Vale do Taquari – A média de chuva registrada desde a tarde de terça-feira até a manhã de ontem equivale ao total do mês, cerca de 130 milímetros (mm). Em virtude de deslizamentos e ventanias, diversos municípios da região registraram prejuízos. A Defesa Civil estima que o nível do Rio Taquari chegue a 23 metros durante o dia.
A dona de casa Marina Lorena Teixeira, 51, de Lajeadinho, em Encantado, foi uma das mais atingidas. Na madrugada de ontem, o terreno de sua casa desbarrancou, e a residência da família caiu dentro do Rio Taquari. No momento do incidente, Marina dormia na casa da filha, a 300 metros do local. “Perdi tudo e não sei o que fazer e como vou recomeçar.”
De forma intercalada, se hospedará nas residências das três filhas. O município ofereceu abrigo de até meio ano, mas ela diz não ter móveis para colocar numa nova casa.
A casa vizinha a de Marina também foi prejudicada com o deslizamento e metade da estrutura caiu no rio. A proprietária Maria Salete Ennika Dutra se diz surpresa com o desmoronamento. Ela foi a primeira ao ver as casas destruídas, por volta das 4h, quando acordou para ir ao banheiro. “Nunca vi uma coisa assim, nem nas maiores enchentes”, salienta.
A Assistência Social ofereceu auxílio com lonas, aluguel de até seis meses e transporte de móveis e eletrodomésticos aos atingidos. Segundo o responsável pela Defesa Civil no município, Cesar Moretto, as famílias devem sair da área, pois é grande o risco de acontecerem novos deslizamentos.
Cabeceiras de ponte são destruídas
A ponte inaugurada em julho na comunidade de Vila Praas, em Forquetinha, está interditada, e o município não tem previsão para reestabelecer o acesso pelo local. A obra custou R$ 270 mil aos cofres públicos. “É inadmissível construírem algo que na primeira chuva fica comprometido”, reclama o agricultor Ênio Claudir Gabriel, 48.
Para ele, a estrutura foi mal projetada e necessita de um novo estudo para que o problema seja resolvido. Segundo Gabriel, a ponte se tornou uma represa, segurando todos os galhos trazidos pela correnteza. Com a cheia do arroio, as cabeceiras foram destruídas, impossibilitando o tráfego. “A ponte deveria ser mais alta. O que era para ser uma solução para nós, virou um problema.”
Com o acesso interrompido, os moradores da comunidade precisam atravessar o arroio pela ponte do Bauereck, o que aumenta o trajeto em dez quilômetros até o centro da cidade.
Para o secretário da Administração, Paulo Ströeher, é necessário esperar que o arroio normalize para fazer uma avaliação mais precisa dos danos. Ressalta que o acesso deve ser reconstruído a partir de amanhã. A ponte tem 210 metros quadrados, 33 metros de comprimentos e 6,3 metros de largura.
Sob risco de inundação, famílias são transferidas
Pelo menos 30 famílias do bairro São José (Praia), de Lajeado, estão alojadas no pavilhão 3 do Parque do Imigrante. A Defesa Civil estima que o Rio Taquari alcance 23 metros até as 6h, alagando parte do município durante o dia.
A última medição, realizada às 18h de ontem, apontou que o nível do rio estava em 19m50cm. “Como a água continua subindo, preferimos transferir as famílias e garantir que todos fiquem bem”, aponta o coordenador Luis Felipe Finkler.
Para a transferência dos moradores, foram utilizados nove caminhões da administração municipal e quatro particulares. Na última enchente, em agosto de 2011, o rio chegou a 26 metros.
O morador Dilmar João Dias, 58, reside na comunidade desde os seus nove anos e perdeu as contas de quantas vezes precisou sair de casa. “Não podemos sequer ter um móvel de qualidade, pois ele vai quebrar na mudança ou ser levado pela água”, lamenta.
Seus pertences foram os primeiros a ser levados ao parque. Diz que pensou em sair da comunidade, mas ressalta que não teria condições financeiras para comprar um terreno em outro lugar.
Arroio Sampaio interrompe estradas
Em Cruzeiro do Sul, o principal contratempo foi causado pelo transbordo do Arroio Sampaio, que invadiu as estradas de Boa Esperança Baixa, na ligação entre São Rafael e Linha Sítio e no acesso à Linha Boa Esperança Alta, próximo do pedágio da ERS-453.
O taxista Edemar Ecco foi levar um passageiro na noite de terça-feira a Boa Esperança. Com dificuldade, passou pelo trecho. “A água passou da metade das rodas.”
O técnico em telecomunicações Gustavo Dattein teve que desviar o trajeto a Linha Sítio, pois a estrada geral estava submersa, aumentando o trajeto em 60 quilômetros.
Conforme o secretário de Estradas, Humberto Persch, houve apenas a interdição de algumas estradas, mas nenhuma comunidade ficou isolada. Ressalta que após o nível da água baixar, iniciará um trabalho de recuperação das estradas.
Casas são destelhadas, e acessos interditados
A propriedade de Arno Adolfo Venter, em Picada May, Marques de Souza, ficou ilhada por mais de 12h na manhã de ontem, em função de um bueiro entupido. No local há uma sanga que transbordou e cobriu o acesso a moradia.
A moradora Marieli, que trabalha no pedágio da BR-386, teve que sair duas horas antes do trabalho, em tempo de conseguir entrar em casa antes que a rua ficasse totalmente coberta. “Deveriam instalar um cano aqui para o escoamento da água. Isso é comum ocorrer em dias de chuva.”
Segundo a Secretaria de Obras, duas estradas foram interrompidas no município devido ao excesso de água na pista – uma em Tamanduá e outra que liga o centro a Picada Flor.
O município registrou prejuízos em sete casas, que ficaram destelhadas devido ao forte vendo, assim como dois aviários, um em Bela Vista do Fão e outro em Picada Serra, que foram afetados.
Em Travesseiro, a água da chuva interditou a VRS-811 na altura do Perau. O trânsito no local é intenso por ser a principal ligação entre o município e Arroio do Meio. Uma casa foi destelhada pelo vento.
Deslizamento compromete aviário
A madrugada de ontem foi marcada por transtornos aos moradores de Linha Harmonia, em Teutônia. Pelo menos quatro famílias saíram de suas casas com medo de desmoronamentos. Em 2000, durante um temporal semelhante ao desta semana, uma residência foi coberta após o deslizamento de um barranco, resultando na morte de três pessoas.
O drama vivido há 12 anos voltou a atormentar a comunidade. A família de Selani Lagemann recorreu a amigos para passar a noite. “A rua parecia um rio e a água invadia as residências. Ficamos apavorados.”
Durante a noite, uma empresa carregava frangos na propriedade de Selani quando parte do aviário desabou. A família tem duas estruturas e numa delas foi possível carregar os frangos, outros 21 mil ficaram para trás, pois os carregadores tinham medo de entrar no aviário com receio que desabasse.
Além dos prejuízos causados na comunidade, diversas ruas no município ficaram submersas, e a Secretaria de Obras necessitou proibir o trafego de veículos. De acordo com a secretaria, houve a queda de dois muros no centro, mas ninguém se feriu.
No bairro Languiru, a água excedente do Arroio Boa Vista causa o alagamento dos três campos de futebol e do pavilhão da Associação de Funcionários da Elegê, localizada às margens da ERS-128, a Via Láctea.