Vales do Taquari e Rio Pardo -Manter o hábito de tomar chimarrão está cada vez mais caro. O preço da erva-mate acumula um aumento de 12% em um ano, segundo o índice de preços ao consumidor do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da UFRGS.
Para o agricultor, o produto pode voltar a ser uma boa alternativa de lucro, depois de passar por uma fase negativa em função da queda no valor pago pela arroba (15 quilos), que provocou a erradicação da planta em muitas propriedades.
O custo médio do quilo no mercado varia entre R$ 5 e R$ 6. A arroba na lavoura é vendida a R$ 10. Com a queda na produção, poderá chegar a R$ 10 em dois anos nas prateleiras do mercados. O preço varia conforme a marca e a região do estado.
O presidente do Polo Ervateiro da Região Alta do Vale do Taquari, Jurandir Marques, diz que esse aumento no valor pago pela arroba e do produto no mercado é reflexo da baixa oferta de matéria-prima e da redução da área cultivada em algumas regiões. “As plantas estão em época de brotação e floração. Em 60 dias essa situação se normaliza. É a lei da oferta e procura.”
Acredita que o acréscimo no preço do produto para o consumidor é para compensar a alta nos custos de produção, investimentos feitos por indústrias para qualificar o produto e compensar o aumento do salário dado aos empregados, que chega 15%.
Marques destaca que o consumo de erva-mate cresce no Brasil e no mundo, enquanto a produção diminuiu. Projeta que o valor da erva deverá aumentar nos próximos anos devido à exploração do produto para outras finalidades, como cosméticos e chás, além do tradicional chimarrão.
Alta amarga a tradição
A autônoma Nilse Hofstetter, de Lajeado, é acostumada a tomar chimarrão pelo menos quatro vezes ao dia, com amigos e clientes. Por mês são consumidos cinco quilos de erva-mate. Com o aumento do preço, calcula que terá que gastar R$ 10 a mais nas compras no supermercado. “Pode custar R$ 50 o quilo que não paramos de tomar a bebida nem deixaremos de comprar erva de melhor qualidade.”
Em 2009, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Paraná foi responsável por 71% da produção nacional. Mas, segundo a Emater, em 2011 o RS recuperou a frente e produziu 60% da matéria-prima do chimarrão.
Com uma área plantada que chega a 30 mil hectares em 267 municípios gaúchos, a produção de erva-mate mobiliza 206 empresas e gera cerca de mil empregos diretos no estado gaúcho.
Conforme dados do Polo Ervateiro da Região Alta do Vale do Taquari, a cadeia produtiva engloba 11 municípios que cultivam 23,1 mil hectares para 35 agroindústrias. A média produzida é de 700 arrobas por hectare.
Matéria-prima tende a ficar escassa
O baixo preço pago pela arroba levou muitos agricultores a retirar seus ervais. A cultura foi substituída por atividades mais rentáveis, como milho e soja. O agricultor Claudiomiro Luis da Silva, 42, de Vila Santo Antônio, em Mato Leitão, arrancou 500 plantas em sua propriedade. Na última safra, ele colheu apenas 150 arrobas, que foram vendidas a R$ 4,50 cada. “Estávamos pagando para trabalhar.”
Acredita que a utilização da erva como matéria-prima para produção de outros produtos como cosméticos e chás poderá melhorar a remuneração e até estimular muitos agricultores a retomarem o plantio.
A administradora da única ervateira do município, Ledi Mirandolli diz que nos últimos anos a oferta e a industrialização de erva-mate tiveram queda de 50%. Cita que a maior parte da matéria-prima é comprada de outros municípios.
Entre os motivos estão a falta de mão de obra e a dificuldade de usar máquinas para colher o produto.
Comenta que a empresa faz parcerias com produtores para incentivar a manutenção e o plantio de novas áreas. “Existe demanda e por isso o preço da erva tanto na lavoura como no mercado deve subir nos próximos anos devido à falta de produto.”