O Vale dos Lácteos deixa de ser dependente dos únicos dois laboratórios no estado que analisam a qualidade do leite produzido nas propriedades rurais em Pelotas e Passo Fundo.
Após oito anos de tratativas, o Ministério da Agricultura (Mapa) certifica a Unianálises, da Univates, para realizar os testes. Assim se propicia que os produtores busquem a qualidade do produto e aumentem a remuneração.
A região é formada por importantes cooperativas e industrias, responsáveis por mais da metade do leite industrializado no estado. O destaque do setor é evidenciado pela renda das propriedades rurais, em que 49% do arrecadado ao mês, em média, provêem do comércio do produto.
De acordo com o coordenador do Unianálises/Univates, Jeferson Bottoni, a proposta do laboratório não é apenas cumprir a lei, mas desenvolver, paralelamente, a ferramenta de controle leiteiro, que consiste em uma ferramenta de apoio para a assistência técnica. Assim se visa a gestão do rebanho, melhorando a produtividade, qualidade, controle de reprodução e manejo nutricional.
O presidente da Câmara de Indústria e Comércio Regional, Oreno Ardêmio Heineck, observa que a lei obriga essas empresas a enviar mensalmente a um dos três laboratórios uma coleta do leite de cada produtor rural.
Benefícios
Heineck diz que o laboratório permite a democratização do acesso à análise laboratorial para mais produtores. As indústrias poderão implantar o pagamento por qualidade, o que só é possível com uma análise oficial e confiávele. Com leite de melhor qualidade, acrescenta que a indústria fabricará produtos melhores, ganhando mercado, inclusive para a exportação.
O processo colabora para a garantia de um alimento mais qualificado para os consumidores e projeta mais aproximação com a pequena propriedade, inserindo-se como instrumento de desenvolvimento à atividade leiteira e de inclusão social.
Novos mercados
Para o presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer, o ganho é estadual. Reforça que com a atuação do laboratório será possível qualificar a produção leiteira no Vale, aproximando propriedades rurais das normas técnicas.
Se o Vale almeja a exportação, segundo Bayer, este é um dos passos mais importantes. “Agora os produtores poderão testar seu leite e se ele não estiver dentro dos padrões terão que se adequar para conseguir mercado.”
Observa que as pesquisas da cooperativa são feitas na UPS, em Passo Fundo, dificultando o avanço de projetos relacionados aos produtores. Uma das grandes vantagens apontadas por Bayer é a redução na espera pelo resultado dos exames, que chegava há uma semana. Feitas em Lajeado, as análises devem ficar prontas em um dia.
A cooperativa integra 2,5 mil produtores. São industrializados 350 mil litros de leite por dia. O produto é vendido para grande parte do país, mas 80% fica no mercado gaúcho.
Sobre as análises
O laboratório faz estudos em amostras de leite cru de propriedades rurais de laticínios e tem capacidade para atender cerca de 180 municípios. Os serviços disponíveis são: análise de proteína, gordura, sólidos totais, sólidos não gordurosos, lactose; Contagem de Células Somáticas (CCS); Contagem Total de Bactérias (CBT) e ureia.
Entre as vantagens estão: equipamentos de última geração (que garantem precisão e reprodutibilidade dos resultados), rapidez, baixo custo, tomada de decisão imediata, capacidade de terceirizar laboratórios de indústrias e permitir à indústria controlar a matéria-prima e pagar o leite por qualidade.
Com o credenciamento no Mapa e na Rede Brasileira da Qualidade do Leite, o laboratório atenderá a Instrução Normativa IN62/2012. O espaço oferece uma gama analítica adicional que desenvolverá o segmento do leite.
Para a Univates, o credenciamento do Laboratório do Leite, que teve aporte de recursos do Mapa, administração municipal de Lajeado e da própria instituição, é o coroamento de um trabalho de vários anos e tem uma importância vital para auxiliar no avanço da produção leiteira da região.
O reitor da entidade, Ney José Lazzari, observa que quaisquer questões relacionadas à qualidade e sanidade dos produtos alimentícios são fundamentais para o avanço de novos mercados consumidores.
Segundo o diretor do Parque Científico e Tecnológico do Vale do Taquari (Tecnovates), Eloni Salvi, o credenciamento abre maios opções de análises para qualificação da cadeia leiteira no Vale do Taquari, e permitirá o desenvolvimento de projetos na área do Tecnovates para criação de novos produtos, especialmente derivados do leite.
Dados gerais
De 2004 a 2011, a produção cresceu 77%. Por dia são processados nove milhões de litros de leite ao dia, em 232 empresas de lacticínios em todo estado e 121 mil produtores. O estado responde por 12,9% do leite produzido no país. Segundo a Emater, a cadeia láctea representa 2,67% do PIB do estado. Isso significa R$ 6 bilhões ao ano para um rebanho de 1,5 milhão de animais
No Vale do Taquari, o leite é um dos três segmentos mais importantes do agronegócio, correspondendo a 12,5% da produção no estado. Hoje, 49% da renda das propriedades rurais do Vale são provêem da indústria de laticínios. Em 45 municípios do Estado, o produto é responsável por uma receita de R$ 347 milhões, valor que representa um terço da renda gerada com a soja.
Em 2011, a importação brasileira de lácteos foi o equivalente a US$ 781,6 milhões e as exportações, US$ 262,5 milhões. A Argentina liderou as vendas de leite em pó para o Brasil, com 429,6 milhões de litros, seguida do Uruguai, com 341,8 milhões de litros.