Um lugar marcado pela criminalidade, onde o consumo de drogas predomina. Assim os moradores da São José, centro da cidade, denominam a vila onde vivem. Dos 14 assassinatos ocorridos em Lajeado, dez ocorreram no local. A região é conhecida por ser um ponto de consumo de entorpecentes. Em plena luz do dia, dezenas de usuários são avistados. De acordo com a polícia, muitos dos homicídios são motivados pela associação com o tráfico. Dívidas de usuários com traficantes estão entre os principais motivos.
O último assassinato foi registrado na madrugada de sábado, quando Maraísa Dias, 27, foi alvejada com três tiros na frente de casa, na rua General Osório, próximo a um bar. Conforme o delegado Silvio Huppes, o crime ocorreu por volta das 5h, quando um menor de 17 anos discutia com a namorada em frente da residência da vítima. No tiroteio, o companheiro de Maraísa, que estava próximo, também foi atingido, mas passa bem.
A polícia investiga se o homicídio foi motivado por rixas ou se os disparos eram para acertar a namorada do autor. Cerca de uma hora após o delito, soldados civis realizaram buscas no local e apreenderam o menor a poucos metros da residência do crime. Ele teve a internação solicitada pelo delegado, a qual foi aceita pela promotoria. O jovem está internado na Fase em Porto Alegre.
Além das mortes, outros crimes preocupam a comunidade. Apreensões de drogas e armas são feitas com frequência pela Brigada Militar. Veículos abandonados após furtos e venda de objetos roubados são realidade diária na vizinhança. Conforme a moradora Mara Werner, usuários de drogas passam pelas ruas vendendo objetos sem nota que, possivelmente, são furtados. “Ventiladores, tapetes, panelas, já vi oferecerem de tudo por aqui.” Ela ressalta que se sente insegura morando na vila, sobretudo de passar pelas dependências do antigo campo do São José à noite.
Para Itamar Marques, a falta de investimentos na localidade é uma das causas da criminalidade. “As redondezas do campo estão sempre às escuras, existe pouca iluminação nas ruas.” Marques afirma que avista viaturas da Brigada Militar diariamente, mas que só isso não resolve o problema. “O campo é quase uma cracolândia, os jovens não têm opção para se divertir e acabam entrando no crime.” O morador acredita que com a chegada de um novo governo, a comunidade receberá uma atenção especial.
Vulnerabilidade social
O comandante da Brigada Militar, major Ivan Urquia, chama a atenção dos poderes públicos para a vulnerabilidade social da São José. Para ele, a falta de políticas específicas para o lugar prejudica o desenvolvimento da vila. Ressalta que um projeto para melhorar a iluminação pública deve ser criado.
Urquia atesta que na São José ocorrem vários crimes relacionados ao tráfico de drogas. Afirma que a BM realiza operações no local, com barreiras e patrulhamento ostensivo. “ Deveria existir um projeto que ocupasse os jovens no período inverso da escola, pois sem ter o que fazer eles vão para as ruas e estão sujeitos a começar a pratica de crimes.”
Projeto de reforma
Na semana passada, o presidente da Associação de Moradores do bairro Centro, Ítalo Reali, enviou uma carta com reivindicações e sugestões à nova gestão municipal. Conforme ele, a proposta prevê várias melhorias aos moradores da vila. As principais são:
– Policiamento ostensivo 24 horas da Brigada Militar para proporcionar maior segurança à população e impedir a prática de furtos e drogadição.
– Cancelar os alvarás de funcionamento e fechar os bares que perturbam o sossego e a segurança pública, bem como as casas de prostituição existentes no bairro.
– Tomar providências quanto aos prédios desocupados e terrenos baldios que servem de esconderijo dos vândalos e usuários de drogas.
– Melhorar a iluminação pública em todo o bairro para diminuir os locais de consumo de drogas.
– Reformar o antigo campo de futebol do Esporte Clube São José, situado na rua Borges de Medeiros, transformando o local numa grande e moderna praça de esportes e lazer.
Ações da administração
O prefeito Luís Fernando Schmidt informa que a administração potencializará ações da Polícia Civil e Brigada Militar. “Construiremos parcerias para que existam nesta área da cidade e em outras onde os índices de criminalidade são maiores a estruturação da polícia comunitária, onde os servidores da BM, além de residirem nesses locais, terão uma viatura destinada só para essas determinadas regiões.”
Conforme Schmidt, esse assunto, inclusive, foi motivo de reunião durante a transição de governos com o secretário de Segurança Pública do estado. O Executivo estuda a implantação de uma Secretaria Municipal de Segurança, mas o tema ainda está em conversação com órgãos de policiamento estadual e federal.
Saiba mais
A maioria dos mortes em Lajeado foram originadas por disparos de arma de fogo. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, durante 2012, ocorreram 51 delitos relacionados à apreensão de armas e munições.
