Importante meio de ligação entre comunidades e municípios, as pinguelas são motivo de constante reclamação de usuários. Embora recebam investimentos elevados, as estruturas necessitam de melhorias recorrentes.
Levantamento realizado nas cinco cidades que concentram a maior parte das travessias da região aponta gastos próximos a R$ 514 mil na reconstrução das estruturas em dois anos. Ainda assim, as pontes pênsis estão precárias. Algumas, esquecidas pelos Executivos, somem em meio ao inço.
A enxurrada de 2010 destruiu 15 pinguelas em Forquetinha. Todas foram reconstruídas no decorrer do ano, mas em abril de 2011, uma cheia voltou a danificar oito travessias. Tinham menos de um ano de uso e tiveram de ser reformadas. Os gastos municipais chegaram a R$ 84.180.
Oito pinguelas foram reconstruídas em Marques de Souza, Travesseiro, Arroio do Meio e Pouso Novo, após a cheia de janeiro de 2010.
Dois anos depois, apenas três estão conservadas. As demais foram interditadas em função de estragos ou destruídas. O investimento nesses municípios é de R$ 430 mil, sendo a maioria dos recursos da Defesa Civil.
As administrações municipais argumentam que fenômenos meteorológicos inesperados causaram as avarias. Os moradores desconfiam da qualidade das obras. Sem as pinguelas, a comunidade separada pelos rios sofre. Há casos de usuários que utilizam as travessias para fazer compras em estabelecimentos mais próximos, visitarem parentes e se deslocarem ao trabalho.
Prejuízo aos usuários
Alicerce, madeira e uma espia são os materiais que restaram da pinguela que liga a comunidade de São João, Travesseiro, ao distrito de Tamanduá, em Marques de Souza. O matagal tomou conta do local onde ficava a travessia, reconstruída em 2011 e danificada no mesmo ano pela cheia no rio Fão.
Há mais de um ano sem o meio de ligação, os moradores de São João destacam que a rotina foi prejudicada. A aposentada Lorida Bruch, 68, utilizava a pinguela para visitar amigos e familiares enterrados no cemitério de Tamanduá.
Sem comércio próximo, Lorida precisava ir para Tamanduá fazer compras no açougue e mercado. “Agora toda vez que quero comprar um pedaço de carne tenho que me deslocar mais de dez quilômetros até o Centro.”
Até pegar ônibus ficou mais complicado. Antes, a aposentada optava pela linha na BR-386 para ir a Lajeado, que era de hora em hora. Agora, o embarque está restrito a duas linhas em São João.
Lorida conta que seu filho tinha um emprego garantido em uma agroindústria de Tamanduá, mas desistiu da vaga por causa da distância. Sem a pinguela, o trajeto ao trabalho aumentou 14 quilômetros.
Natural de São João, Guido Wommer, 60, recorda da construção das pinguelas na década de 80. Conta que os moradores auxiliaram com a mão de obra. “Instalamos a sapata a base de picão e os materiais eram levados na carroça.” Estranha o fato da pinguela construída pela população ter durado quase 30 anos, enquanto a pinguela edificada pela empresa terceirizada foi destruída na primeira enxurrada.
Interditadas
As últimas duas pontes interditadas estão localizadas entre Forqueta, Arroio do Meio e Linha Perau, Marques de Souza. Ambas foram comprometidas por uma ventania em setembro, menos de 15 meses depois de terem sido reconstruídas.
A técnica de enfermagem, Ivete Schmitt, 46, passava pela ligação todos os dias para se deslocar de Forqueta até o hospital de Marques de Souza. A usuária desconfiava da qualidade da reconstrução. Sem a pinguela, o trajeto de Ivete para o trabalho duplicou pela estrada geral de Travesseiro. A técnica demora 20 minutos a mais para chegar no emprego.
Na localidade de Arroio Alegre, em Forquetinha, o agricultor Alseno Trentini, 60, ficou meio ano “ilhado” até a reconstrução das travessias. Destaca que os vizinhos não conseguiam chegar às plantações sem as pontes e teme que elas sejam arrastadas novamente pelo arroio Forquetinha. “Elas deveriam ser fortalecidas e instaladas em pontos maiores.”
Sem prazo para reconstrução
Apenas uma pinguela danificada tem prazo de conclusão para esse ano. Trata-se da ligação entre Vasco Bandeira e Linha Mariane, que será restaurada numa parceria entre os Executivos de Pouso Novo e Marques de Souza. Os custos de R$ 62 mil serão divididos entre os municípios.
A reconstrução das outras quatro pinguelas é estudada pelas administrações municipais. O secretário da Administração de Marques de Souza, Alécio Weizenmann relata que a burocracia atrasa as obras. Comenta que os municípios precisam planejar juntos a reforma e que há proprietários de terras próximos às pinguelas que temendo estragos em suas plantações ou árvores frutíferas. “Precisamos negociar com todos e isso demanda tempo.”
O secretário da Administração de Travesseiro, Laziê Delazeri informa que uma das duas pinguelas de São João não será reconstruída. Reconhece que a duração das travessias não condiz com os investimentos e acredita que os municípios deveriam pensar maneiras de melhorar as pinguelas para evitar prejuízos durante cheias.