Forquetinha – Um dos pontos mais visitados por casais nas últimas décadas pegou fogo na madrugada dessa quinta-feira. Trata-se do Salão Sabke, de Arroio Alegre, palco de 468 festas entre 1965 e 2001. Acredita-se que o incêndio tenha iniciado devido a um curto-circuito. A família não tinha seguro do prédio.
O sinistro foi percebido pelo morador Valdecir Luís Bergmann, 29. Por volta das 2h, ele acordou com o barulho do desmoronamento da estrutura. Quando abriu a janela do quarto, se deparou com o fogo.
Recorreu aos vizinhos para tentar apagar as chamas. Em vão. Quando o Corpo de Bombeiros chegou no local, o prédio estava destruído. “Uma tragédia”, resume o proprietário Ronésio Darci Sabke, 35.
Utensílios, como freezer, geladeira, sofá e cama foram perdidos. Ninguém morava no local. O salão era utilizado como sítio pela família.
Inaugurado em 30 de outubro de 1965, o prédio de madeira tinha cerca de 500 metros quadrados e sediou bailes, animados por bandas que hoje se apresentam por toda a região.
Comunidade lamenta
Na manhã seguinte ao acontecimento, a comunidade estava incrédula. O casal Alceno, 83 e Sireda Kremer, 73, custou a acreditar que o antigo salão de festas, frequentado por eles por décadas, sucumbiu.
Sireda lembra com emoção das noites que passou no pavilhão ao lado da família e dos amigos. Define o antigo prédio como um local que visava a confraternização. Segundo ela, todos os visitantes tinham respeito pelo dono Otávio Sabke. “Nunca vi sequer um discussão na festa.”
O salão era um ponto de referência na comunidade. Poucos dos residentes em Arroio Alegre não frequentaram o Sabke. Sireda comenta que muitos dos casais do município se conheceram durante as festas.
Uma história familiar
A família Sabke é uma das mais tradicionais do município. Começou a construir o salão em 1960, época em que foram erguidos dois pavimentos – no primeiro um armazém e no segundo a moradia. Os materiais utilizados eram de uma sociedade em São Victor.
Em 1965, após a instalação de um clube de bolão, o espaço ficou pequeno, e a família começou a ampliação do prédio. Trabalhavam na obra um pouco a cada mês, de acordo com a arrecadação das festas. A inauguração ocorreu dia 30 de outubro daquele ano.
Eram realizadas pelo menos 13 festas por ano: uma a cada mês, além do baile de aniversário, em outubro. Mais de duas mil pessoas frequentavam o local a cada noite e cerca de cem caixas de bebidas eram vendidas. Nelsi Sabke, 70, mulher de Otávio, lembra das pessoas sentadas na escadaria após a festa, cobrando quando seria a próxima edição. “Recebíamos visitantes de toda a região, até de fora do estado.”
O último baile ocorreu no Natal de 2001. Depois, o município não renovou o alvará de funcionamento. A família recorreu ao Corpo de Bombeiros, que apontou a necessidade de melhorias. Por meses, o prédio passou por reformas, mas neste meio tempo Otávio morreu e os três filhos desistiram de continuar as obras.
Regras eram seguidas à risca
Um dos episódios marcantes do Salão Sabke ocorreu por volta de 1990. Ação do Ministério Público exigiu que a entidade parasse a venda de bebidas alcoólicas para menores de idade.
A partir daí, o salão foi dividido com telas para separar ambientes em que a venda da bebida era permitida e só adultos podiam entrar. “Ninguém ousava desobedecer, essa era uma grande característica do Sabke”, observa o comunicador Ditmar Henrique Born.
O local foi um dos primeiros na região a anunciar a realização de festas na Rádio Independente. Born participou das locuções nos últimos anos.