O censo mais recente divulgado pelo IBGE numera 626 deficientes visuais com perda total da visão. Eles enfrentam problemas diários com as insuficiências de obras e adaptações das vias e patrimônios públicos. Não bastasse, o egoísmo social faz cegos perambularem pelas ruas sem orientação e auxílio.
Nesta semana, reportagem acompanhou por duas horas, a atendente administrativa Fabiane Dartora, 31, de Lajeado. Ela caminhou pelas principais rua e avenida de Lajeado – Júlio de Castilhos e Benjamim Constant, e testemunhou o descaso: sinaleiras inadequadas, calçadas quebradas e sem identificação, motoristas de ônibus ignorantes e sociedade egoísta.
A única calçada adaptada para deficientes visuais em Lajeado e entre as poucas do Vale têm problemas de planejamento. Postes de sustentação da rede elétrica estão no meio do trilho oferecido. O único semáforo sonoro para cegos é ignorado por motoristas.
Ao atravessar a rua em frente ao Colégio Castelo Branco, após o sinal favorável, Fabiane quase foi atropelada por um veículo que desrespeitou o sinal. “Ainda bem que temos o ouvido apurado.”
Críticas ao Poder Público
A especialista em deficiência visual e coordenadora da Associação de Pais, Amigos e de Pessoas com Deficiência Visuais (Apadev), Vanda Dreier confirma a omissão dos municípios.
Diz que na época da construção da calçada na rua Júlio de Castilhos alertou sobre os erros, mas foi ignorada. Acrescenta que a infraestrutura precária faz muitos deficientes ficaram em casa, sob a vigília dos familiares. “Infelizmente os municípios ainda dão pouca atenção a estes problemas.”
A Apadev atende 28 deficientes visuais em Lajeado. Número insignificante se comparado com os casos existentes. Para Vanda, a falta de orientações faz com que as pessoas deixem de usufruir os benefícios existentes para cegos.
Conta que convida os deficientes para participarem de atividades na entidade, mas esses preferem ficar viver isolados. Segundo a especialista, as pessoas não sabem interagir e não fazem nada para mudar isso.
A associação fica próxima da Escola Estadual Castelo Branco no centro de Lajeado, na Rua Bento Gonçalves, 191, nos Irmãos Maristas. Telefone de contato é 9752-0884.
Trajeto complicadoobras e reformas
Em três pontos da rua Júlio de Castilhos e Av. Benjamin Cosntant, Fabiane se deparou com problemas de sinalização em obras. Os tapumes avançam nas calçadas e as adaptações de segurança são feitas apenas para pessoas que enxergam. Em um deles, confundiu o caminho a seguir e quase entrou em desespero. Mesmo diante da situação, as pessoas passavam por Fabiane sem oferecer ajuda ou orientação. Em frente ao Hospital Bruno Born outro problema. Um andaime estava na calçada e só foi percebido após um tropeço.
Calçadas inadequadas
Uma das calçadas da rua Júlio de Castilhos tem piso tátil, com desenhos que sinalizam obstáculos e o caminho. Contudo, de acordo com a especialista Vanda, as demais lajes deveriam ser lisos e sem desenhos decorativos. Ela diz que a decoração dificulta a interpretação quando passam com a bengala. Lajes soltas, quebradas e desniveladas é outro sério problema.
Transporte urbano
Fabiane usa o transporte urbano todos os dias e diz que passa dificuldade para saber qual é o ônibus correto. Segundo ela, precisa perguntar para todos que param qual seu destino. Conta que em cidades maiores como Porto Alegre, as pessoas quando estão ao lado de um deficiente oferecem auxílio, ao contrário daqui. Os motoristas, muitas vezes, param distantes das paradas.
Sinaleiras
A falta de semáforos sonoros representa risco iminente. Em Lajeado, apenas uma está adaptada. A pessoa aperta um botão que emite som liberando a travessia. Há cruzamentos como em frente ao posto do Faleiro que não há semáforo e nem pessoas para auxiliar. Evitar o trajeto, aguardar horas por auxílio ou se arriscar são as alternativas.