O Vale busca uma identidade

Você

O Vale busca uma identidade

Debate do A Hora reúne especialistas e empresários durante a XVIII Expovale

Vale do Taquari -O desafio de transformar o Vale em referência na produção e industrialização de alimentos foi tema de debate na Expovale, promovido pelo A Hora. Na tarde de ontem, lideranças discutiram formas de consolidar o potencial da região e buscar uma identidade local.

dO assunto foi abordado na reportagem especial do anuário Tudo, encartado na edição de terça-feira, sob o título de “Um Vale de alimentos”. O diretor geral do A Hora, Adair Weiss relata que o propósito do encontro foi de ampliar as discussões das necessidades regionais para fortalecer o segmento.

Os debatedores discorreram sobre as políticas publicas desenvolvidas para garantir a sanidade dos rebanhos, em especial na produção de leite; os avanços no campo da pesquisa, aliados aos investimentos previstos pela Univates no polo tecnológico; a criação de um selo de qualidade para os produtos do Vale; a escassez de mão de obra e a importância de organizar um evento regional com foco na produção de alimentos.

Hoje, 82% da economia regional provém do agronegócio. Diante da força das cooperativas e da diversidade de atividades, o Vale se sobressai na produção de leite, suínos e frangos, como na indústria de doces, sorvetes e refrigerantes.

O reitor da Univates e presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Ney Lazzari realçou a prioridade da instituição em focar investimentos na área de pesquisa de alimentos. “Chegamos nessa conclusão diante da vocação regional.”

Exemplificou a importância das cooperativas locais, como a Cosuel e Languiru. Segundo ele, as duas juntas têm em torno de oito mil famílias conveniadas, o que demonstra a relevância social e econômica das entidades.

Frente a possibilidade de tornar o Vale em ícone nacional devido aos produtos, mencionou o investimento no novo prédio da Tecnovates. Conforme Lazzari, o espaço servirá para aprofundar pesquisas para lançar novos produtos. “Será um departamento de inovação.”

Cooperativismo é destaque no estado

O presidente da Cosuel, Gilberto Piccinini afirmou que a cultura regional do cooperativismo chama atenção de outros locais do estado. Avaliou que, com o crescimento da indústria, muito da matéria-prima precisa ser comprada em municípios de outras regiões.

Para ele, a proximidade do Vale com os centros consumidores é um ponto positivo. Citou como carências a falta de infraestrutura em estradas e a dificuldade em formar gestores no agronegócio. “Precisamos motivar os jovens a aprender como gerenciar as propriedades agrícolas.”

Na mesma direção, o presidente da Languiru, Dirceu Bayer comentou o subaproveitamento do Porto de Estrela. “Temos uma estrutura invejável, que esbarra em problemas de atendimento e nos custos.”

Outro aspecto ressaltado por Bayer diz respeito à falta de marketing próprio. Para ele, a região não se vende como deveria. Afirmou que as produções locais têm os melhores índices de qualidade, mas os itens esbarram nas barreiras sanitárias impostas pelos países.

Empresário com experiência no ramo de alimentos, Ítalo Reali concordou com a avaliação de Bayer. “Somos ótimos produtores, mas temos de ser ótimos vendedores.” Ele também criticou o pouco comprometimento das grandes indústrias com a região.

Na sua opinião, o Vale tem estrutura e condições para crescer. “Acho que estamos no caminho certo.” Ressaltou a atuação da Univates. Para Reali, a Tecnovates é o embrião do desenvolvimento.

Consultor do A Hora e idealizador do anuário Tudo, Gilberto Soares defendeu a produção de alimento no que tange o desenvolvimento social. Segundo ele, o êxodo rural é provocado pela falta de expectativas dos jovens.

A respeito do selo de qualidade da região, lembrou que na década de 90, isso foi criado. “Hoje, só a Sorvebom mantém.” Para Soares, organizar um feira, como a Expovale, mas voltada ao setor de alimentos, com foco na apresentação de produtos e negócios entre empresas deve ser uma das prioridades locais.

Para o presidente da Expovale, José Zagonel, essa possibilidade foi estudada na edição desse ano. Porém, descartada devido à falta de estrutura. Segundo ele, seriam necessários pavilhões climatizados. “Vejo como uma grande oportunidade para o Vale. Mas não temos um local.”

