Campanha alerta para doação de órgãos

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Campanha alerta para doação de órgãos

Hospitais promovem debates sobre transplantes para conscientizar a população

Vale do Taquari – Hoje é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos. Desde o início da semana, o Hospital Bruno Born (HBB), com a Organização de Procura de Órgãos (OPO), promove campanha de conscientização para aumentar o número de doadores.

Na região, 26 pessoas estão na lista para transplante de rim. No estado, o número sobe para 1.067. Em alguns casos, a espera pode chegar a quase uma década, como ocorreu com o industriário Mateus Lenz da Silva, 30. Em janeiro de 2005, após sentir fortes dores de cabeça, descobriu que tinha apenas 10% da capacidade de funcionamento do órgão.

dForam seis anos e meio até o procedimento, que ocorreu no dia 1º de setembro. Na família, ninguém era compatível. A única esperança de retomar à rotina normal seria um doador com morte cerebral.

Durante todos esses anos, passava pela hemodiálise três vezes por semana, durante quatro horas. O tratamento causava incômodos e o deixou debilitado. Outras complicações surgiram, como problemas pulmonares e a perda de massa muscular.

As antigas atividades, como jogar futebol com os amigos e os acampamentos à beira do rio, tiveram de ser esquecidos. “A perda da liberdade foi uma das coisas mais difíceis que passei.” O quarto e o computador se tornaram o lugar mais seguro para Mateus. As doenças associadas ao tratamento são riscos que os pacientes devem prevenir.

Dados do Registro Brasileiro de Transplantes mostram que 63% das famílias negam a retirada dos órgãos. No Rio Grande do Sul, que figura como 8º estado do país, o índice cai para 45%. Apesar da boa posição, a recusa ainda é alta.

Conforme a Central de Transplantes do estado, de 220 pessoas diagnosticadas com morte cerebral até 31 de junho, 87 foram autorizadas pelas famílias para retirada dos órgãos e tecidos.

A fé e o agradecimento

A mãe Nair, 56, foi a base que sustentou a esperança de toda a família. “Eu rezava sempre. Depois do choque e da tristeza, nos mantivemos fortes e nunca deixamos de acreditar.”

Por desconhecimento da doença e de tudo que implica um transplante de rim, Mateus pensou que seria algo simples de curar. Nos três primeiros anos, acreditou que logo surgiria um doador. Mas o tempo foi passando e com ele a expectativa de encontrar alguém compatível.

Nos últimos meses, Mateus recebia avisos constantes sobre a possibilidade de receber o órgão. Isso trouxe um novo ânimo. Até que, na madrugada de sábado, dia 1º de setembro, ele entrou no Hospital Bruno Born (HBB) para passar pela cirurgia. Foram três horas e 40 minutos de procedimento. O transplante foi bem-sucedido. Em tratamento contra a rejeição ao novo órgão deve evitar o contato com pessoas para diminuir o risco de infecções.

Todo o tratamento foi pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nair ressalta o cuidado prestado pela equipe do HBB e agradece a decisão da família que possibilitou a volta da esperança para Mateus. Hoje, o assunto doação de órgãos tem outro significado para os Lenz da Silva.

Aumento de doadores

O HBB aponta crescimento no número de doações múltiplas em comparação com o ano passado. Em 2011, de dez pacientes com morte cerebral diagnosticada, apenas um teve os órgãos destinados aos transplantes. Nesse ano, o número subiu para seis, nos 11 casos de óbito.

Coordenadora da Organização de Procura de Órgãos (OPO) na região, a enfermeira Adriana Calvi relata que o número de pessoas que informam a vontade de se tornar doadoras tem aumentado. No entanto, o crescimento ainda é pouco expressivo em relação aos pacientes que aguardam pelos transplantes. Conta que outros dez pacientes estão sendo avaliados e podem incrementar a lista por um rim na região.

A enfermeira ressalta que o propósito da campanha é provocar a conversa entre os familiares. “As pessoas precisam manifestar essa vontade de ajudar a salvar vidas.” Pela lei, a decisão para doar órgãos de uma pessoa que teve morte cerebral confirmada deve ser dos parentes.

Adriana acredita que esse diálogo pode aumentar o número de doadores na região. Observa que muitas famílias negam a retirada de órgãos devido à indecisão. “Eles falam que desconhecem a vontade do familiar que morreu.”

Médico da Central de Transplantes do estado, Marcelo Generali da Costa cita que a falta de um histórico clínico dos doadores e a dificuldade em identificá-los são os principais empecilhos para os transplantes. “Esse conjunto de fatores envolve toda a rede de saúde.”

Segundo ele, mesmo com essas dificuldades, a situação tem melhorado. Lembra que o estado é um dos pioneiros nos transplantes do país e devido a isso, as pessoas têm consciência sobre a importância da doação. “Há 20 anos, esses procedimentos eram recentes. Isso assustava a população. Hoje, todos sabem do que se trata.”

O estado é um dos que tem maiores índices de doações múltiplas do país. No fim da última década, a estimativa era que nove pessoas em um milhão se tornavam doadoras. Hoje, esse número chega a 15. No país, segundo estimativa do Ministério da Saúde, cerca de 600 mil pessoas estão nas listas de espera das Centrais de Transplante.

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