Escutas do MP revelam irregularidades

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Escutas do MP revelam irregularidades

Depois de receber o diploma, prefeito terá que se defender de graves acusações

Colinas -O Jornal A Hora teve acesso ao processo encaminhado pelo Ministério Público (MP) que aponta 13 supostas irregularidades cometidas pelo prefeito Gilberto Keller, a primeira-dama Cristiane Keller e a vereadora eleita Ana Cristina Kohler. Na parte introdutória são citadas as fraudes realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS), descritas e comprovadas com escutas telefônicas do MP.

dEm uma das acusações, que deu origem à investigação, uma cidadã relata que teve de pagar para retirar um exame de sangue da próstata de seu pai. Ela trabalhou na área e atesta que em outras cidades não havia qualquer tipo de cobrança. O valor de R$ 92 teria sido cobrado pela própria secretária de Saúde, Cristiana Keller e por sua auxiliar Ana Cristina Kohler. Pagou a quantia em dinheiro e exigiu uma nota.

Após muita insistência, recebeu “recibos de livraria”, assinados por uma pessoa desconhecida e com valores diferentes dos efetivamente pagos. Novamente exigiu as notas corretas, com timbre da prefeitura, mas foi adivertida, por telefone, pela subordinada Ana Cristina Kohler.

Depois da coleta de outros depoimentos e provas, o MP solicitou ao hospital de Estrela a cópia do convênio mantido com Colinas. Nos documentos, o município firma uma parceira para realizar serviços na área de urgência e emergência, bem como cirurgias de urgência e emergência para moradores por meio do SUS. Trata-se de em regime de complementações de valores, de atendimentos e procedimentos.

Conforme o convênio, nenhum valor pode ser cobrado dos usuários do SUS. A compensação de qualquer procedimento deveria ser feita pelo município.A partir disso, o MP ampliou a investigação.

Pelo processo, uma idosa foi cobrada por uma cirurgia no fêmur realizada em 2011, no hospital de Estrela, segundo relato do filho. Na ocasião, a secretária Cristiane Keller e sua subordinada exigiram a quantia inicial de R$ 1,5 mil. A idosa, após passar por uma “avaliação social”, conseguiu reduzir o valor para R$ 900.

O filho entregou em mãos o dinheiro para a secretária da Saúde e a funcionária, as quais guardaram o valor dentro de uma gaveta do posto de saúde. O pagamento não ocorreu na tesouraria. Salientou que ambas cobraram o pagamento até o meio-dia de uma segunda-feira, sob pena de não ser autorizada a cirurgia. Após, pediu nota fiscal e, com insistência, obteve o “recibo de livraria”. Ele relata que teve de pagar por uma série de exames, sendo que os mais complexos dependiam da autorização de Cristiane Keller.

Keller responde a outro processo, este encaminhado pela coligação adversária. O prefeito ainda pode responder por mais dois, um criminal em relação às fraudes no SUS e outro por improbidade administrativa, de acordo com as investigações do MP.

Escutas

No dia 5 de setembro de 2012, durante a campanha eleitoral, foi flagrada a conversa entre Gilberto Keller e sua mulher Cristiane, utilizando de supostas concessões de valores para pacientes do SUS para que a despesa (a título de cobrança indevida) com realização de cirurgia fique menor para o paciente que, em um momento de extrema fragilidade, acabam ficando extremamente satisfeitos com a “ajuda da prefeitura”.

Prefeito e vice são diplomados

O prefeito reeleito Gilberto Keller e o vice Marcelo Schröer foram diplomados nessa quinta-feira. A cerimônia individual ocorreu no salão do júri do Fórum de Estrela, após a defesa derrubar a liminar que impedia a diplomação.

O juiz Rodrigo de Azevedo Bortoli acatou a decisão da desembargadora federal do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Bortoli decidiu não impedir a diplomação pelo posicionamento porque o TRE tem conceito definido sobre as situações. O juiz nomeou o caso como “esquizofrênico”, pois de um lado estaria entregando o diploma e pelo outro tirando.

Com a decisão, Keller será empossado em janeiro e responderá aos dois processos a frente do Executivo. O prefeito comemorou a decisão. “Não quero mais ter que explicar sobre este assunto. Vou tratar de organizar a posse e focar na administração do município, e me defender dos processos na justiça.” Anunciou que na próxima semana irá a Brasília para tentar trazer recursos à cidade.

