico de Segurança da SBP, inexistem benefícios para a utilização dos aparelhos.
Observa que uma criança com 1 ano de idade consegue se deslocar mais de um metro por segundo com o andador e assim se desvencilha da atenção dos adultos, podendo se acidentar. Um dos ferimentos mais comuns, que pode causar a morte, é traumatismo craniano devido a impacto com objetos.
Riscos
Outro malefício apontado pela médica é que com o uso contínuo do aparelho, a criança deixa de estimular certos músculos, atrasando o desenvolvimento e, em consequência, os primeiros passos.
A partir dos 7 meses de idade, observa Renata, a criança necessita de espaço para desenvolver sua capacidade de locomoção. Mas é neste período que pais e cuidadores costumam iniciar o trabalho com o andador. “Se não aprender da maneira tradicional, rolando e engatinhando, atrasará o processo.”
A associação busca apoio dos demais pediatras do país para agrupar informações sobre traumas ocorridos, para que estes números cheguem até a comunidade, reforçando os riscos.
Como exemplo, cita casos registrados nos Estados Unidos. A cada mil crianças com menos de 1 ano de idade, que são vítimas de acidentes domésticos, dez são provocados por andadores. Não há dados brasileiros, mas a realidade americana é semelhante a nacional.
Renata cita que em alguns países, como no Canadá, o uso dos aparelhos foi proibido após mortes acidentais.
Vereador pede proibição
O médico pediatra e vereador de Lajeado, Sérgio Kniphoff, elabora um projeto de lei para proibir o uso dos aparelhos nas creches da cidade. A proposta será discutida pelo plenário nesta terça-feira. Se aprovada, a norma entra em vigor no dia seguinte.
Pelo projeto, Kniphoff destaca os riscos consideráveis e total falta de evidência dos benefícios associados aos andadores. Reforça que entidades voltadas para a atenção à saúde da criança desejam proibir a fabricação, venda e uso dos aparelhos. “Todo pediatra sabe que é um equipamento que só traz prejuízos. É inútil e perigoso.”
Kniphoff cita que a maioria dos pais, cuidadores e professores têm a falsa impressão de que o andador manterá o bebê em segurança enquanto executam outras tarefas, ou ajudará a criança aprender a andar.
Enfatiza que se usado por muito tempo, a criança se torna mais insegura no momento em que precisa se locomover sem qualquer apoio, demorando mais tempo para andar sozinha.
Cita que após a morte de um bebê de 10 meses, que estava usando um andador, em 2009, a cidade de Passo Fundo passou a seguir recomendação do Ministério Público (MP) e proibiu que o equipamento fosse usado em órgãos públicos do município.
Observa que para a Aliança Europeia de Segurança Infantil, andadores não ajudam os bebês a aprender a andar e não têm nenhuma função benéfica, mas prejudicam o seu desenvolvimento motor, pois precisam passar pelas fases de rolar, sentar, engatinhar e brincar no chão.
Opinião de profissionais
“A criança, a partir dos 6 meses de idade deve, de maneira natural, ir para o chão para começar a explorar o mundo e se desenvolver. O uso do andador, além de atrapalhar e retardar o desenvolvimento, oferece o risco de acidentes graves com traumatismo craniano e face. É importante a mobilização da SBP, cabendo a nós divulgarmos e orientarmos pais e familiares sobre os malefícios do andador.”
João Paulo Weiand – pediatra
“Concordo com a proibição. Andadores são perigosos e atrasam o desenvolvimento do deambular e o equilíbrio da criança. As pessoas leigas não têm conhecimento dos riscos que existem quando adquirem um andador e colocam seu bebê nele. Cabe a nós profissionais da área alertarmos e nosso governo a tomar posição da mesma forma que as leis regem a venda de brinquedos perigosos e produtos de higiene inadequados.”
Suzana E. de Borba – pediatra
Para mãe, equipamento é benéfico
Se a criança for monitorada pelos responsáveis e os riscos de acidentes com quedas e colisões forem obstruídos, o uso do aparelho é positivo, na opinião da mãe Daniela Verruck, de Conventos, em Lajeado.
Seus filhos gêmeos, prestes a completar 1 ano de idade, começaram a utilizar o andador aos 6 meses. Desde então são postos no equipamento para que Daniela possa realizar os afazeres de casa, ao mesmo tempo que os cuida. “Tenho quatro filhos. Todos passaram por isso e nunca tive problema. Aprenderam caminhar cedo.”
Mas adianta que cuidados devem ser redobrados. Para evitar acidentes, cercou a escadaria e retirou objetos do caminho que poderiam machucá-los.