Cães lotam ruas e Ongs

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Cães lotam ruas e Ongs

Abandonados nas ruas ou amontoados nos canis, animais geram risco à saúde pública. Falta de políticas concretas agrava o problema que voluntários tentam amenizar

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aO abandono de cães e gatos nas ruas das principais cidades da região aumenta. A superlotação das ONGs faz com que os animais não sejam recolhidos. Poder público começa a esboçar projetos, mas números dos últimos anos são pouco otimistas.

Nos cinco municípios da região – Lajeado, Encantado, Estrela, Teutônia e Arroio do Meio – as justificativas para o problema se repetem: falta de dinheiro. Os poucos voluntários se viram como podem, muitas vezes levando os cães sem dono para dentro de suas residências.

Nos bairros de maior vulnerabilidade social, a situação é ainda mais preocupante. Em Lajeado, no Santo Antônio, o problema se agrava a cada mês com dezenas de animais pelas ruas. Falta de conscientização é apontada pelos moradores como o principal responsável pelo excesso de cães. “Cada vez está pior, as pessoas maltratam e abandonam os pobres dos bichinhos”, comenta a aposentada Iracema Santos.

Em Estrela, o ponto crítico continua sendo o loteamento Marmitt. Em duas quadras percorridas, a reportagem encontrou mais de 15 cães abandonados. Para o veterinário Eduardo Sartori Chiarelli, as circunstâncias estão quase sem solução na região. “ O caso está fora do controle, o poder público precisa intervir.”

ONG passa por dificuldades em Lajeado

A Associação Protetora dos Animais São Francisco de Assis (Apassa) sofre com a falta de apoio do poder público. De acordo com a presidente Maria Isabel da Silva, a associação mantém cerca de 200 cachorros e 100 gatos, atingindo a superlotação. Com a falta de espaço para deixar os animais e a dificuldade de manter um veterinário 24 horas, Isabel aposta em uma parceria com a nova administração para suprir as necessidades. “Sempre vivemos na promessa, nunca recebemos ajuda do município”, desabafa. A Apassa surgiu em 2002 com objetivo de verificar denúncias de animais vítimas de maus-tratos. Eles são mantidos com recursos próprios arrecadados com doações e contribuições dos associados. Um canil improvisado em um sítio no bairro Centenário e as casas dos voluntários são usados como abrigo para os cães e gatos recolhidos. Associação padece de um novo espaço, pois as terras ocupadas pelo canil no Centenário foram solicitadas pela proprietária. “A principal dificuldade é de achar um lugar adequado e manter os gastos com veterinários, pois muitos estão doentes”, finaliza Isabel.

Aposta na castração

Lajeado aposta na castração e na conscientização para reduzir o problema. A coordenadora do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores (CCZV), Elea Marie Wessel afirma que a Secretaria do Meio Ambiente intensificará as ações em prol dos animais abandonados. Aposta nas adoções. O canil municipal atende a apenas 25 animais. A projeção é de continuar com o programa de castração, para evitar procriações e despesas com a hospedagem.

Censo 2011

Um censo animal realizado pela Secretaria do Meio Ambiente aponta que 4,4 mil famílias têm animais domésticos na cidade. No total, foram contados 7.451 cães e 2.278 gatos. A administração municipal projeta castrar e implantar chips de identificação nos animais para estagnar o crescimento. O desafio será convencer a população.

A medida é realizada no CCZV desde 2008, quando foi implantada. O custo para castrar um animal varia de acordo com o peso, em torno de R$ 140 a R$ 240 por mês. Já para mantê-lo no centro, são gastos, em média, R$ 300.

Contudo, pelo censo a adesão para esse tipo de procedimento é baixa. Das famílias que possuem animais, apenas 895 (20,1%) disseram que aceitariam castrá-los, outros 1.796 (40,5%) não querem e o restante não respondeu.

Camila Dalfior acha que a castração deve ser feita apenas em cachorros de rua. “Eu tenho uma yorkshire dentro de casa e tenho medo de castrar.” Assim como Camila, receio é um dos principais motivos para refutar o procedimento.

Monitoramento:

A implantação de microchips em animais de estimação servirá como um indicador para a secretaria. Aplicados na nuca dos cães, os chips terão código de barras que possibilitam a leitura de informações, como o nome do animal, quem é o dono e vacinas recebidas.

O material tem cerca de um centímetro e é aplicável sob a pele com auxílio de uma agulha. A partir dele o proprietário de animais abandonados, mautratados e perdidos poderão ser localizados.

