À procura do trilho

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À procura do trilho

O uso das ferrovias é em média 20% mais barato do que o transporte pelas rodovias, mas poucas cargas são transportadas a Estrela pelos vagões. Sem regularidade de horários e linhas para o Vale, empresários optam pelos caminhões para entrega dos produtos.

aA falta de itinerário regular e de prazo para entrega das cargas obriga o empresariado a manter o uso das rodovias. Apesar de o transporte ferroviário ser em média 20% mais barato, essas incertezas travam o melhor aproveitamento dos 7.265 quilômetros de trilhos nos três estados do sul.

Neste ano, poucas cargas chegaram na região pelos trens. Na unidade de Estrela da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) foram dois lotes de grãos. Um de 3,8 mil toneladas e outro de 2,5 mil.

No restante, os caminhões são os principais meios, responsáveis por trazer 5,2 mil toneladas à estrutura na margem do Rio Taquari. O gerente da Cesa, Ledo Daruy conta que os serviços de transporte para os produtos enviados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) passam por licitação, e as vencedoras escolhem o modal para trazer as cargas.

Grande parte dos produtos vem de Mato Grosso e de Goiás. Como não há estradas de ferro nas cidades de onde os grãos são embarcados, o transporte é feito de caminhão até Londrina, no Paraná, para depois ser carregados nos trens e enviados à região.

A secretária executiva do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Cíntia Agostini relata a que ociosidade do transporte pelas estradas de ferro é tema frequente nas reuniões com entidades, conselhos e empresariado da região.

Na opinião dela, o Vale tem condições para melhorar o uso da estrutura do Porto de Estrela. “Além de mais barato, diminuiremos o número de caminhões nas estradas.”

Para reabilitar infraestrutura ferroviária, o governo federal transferiu as malhas para a iniciativa privada durante um período de 30 anos, prorrogáveis por mais 30. As concessões ocorreram entre 1996 a 1998.

A tentativa de reverter o quadro de desuso do modal foi insuficiente na visão de Cíntia. “A iniciativa privada assumiu, mas não melhorou.” Diante da previsão do governo, que pretende investir na construção de ferrovias no pais, pensa que o transporte pelo modal tende a aumentar.

Economia em grandes distâncias

Para se tornar viável, o transporte por estradas de ferro depende do tipo de carga, com preferência para produtos de baixo valor agregado em grande quantidade e peso, como ocorre com os grãos, minerais e combustível. Isso se deve às possíveis avarias no descarregamento e transferência de cargas nos entroncamentos.

Outro ponto que restringe o transporte por trens está ligado às distâncias. Empresas que usam milho para fabricar ração preferem trazer cargas do estado. Como as distâncias são menores, usam os caminhões.

Na fábrica de rações da Languiru, 90% das 14,5 mil toneladas de milho são transportadas pelas rodovias. O gerente Fabiano Leonhardt relata que a empresa tem uma economia de 20% com a ferrovia. No entanto, a indisponibilidade de linhas, os poucos itinerários oferecidos e o tempo de espera das cargas dificultam o uso do modal. Por ano, são 14 mil toneladas transportada pelos vagões da América Latina Logística (ALL) para a Languiru.

Embarque na região é ínfimo

No Porto de Estrela, o uso da ferrovia é pequeno. Conforme o chefe do setor de engenharia, Homero Soeiro de Souza Molina, no ano, 12 mil toneladas de grãos chegaram por trem para distribuição nas empresas da região e dificilmente há embarque de produtos no município.

O presidente da Câmara da Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT), Ardêmio Oreno Heineck comenta que produtos de indústrias da região, como leite longa-vida, frango congelado e doces, poderiam incorporar os vagões em direção ao centro do país.

No entanto, pela falta de regularidade das linhas para cumprir os prazos o empresariado prefere gastar mais com os caminhões e garantir a entrega. Acredita que é necessário transformar a estrutura do porto de Estrela em um interposto, com produtos estocados prontos para serem carregados e distribuídos.

Conservação das ferrovias

Com a concessão, a responsabilidade por manter a estrutura é da ALL. Em alguns trechos da região a condição é precária, com estações abandonadas e pouca sinalização.

Apesar dessa realidade, a ALL afirma que investe cerca de R$ 650 milhões por ano para aumentar a capacidade de transporte e melhorar a infraestrutura.

Essa informação não condiz com os dados levantados por estudo da ANTT. Em 2011, o órgão apurou que o investimento da ALL foi de R$ 266,8 milhões, dividos em capacitação dos funcionários, melhoria de infraestrutura, sinalização e outros. Até março, o órgão contabilizaou investimento de R$ 56,5 milhões na malha sul.

O acidente mais recente na região aconteceu no domingo passado. Sete vagões, seis deles carregados com material siderúrgico e um com grãos descarrilaram por volta das 2h15min em Colinas. O trem seguia de Uruguaiana com destino a São Paulo. Conforme a ALL, não houve feridos nem dano ambiental.

ALL alega falta de demanda

Para ter uma viagem por dia com produtos agrícolas para Estrela, seriam necessárias 4 mil toneladas de carga. O que corresponde a 110 caminhões. O superintende de Grãos da Diretoria de Commodities da ALL, Guilherme de Abreu Moure confirma que não há um itinerário prévio de transporte para o Vale.

Conta que, se houvesse a lotação total dos vagões, o trem seguiria direto da origem ao destino, com um prazo de entrega de três dias. Moure afirma que a oferta por transporte com destino a Estrela é constante e maior que a procura do empresariado.

Estudo da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), divulgado em agosto, mostra que foram transportados 11.459 toneladas pela malha sul até junho. Os produtos foram soja e farelo, milho, açúcar, cimento, derivados de petróleo e álcool. Para a região, os principais produtos transportados via ferrovia são milho e soja.

Vale espera ampliação da malha

Em agosto, o governo federal anunciou um pacote de R$ 91 bilhões de investimentos em ferrovias. A promessa é de aumentar os traçados para fortalecer o transporte por trens, 12 novas ferrovias e dez mil quilômetros de estradas de ferro, que terão ligação com oito portos, como os de Salvador, Santos e Rio Grande.

No estado, a linha garantida vai de São Paulo até Rio Grande, passando por Porto Alegre, sem entrar na área central do estado. O plano não contempla a chamada Norte-Sul, com trajeto que passaria por Erechim e pelos Vales do Rio Pardo e Taquari, em direção ao porto de Rio Grande.

A secretária executiva do Codevat questiona a lógica do governo federal. “É diferente do que tínhamos de informação, inclusive foram feitas audiências para debater quais traçados seriam mais importantes.”

Cíntia desconhece quais foram os critérios para essa escolha. Por outro lado, admite que falta um estudo contundente para mostrar as necessidades do Vale em relação à ferrovia.

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