Energia elétrica: Vale busca equilíbrio

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Energia elétrica: Vale busca equilíbrio

A expansão dos centros urbanos, somada à profissionalização do setor primário, leva concessionárias de energia elétrica a investir em medidas que garantam o abastecimento regular. Enquanto projetos são aplicados, recorrentes oscilações e apagões inquietam a comunidade, causando prejuízos na cidade e no campo.

aA capacidade estadual da carga de energia elétrica está próxima do limite e gera risco iminente de apagões. O principal agravante é que 70% do abastecimento no Rio Grande do Sul depende das linhas de transmissão oriundas do sudeste do país que, sobrecarregadas, são incapazes de atender a demanda – 7,5% superior à do último ano. Líderes pressionam concessionárias a investir na qualificação do serviço prestado na região, onde há 140 mil clientes atendidos pela AES Sul e Cooperativa Certel.

Sem autonomia energética, as distribuidoras locais cobram do governo a construção de uma nova linha de transmissão com capacidade para 525 mil volts (kV), interligando a Usina de Salto Santiago, no Paraná, com a subestação de Nova Santa Rita, da Eletrosul. A medida praticamente eliminaria o risco de cortes. Mas, o projeto está atrasado e deve ser concluído apenas no fim do ano.

Hoje, as concessionárias usufruem das linhas de 230 kV, vindas da Usina de Passo Real, do complexo de geração da Bacia do Jacuí e da subestação Nova Santa Rita, que recebe energia do Sistema Interligado Nacional.

No Vale, só a Certel produz energia. A exemplo do estado, a cooperativa gera 30% da sua demanda, capaz de abastecer 16 mil famílias. São duas usinas hidrelétricas: uma de 700 kW, em Boa Vista e outra de 6.124 kW, em Salto Forqueta.

Geração pequena

Se cotejada à necessidade regional, a geração é pífia. Em períodos de estiagem, como no verão passado, o nível dos rios e arroios reduz, inviabilizando a atividade. O mesmo drama enfrentam as principais hidrelétricas do país. A seca na região central compromete o serviço, e o governo estuda um racionamento em grande escala. “Precisamos encontrar uma alternativa viável para suprir essa deficiência energética, pensando em longo prazo”, ressalta o presidente da Certel, Egon Édio Hoerlle.

Investimentos

Atenta ao crescimento da demanda, a cooperativa projeta investimentos para os próximos anos na região. Com recursos da União, até janeiro de 2015, prevê a construção da subestação Lajeado 3, que terá 230/69 KV e linha de transmissão de 230 KV.

No início do mês, concluiu a modernização da rede que abastece a subestação de São Pedro da Serra, contemplando oito mil associados. O serviço englobou a troca de 321 postes de madeira por estruturas de concreto e exigiu investimento de R$ 3 milhões.

O total de recursos aplicados pela Certel no ano passado chegou a R$ 16 milhões. Hoje, a cooperativa conta com 64.280 postes, sendo 62.987 de concreto. As 1.293 estruturas de madeira serão substituídos gradativamente. A cooperativa é responsável por abastecer 53 mil economias na região.

Alvo da maioria das críticas relacionadas à precariedade de fornecimento, a AES Sul destinou R$ 36,6 milhões em investimentos em 2012 para o Vale, atendendo as reivindicações de empresários, produtores e moradores. Construiu uma subestação em Roca Sales, acompanhada de um novo alimentador. Modernizou as subestações Estrela 2 e Encantado e trocou 3.082 postes da rede elétrica, muitos antigos e de madeira.

A concessionária fornece 1.033 GWh (gigawatts hora) de energia para 87 mil clientes. Destes, 64,7 mil são residenciais.

Usina poderia suprir demanda

A construção da maior usina hidrelétrica da região, na barragem da eclusa em Bom Retiro do Sul, está parada há três décadas. Com capacidade para gerar 30 megawatts e atender 140 mil famílias, quase toda a demanda regional, o projeto continua em análise pelo governo. Nova previsão é de que a construção comece em um ano, mas os próprios líderes regionais refutam a promessa.