Trechos das conversas

• 05/09, às 17h45min

A investigada Cristina Keller (Cris) conversa com seu marido Gilberto Keller sobre a aquisição e doação de mudas de plantas e, ao final da conversação, se refere ao pagamento de metade do valor de uma cirurgia de R$ 2,8 mil, a qual será cobrada pelo médico.

Cristiane: Outra, a A pode ser a metade da cirurgia?

Gilberto: Quanto deu? Isso eu falo pessoalmente. Tá? Tá?

Cristiane: Tá, Ela veio hoje de tarde lá. Daí eu não sabia o que dizer. Daí eu disse: “olha, metade, com certeza”.

Gilberto: Tá.Tá bom.

Cristiane: Dois e oitocentos o médico fez, e mais anestesia.

Gilberto: Tá. A gente melhora isso um pouco. Mas deixa eu falar isso para ela, pra amarra bem. Tá?

Cristiane: Tá

• 06/09, às 08h56min

A investigada Cristiane liga para Keller e comenta sobre o familiar de Konrad, que está hospitalizado, quando fala sobre pedidos feitos pelos familiares de remédios. No conteúdo da conversa, sobressai o assunto referente à cobrança sobre funcionário da prefeitura, por não ter colocado placa da campanha de Keller em frente à sua casa:

Cristiane: Sabe aquele C., lá em cima,que tem a véia que tá no hospital?

Gilberto: [Ãh]

Cristiane: Do C., aquele?!

Gilberto: Ah, sim.

Cristiane: Tá? Ai eles querem remédio, daí eles querem exame, dai agora eles querem fralda. Querem, querem, querem, querem.

Gilberto: Ãh.

Cristiane: Quê que é pra dar?

Gilberto: Até a eleição, nós não temo como negar muita coisa, Cris, e eles são nossos.

Cristiane: Tá.

Gilberto: Ãh….vê quê que tu consegue ajeitar. Tá?

Cristiane: Tá, então.

Gilberto: Eu sei que eles são pedinchão. Eles tão lá brigando entre irmão, ninguém quer cuidar da velha.

Cristiane: Tá.

Gilberto: É umas… coisa estranha lá. Tá?

Cristiane: Tá. Então eu vou… Ãh, outra coisa, o… ontem o N. jogou na ca… na minha e na cara do Amo a história do I. tá? Ai, ontem de noite, o B. me ligou. Dai ei pedi pra ele quem é que tinha ficado de falar com o I.. Resumindo: ninguém ficou encarregado porque falaram, mas não decidiram nada. Eu, agora, fui lá na sala do I. e falei pra ele, eu disse: “ ó, I., assim e assim, o N. disse ontem, porque tu é um ex-prefeito, tá mamando no prato da Prefeitura, e até agora não botou um adesivo! E nem botou a plana na tua casa! Então, assim, só tô te dizendo o que me jogaram na cara ontem”.

Gilberto: Ãh. E ai quê que ele disse?

Cristiane: “É, tu sabe como eu sou. Tu me conhece. As coisas tão lá em casa, Só que eu não… tô tão relaxado que eu não tenho a capacidade de pegar as coisas e fazer”. Eu disse: “não, eu só tô te dizendo o que está na boca do povo. Na boca do N.. Então, assim, ó, o N. disse que..”

Gilberto: Não, não é do N., Cris! Todo mundo tá falando isso ai. Eu já falei esses dias…

Cristiane: Tá, mas ontem… mas ontem… ontem, quem me jogou na cara foi o N.. Daí eu fui lá e disse pra ele que inclusi… que ontem o N. me disse isso. Então ele prometeu, agora, na hora do meio-dia, fazer.

Gilberto: Tá.

Cristiane: Então (pode ser que)…

Gilberto: Mas como… e por que que faz reunião então?

Cristiane: Não sei, ninguém foi falar com ele

Gilberto: Ãh

Cristiane: Ninguém foi falar com ele. Ai sobrou… eu pensei assim: vamos e viemos, se ninguém vai ter a capacidade de ir lá falar, eu vou! Peguei, fui lá e falei pra ele na cara-dura, que nem o N. me jogou na cara ontem.

(trecho omitido)

Gilberto: Tá.

Cristiane: Tá? Tchau.

Gilberto: Tá.

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