Suplente de vereador para o mandato 2013/16, Cláudio Kunzler (PP) assume que comprou votos nas eleições de outubro. Segundo ele, todos os demais eleitos praticaram as irregularidades no município. Ele tentava a reeleição. Conseguiu 105 votos.
Casado com a atual prefeita Dolores Kunzler, o parlamentar enviou uma carta à juíza eleitoral Débora Gerhardt de Marque, na qual justifica os motivos da decisão. No texto, explicita que o exercício da cidadania “teve um descarado jogo de troca de favores entre candidatos e eleitores”.
Relata que as pessoas extorquiam os candidatos. Atribui a esse comportamento a baixa escolaridade e a falta de compromisso da população com a cidadania. De acordo com ele, as motivações para a escolha dos agentes públicos se deram por interesses pessoais, sem preocupação com o bem comum.
Kunzler afirma que os eleitores cobravam benefícios e ameaçavam os candidatos caso houvesse recusa. Eram pedidos de eletrodomésticos, dinheiro, gastos com jantares e bebidas. Diz que houve casos de pessoas que negociavam o voto com diversos candidatos.
A situação virou motivo de brincadeira entre os parlamentares. Conforme Kunzler, houve conversas para criar uma central de compra de votos, na qual os candidatos poderiam conferir os nomes daqueles que aceitaram propina. Segundo ele, alguns candidatos gastaram cerca de R$ 50 mil.
Na sessão de 6 de dezembro, Kunzler falou sobre o tema. Para ele, nenhum dos vereadores reagiu às acusações. Ressalta que isso fortalece os indícios de irregularidades e mostra a cumplicidade dos políticos com a prática de compra e venda de votos no município.
Crítica ao Judiciário
Segundo o vereador, a Justiça Eleitoral prometeu infiltrar agentes no município para tentar coibir atos ilícitos. “Mas nada foi feito.” Diz estar desgostoso com a atuação do órgão. Para Kunzler, só com denúncias de irregularidades é impossível assegurar o controle. “Ninguém quer ser testemunha de nada.”
A magistrada Débora Gerhardt de Marque evita fazer qualquer comentário. Diz que as acusações serão avaliadas pelo Ministério Público (MP) para, só depois, ver a possibilidade de abertura de processo judicial.
O promotor de Justiça, Éderson Maia Vieira foi procurado. Até o fechamento da edição não houve resposta.
Entrevista com Cláudio Kunzler
O vereador pelo PP comenta a renúncia ao cargo de suplente e a decepção com o processo eleitoral em Sério.
A Hora: Por que decidiu tomar essa atitude agora, pouco antes da diplomação?
Cláudio Kunzler: Minha atividade como parlamentar visa a cidadania e educação. Nesses quatro anos, pouco pude fazer. As eleições revelaram que há apenas interesses pessoais imediatos. Haja vista a eleição do prefeito. Referente à capacidade, ele é limitado. Mas é uma pessoa popular. Joga bocha, atende a comunidade.
A gente se pergunta: contra uma prefeita anterior, com capacidade e interesse na administração pública, ficamos completamente decepcionados.
Não é choro de perdedor. Nós, na verdade, não perdemos, quem perdeu foi a comunidade. Tenho vergonha desse processo espúrio. Apenas de interesse. Também fui envolvido nisso. Saía pelas ruas e nunca ninguém perguntou quantos projetos fiz na câmara. Apenas o que você me dá. É deplorável.
Então, os eleitores foram corruptos nas eleições?
Kunzler: Totalmente. É uma comunidade fragilizada. Em termos de educação, temos o pior desenvolvimento humano. É decepcionante. Você pergunta, por que o senhor denunciou? Eu respondo, porque tento fazer melhorar, fazer a diferença. Mas estou impotente para isso.
Ao admitir que também comprou votos, o senhor não teme ser punido pela Justiça Eleitoral?
Kunzler: Não estou muito preocupado com isso.
O senhor comprou votos?
Kunzler: Eu paguei alguns votos. Infelizmente. Coisa de R$ 1 mil. Mas o valor não interessa, é errado igual. Tem outros vereadores que gastaram R$ 50 mil. Foi uma vergonha.
O senhor acusou os demais concorrentes ao Legislativo de terem comprado votos. Existem provas sobre isso?
Kunzler: Tenho provas indiretas, porque ninguém quer dar um depoimento. Esse é o problema, as pessoas têm medo. Mas enquanto não fizermos nada, tudo continua assim: comprando é que se elege aqui (Sério). Não tem como mentir.
Qual teu futuro na vida política?
Kunzler: Não queremos nada com política. Não precisamos de cargo, apenas queremos ajudar a comunidade. Não almejo o poder pelo poder. Todos conhecem a administração da prefeita. Não permitimos e não queremos o benefício da administração pública.