Omissão do poder público

Para alcançar o patamar de grande exportador de leite, há necessidade de instituir programas eficazes de sanidade animal. Com essa reflexão, os debatedores afirmaram que há pouco comprometimento dos governantes em adotar essas medidas.

Piccinini relembrou a viagem de representantes da região à Galícia, na Espanha. Na ocasião, a comitiva do Vale conheceu programas para garantir a saúde animal e melhorar a qualidade do leite. Entre os representantes, havia prefeitos de municípios do Vale.

Segundo ele, apenas Arroio do Meio adotou medidas de sanidade animal. O presidente da Cosuel também mencionou os poucos recursos destinados pelas administrações municipais à agricultura. “São em torno de 2% a 3% do orçamento. Temos de mostrar que é necessário investir na produção primária.”

Piccinini propôs um pacto na região. De reunir autoridades políticas, com representantes da indústria, dos agricultores e entidades como Codevat e Univates para cobrar esforço dos governos em criar políticas públicas para garantir o atendimento de demandas dos produtores rurais.

Para Reali, a Univates deve tomar a frente neste processo. “Para fazer acontecer, é preciso pressionar os políticos. Fazer essas discussões tomarem proporção na sociedade. Caso contrário, não vai para a frente.”

Bayer acredita que são necessárias medidas práticas efetivas. Destacou que os programas, como de irrigação e sanidade, demoram a apresentar algum resultado.

O Vale dos alimentos na visão dos debatedores

Ney Lazari, presidente do Codevat e reitor da Univates

“Nas discussões com a equipe da universidade, instituímos como prioridade os investimento na área de alimentos. Chegamos nessa conclusão diante da vocação regional. Vendo que em cooperativas, oito mil famílias estão ligadas, isso dá uma ideia da importância do setor de alimentos”

Dirceu Bayer, presidente da Languiru

“Estamos em um dos Vales mais férteis do mundo. Precisamos é de aperfeiçoamento. Falta mão de obra, temos muitas pessoas sem qualificação. É necessário instituirmos novos cursos técnicos no setor de alimentos, como por exemplo na área de cortes. Abrimos um frigorífico e falta gente para trabalhar”

Gilberto Piccinini, presidente da Cosuel

“É necessário maior investimento das administrações na agricultura. Instituir medidas de sanidade animal será o nosso diferencial. Para conquistar novos mercados, temos de ultrapassasr essas dificuldades. Hoje a região faz ciúmes no estado pelo nosso potencial. Basta um pouco mais de comprometimento e tornar as políticas públicas mais ágeis e efetivas.”

Ítalo Reali, empresário com experiência no setor de alimentos

“Temos de agregar valor aos produtos. Outro aspecto é sobre a sanidade animal. É preciso conhecer nossos clientes. O Vale está bem no interior, com uma estrutura de destaque. O que precisamos é pressionar os governantes para fazer acontecer. Sem o clamor popular, não há movimentação política”

Gilberto Soares, diretor da Agea Propaganda

“Para sermos referência, primeiro é preciso fazer melhor para depois fazer diferente. Como a Univates escolheu os alimentos, temos de incentivar a instituição. Criar uma feira exclusiva para o setor, como ocorreu com a Jornada do Sorvete. Hoje, vemos que das cinco empresas do ramo, três são daqui. No estado, os produtos da Sorvebom e a Gemelli são os mais vendidos”

Fernando Weiss, diretor de redação do A Hora

“Acredito no Vale dos Lácteos. No entanto, sinto omissão do poder público. Desde 2010, quando fomos à Galícia, pouco se fez para adotar as práticas sanitárias imprescindíveis à região. Dos 36 municípios, apenas seis aderiram ao projeto de sanidade. Estamos perdendo tempo”

José Zagonel, presidente da Expovale

“Concordo com a ideia de criar um evento específico para os alimentos. Temos de fazer isso logo antes que outra região pegue a ideia e a transforme em realidade. Queríamos fazer isso nessa edição, mas falta estrutura. Vejo essa proposta como uma grande oportunidade para o Vale.”

Acompanhe
nossas
redes sociais