Problema se repete em Encantado

O abandono de animais é comum em bairros mais retirados, como o Jardim do Trabalhador. Apesar da diminuição no último ano, a presença de cães e gatos é visível, causando alguns transtornos em residências. Moradores reclamam, também, do barulho que bichos, largados por pessoas de diferentes bairros, causam ao longo do dia.

Para diminuir esse problema, o município paga R$ 1,5 mil todos os meses a uma pousada da cidade pela coleta dos animais abandonados. O valor deve suprir a alimentação dos cães e gatos, que são encaminhados a novos donos.

Conforme a fiscal do Departamento do Meio Ambiente, Luciana Gonçalves, a melhor forma de diminuir o número de abandonos seria a castração dos animais. A dificuldade está no custo que isso geraria.

Ao mesmo tempo, pessoas apaixonadas por animais fazem sua parte. Há seis anos, um grupo de voluntários fundou uma Organização Não Governamental (ONG), chamada Associação Encantadense de Defesa dos Animais (AEDA). Com 15 participantes, a entidade recolhe e encaminha animais para doação.

Conforme a presidente da ONG, Salete Isabel dos Santos Ferreira, como não há sede, os animais são abrigados em sua casa. São mais de 30 cães e 50 gatos no momento. O trabalho é totalmente voluntário, aceitando doações espontâneas da comunidade ou outras entidades. O último auxílio recebido do município foi em 2011, de R$ 3 mil. Segundo Salete, o dinheiro sequer cobriu a alimentação dos animais.

Ela é a favor de uma campanha de castração de animais em massa, em todos os bairros do município. Sugere que se encontre um veterinário especializado e disposto a ajudar por um custo mais baixo, diminuindo o número de abandonos e aumentando o controle de animais.

Mais de mil animais abandonados em Estrela

Conforme o vereador Andréas Hamester e ex-fiscal de Meio Ambiente, um levantamento realizado em março do ano passado estima que na cidade existam mais de 8 mil cachorros e gatos. Os pontos mais críticos foram apontados como o bairro imigrante, Moinhos e Marmitt. Consta que existem mais de mil animais abandonados.

O secretário de Meio Ambiente, Hilário Eidelwein, afirma que os principais responsáveis pelo problema são os cidadãos. “O povo acha que é só abandonar os cachorros e a prefeitura recolhe. Falta consciência.” A secretaria possui um canil, onde são tratados animais que sofrem de maus-tratos.

A Associação Estrela de Proteção de Animais também enfrenta a superlotação e a falta de recursos. Mais de 100 animais estão disponíveis para adoção na ONG e no canil.

Canil superlotado em Arroio do Meio

No município, a situação é apontada como fora de controle pelo veterinário Eduardo Sartori Chiarelli, responsável em dar apoio ao canil por parte do município. O abrigo mantido pela Associação de Proteção aos Animais Arroio-meenses (Apaam) foi construído após a administração ceder uma área de terras e ajudar com recursos. Construído para dar suporte para 32 animais, o canil foi inaugurado com 76 cães, o que fez o prédio sofrer adequações. Hoje, 86 cães são mantidos no local, com arrecadações e recursos da Apaam. O veterinário ressalta que trabalha com a causa há cinco anos, e com o projeto de castração que poderá ser colocado em prática nos próximos meses, deve amenizar o problema. “Não adianta construirmos canis, a demanda sempre será maior do que o número de vagas. Temos que trabalhar com a redução da população, e a castração será uma forma.”

Chiarelli destaca que semanalmente são abandonados cães próximos ao local. Ressalta que o município estuda o sistema de chips, para ter um controle exato de quantos animais possuem na cidade e poder ter ações mais eficazes. “ A falta de conscientização é uma grande barreira para diminuir o problema.” Diz que apesar das dificuldades a situação reduziu nos últimos anos, mas hoje o município não consegue mais recolher animais nas ruas.

Projeto de castração em Teutônia

O município contribui mensalmente com o valor de R$ 3 mil à Associação Protetora dos Animais de Teutônia, (Apante) para recolher e tratar os animais abandonados. Com este recurso, a associação consegue custear a hospedagem em um canil de apenas 20 animais. Outra parte da verba é destinada ao tratamento emergencial de animais doentes. O presidente Francisco de Souza Abrahão informa que o recurso é insuficiente, mas é uma grande ajuda. Os demais animais recolhidos no município ficam sobre a guarda de voluntários da associação em suas residências. Abrahão projeta uma parceria entre o município e a Apante. Uma das metas para a redução do problema é implantação do sistema de castração. “Em todas as partes da cidade são jogados animais. A solução está em um bom projeto para médio e longo prazo.”

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