Conforme a proposta original da usina, serão construídas turbinas cerca de cem metros acima das compotas da barragem. Por meio de um canal haverá a captação da água do lago formado pela eclusa que fará movimentar as turbinas. O investimento ultrapassa R$ 100 milhões, que serão adquiridos por meio de financiamento com o BNDES.

Laudos apontarão carências

Um projeto desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), com apoio dos municípios e sindicatos, registra pela primeira vez a necessidade de melhorias no abastecimento às propriedades rurais. O laudo deve ser concluído em neste mês na região e utilizado para pressionar as concessionárias a investirem no setor.

O diretor do Departamento de Cooperativismo da SDR, Gervásio Plucinski, ressalta a importância da iniciativa para o campo. Cerca de 250 mil agricultores têm problemas de energia no meio rural no estado. Na maioria dos casos, a rede de eletrificação monofásica é insuficiente para fornecer potência para equipamentos como ordenhadeiras e bombas da água.

Cita que um levantamento feito em Colinas no início do ano apontou que em 87 residências rurais, de 92 avaliadas, havia defasagem no fornecimento e todas as propriedades eram abastecidas pela AES Sul. Para ele, o campo está abandonado.

Região deve se tornar autossuficiente”

O presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Ney Lazzari, enfatiza que a infraestrutura local está muito aquém da necessária. Cita que as companhias não conseguem acompanhar o desenvolvimento das cidades. “Outras formas de geração de energia, como a eólica e solar, devem ser analisadas por empresários e entidades regionais.”

Estudos são feitos para viabilizar a ocupação de uma linha de gasoduto vindo da Argentina, que, passando pelo Polo Petroquímico de Triunfo, oportunizaria um ramal para o Vale do Taquari. “São sonhos distantes, mas devemos começar a pensar nisso.”

O presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari, Ivo dos Santos Lautert, concorda com a necessidade de investimentos. Observa que uma empresa espanhola deve começar a atuar em Taquari dentro de um ano, transformando lixo em energia térmica. “São dois problemas resolvidos com uma ação só. É nisso que a nossa região deve se focar.”

Para o presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT), Oreno Ardêmio Heineck, primeiro é necessário um empenho maior da AES Sul em questões de infraestrutura antes de pensar em autossuficiência. Vê como positivo o trabalho da concessionária que, nos últimos meses, mostrou interesse em resolver as solicitações.

Univates aposta em energia renovável

Com o intuito de reduzir as despesas, o Centro Universitário Univates, de Lajeado, aposta na compra uma energia renovável por intermédio de uma operadora do Paraná. O projeto completa dois anos em fevereiro e propicia à entidade, além de segurança técnica para abastecer o campus, uma economia mensal de 26% (R$ 25 mil) em comparação ao uso da energia de companhias da região. O consumo mensal da Univates é de 270 megawatts.

A energia é transferida por meio da rede elétrica comum, utilizada pelas outras concessionárias da região. A Univates paga uma taxa à AES SUL pela utilização da rede. Para participar do programa é necessário uma demanda contratada de, pelo menos, 500 KW/h por mês.

Geradores são alternativa nas propriedades

A maioria das reclamações parte do setor primário, sobretudo no verão. Nesse período é comum haver quedas de energia em função da sobrecarga da rede, ocasionada pelo excesso de aparelhos de climatização utilizados para refrigerar aviários e chiqueiros.

Segundo o gerente comercial da Certel Energia, Ernani Aloísio Mallmann, uma alternativa é a instalação de geradores nas propriedades para evitar prejuízos na produção, embora o custo seja elevado: cerca de R$ 18 mil. Cita que o equipamento supre de forma automática a unidade consumidora na falta de energia da distribuidora. “Fundamental na criação de aves, em que pouco tempo sem energia ocasiona a mortandade de muitos animais.”

A família Dannebrock, de Linha Inhoff, em Imigrante, cria frangos há 36 anos e apostou na tecnologia. Investiu na compra de um gerador (81 KWA) movido a óleo diesel. Em caso de queda, após 17 segundos, o motor aciona e mantém a temperatura e umidade nos níveis indicados. Neste tipo de estrutura, 30 minutos sem energia é o suficiente para causar a morte de 90% dos frangos.

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