As facilidades para financiamentos, o fortalecimento da economia e o aumento do poder de compra da classe média resultam em mais carros, caminhões e motocicletas nas ruas. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostram que há 211.733 veículos nos 37 municípios do Vale.
Entre novembro de 2011 e o mesmo mês do ano passado, foram 13.726 novos emplacamentos, o que representa 7% de aumento. Frente à população total, que é de 335.130 pessoas, conforme o Censo do IBGE de 2010, o índice chega a 1,6 habitante por veículo.
Em Lajeado, nos últimos dez anos, a frota dobrou. Os números mostram que em janeiro de 2011 eram 49,6 mil veículos. Até novembro, o Denatran contabilizava mais 3,5 mil automóveis, caminhões e motocicletas nas ruas. Essa realidade traz desafios para os setores públicos, que precisam encontrar soluções diante do aumento de veículos no trânsito.
As maiores cidades da região carecem de estratégias de mobilidade urbana. Mestre em planejamento urbano regional e professor da Univates, Augusto Alves avalia que os planos diretores são focados em questões imediatas, sem uma visão do crescimento populacional e de desenvolvimento.
Para ele, a demanda crescente de veículos torna insuficiente a construção de mais estradas e ruas. “Precisamos encontrar alternativas para o carro. Não é certo pensar que este é o único meio de transporte.”
Entre as iniciativas para melhorar o trânsito, Alves cita o desenvolvimento de campanhas educativas para que as pessoas usem outras formas de locomoção, como o transporte público e a bicicleta.
Mudança cultural
A partir da década de 50, o governo de Juscelino Kubitschek intensificou o modelo de transporte rodoviário, com a construção de estradas ligando estados e municípios. Para o professor Alves, esse foi o pontapé inicial para criação da cultura em torno do automóvel.
Para ele, o carro, além do valor utilitário, também é um símbolo de status. Como a região tem um nível socioeconômico maior, a estimativa é que aumente cada vez mais o número de veículos nas ruas.
Cita o que ocorreu em países europeus, como Alemanha e Itália, que chegaram em uma situação de esgotamento da malha viária. “Enquanto no Brasil temos a visão que andar de bicicleta é coisa de pobre, nos outros países isso se tornou uma forma mais rápida de locomoção.”
Deficiências no sistema viário
Em ruas centrais do maior município do Vale, há engarrafamentos em horários de movimento. Os locais críticos ficam na rua Júlio de Castilhos, nas proximidades do Hospital Bruno Born (HBB), na Av. Senador Alberto Pasqualini em direção à Univates e na Av. Benjamin Constant.
A secretária do Planejamento de Lajeado, a arquiteta Marta Peixoto, estipula que obras como o viaduto da ERS-130, próximo do Posto do Arco, são obras que podem representar melhorias para o trânsito entre os bairros.
Diz que um dos objetivos é construir uma elevada no acesso a Conventos. “Vamos buscar recursos no estado e na União para aumentar a segurança no local.”
No centro, diante da pouca largura das vias, afirma que não há o que fazer. No bairro São Cristóvão, onde foi realizada obra de alargamento da rua, cita que mudanças no plano diretor pretendem estipular um recuo viário de dois metros para possibilitar futuras ampliações.
Na rua Carlos Von Koseritz, há dificuldades para estacionar devido ao número de ambulâncias com pacientes de outros municípios que procuram atendimento no HBB. No local fica o pronto-atendimento. Isso traz problemas para a chegada de pessoas que precisam de cuidados urgentes.
Conforme a secretária, é necessário reunir os representantes do hospital, integrantes da Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) e administração municipal para debater formas de solucionar essa situação.
Motoristas avaliam o trânsito
Os problemas com relação ao alto número de veículos são apontados como um dos motivos para a irritação dos condutores. Lúcio Rodrigues, 34, sugere a criação de um plano de reeducação obrigatório para motoristas infratores.
O segurança Sebastião dos Santos, 47, percebe que há muito desrespeito às normas de trânsito no Centro de Lajeado. Ele trabalha na rua Júlio de Castilhos e acompanha o movimento todos os dias. Diz que é comum pedestres ignorarem o semáforo ao atravessar a rua. “Isso pode custar caro.”
Taxista desde 2005, Rui Locatelli, 48, está pouco otimista quanto ao futuro do trânsito no município. Acredita que nos próximos anos, mesmo se forem adotadas medidas para reduzir o número de carros nas ruas, a situação persistirá. Para ele, a dificuldade atual está ligada à história. “ O problema é que a cidade não foi projetada para esse número de veículos.”
A falta de vagas para estacionar é apontada como o maior entrave pelo caminhoneiro Luís Krumenauer, 28. Trabalhando com cargas há dois anos, ele destaca que em Porto Alegre, a cultura no trânsito é de mais respeito às sinalizações, se comparado com Lajeado. “Lá, se tu liga um pisca eles (condutores e pedestres) respeitam, aqui tem que conferir mais de uma vez.”