Lajeado -A oferta de empregos no Vale do Taquari é maior do que a procura. Um problema que se acentua nos últimos três anos. A insuficiência de mão de obra em quase todos os setores motiva 29 empresas a participar da 1ª Feira de Empregos, promovida pela Acil, neste sábado. Outras 12 instituições de capacitação profissional estão inscritas.
As 1.258 vagas ofertadas estão relacionadas a indústria, comércio e serviços. Sugestões de cursos de qualificação profissional são repassadas durante todo o dia. A falta de mão de obra atinge, sobretudo, a capacitada.
As fichas de emprego são preenchidas nos estandes das empresas participantes. Sugere-se aos candidatos que levem documentos de identificação para efetuar os cadastros. A idade mínima dos interessados é de 16 anos.
Para o vice-presidente da Acil, Reni Nunes Machado, a feira quer despertar às pessoas as variadas oportunidades e coletar um perfil sobre o que buscam, pensam e querem os trabalhadores. “Aplicaremos um questionário para sabermos o que nós (empresas) podemos fazer para agilizar e resolver o problema.”
Nunes cita que de cada dez empresas lajeadenses, sete sofrem com a escassez de mão de obra. A abundância de oferta exige pagamento de melhores salários, não por qualidade ou capacitação, mas por leilão que acaba sendo feito pelos funcionários.
Em 2010, quando o “apagão” de mão de obra se salientou, a Acil criou o Programa de Estimulo a Capacitação – Evoluir. A proposta do projeto é estimular trabalhadores da região a se qualificarem.
Imec oferece cem vagas
A rede de Supermercado Imec é a que mais oferta empregos na feira deste sábado. São 66 vagas para operadores, auxiliar, fiscal, repositor e gerente. As demais 34 são direcionadas para pessoas com necessidades especiais.
A segunda maior ofertadora é a Indústria de Bebidas Fruki. Seleciona 90 funcionários para atuar como encarregado de distribuição, vendedor, promotor de vendas, auxiliar de faturamento, auxiliares de depósito, entrega e de produção. Para a gerente Ana Luísa Herrmann, as maiores dificuldades para se contratar estão relacionadas à qualificação dos candidatos.
A Unimed oferece 11 vagas. A maioria voltada para o atendimento e para profissionais com formação técnica, por exemplo, em Enfermagem e Segurança do Trabalho. Também há vagas que exigem graduação concluída ou em andamento.
De acordo com a psicóloga Juliana Cerutti, a empresa não avalia só os conhecimentos ou experiências do candidato, mas também as atitudes, proatividade, relacionamento interpessoal, ou seja, que tenha aderência à cultura da Cooperativa Médica.
Para ela, a maior dificuldade de se preencher uma vaga de emprego é a falta de qualificação profissional dos candidatos. E em muitas situações se tem a parte técnica, mas sem perfil comportamental adequado.
O obstáculo da construção civil
A Copa de 2014 é a que mais impulsiona o setor da construção civil nos últimos meses. Estima-se que no estado serão necessários mais 15 mil novos trabalhadores em 2013 para suprir a demanda do mercado imobiliário e os investimentos em obras públicas e privadas.
Um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria aponta que 68,4% dos empresários enfrenta dificuldades de encontrar mão de obra qualificada. A pesquisa foi realizada com 375 empresas do ramo em todo o país.
No Sistema Nacional de Empregos (Sine) de Lajeado vagas no setor ficam meses disponíveis sem nenhuma procura. A construção civil e oficina pesada são as mais problemáticas
Por dia, pelo menos uma construtora da região liga pedindo se há currículos de pedreiros no sistema. A remuneração destes dois profissionais se inicia em dois salários mínimos.
Senac forma dois mil por ano
O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) de Lajeado forma por ano dois mil profissionais nos cursos de qualificação. A diretora Etiene Azambuja mostra uma pesquisa da entidade em que 85% dos formados conseguem emprego logo após concluído o curso. Os demais são os que optaram em não trabalhar na área que estudaram.
Etiene relata que os cursos técnicos são a melhor opção de capacitação rápida e são cada vez mais valorizados por empresários de todo o país. Esse nível de ensino leva o aluno à prática durante as aulas, devido aos módulos de simulação que tem.
A diretora esclarece que os estudantes procuram capacitação para iniciarem em boas funções no seu primeiro emprego ou então conquistarem empregos com remunerações melhores. Os cursos mais procurados são técnicos e auxiliar em administração.
Importar empregados é alternativa
Na semana passada, chegaram ao Vale mais 50 haitianos. A Dália Alimentos, de Encantado, acompanha tendência que vem dando certo na construção civil, onde construtoras importam mão de obra.
A Dália buscou os trabalhadores de Brasileia, no Acre, para atuar na linha de produção da empresa – desossa e abate de suínos – e para o trabalho nas granjas e fábrica de rações.
Segundo a supervisora do Setor Pessoal, Sandra Simonis Lucca, os trabalhadores têm possibilidade de reconstruir suas vidas, visto a precariedade em que viviam anteriormente. “Além disso, nos preenchem vagas abertas há tempo.”
A Construtora Zagonel de Lajeado é outra empresa que tem mais de 200 contratados de fora do município e região, entre os quais Haitianos.
Os estrangeiros foram selecionados pelo proprietário, José Zagonel, em viagem a Manaus, quando visitou os refugiados na capital, Amazonas. Eles estavam num alojamento da paróquia local, na expectativa de serem recrutados por alguma empresa do Brasil.
Para Zagonel, não é só a escassez de trabalhadores na região que limita o crescimento mais rápido das empresas. Entende que a maioria não se submete às funções mais simples e projetam cargos elevados sem passar pelo trabalho da base. Encontrar servente de pedreiro, por exemplo, está difícil. “Não vi alternativa a não ser trazer os haitianos.”