A média de chuva registrada desde a tarde de domingo até ontem à tarde chegou a 125 milímetros (mm) na região. É o maior volume de precipitações registrado em apenas um dia dos últimos 12 meses. A quantidade representa 96% do previsto para o mês, que é de 130 mm.
A situação evidenciou as precariedades da infraestrutura urbana: bueiros entupidos, ruas cobertas por água, paradas de ônibus inadequadas para abrigar os passageiros. As lavouras também foram prejudicadas devido ao acúmulo de água.
O volume de chuva, apesar dos transtornos, ajudou a reestabelecer a navegação no Rio Taquari. De acordo com o encarregado da barragem eclusa em Bom Retiro do Sul, Mauro Garcia, o tráfego de navios foi retomado na manhã de ontem.
Cita que desde domingo o nível do rio subiu três metros, sendo que a marcação anterior era de cerca de um metro. Ressalta que três cargueiros com farelo estavam atracados desde quarta-feira, aguardando a chuva. “A estiagem nos prejudicava, agora a situação se normalizou e acreditamos que, em média, 120 navios devam utilizar a barragem por mês.”
O responsável pela medição do nível do Rio Taquari no Porto Fluvial em Estrela, Zé Carlos da Silva aponta que são feitas quatro medições diárias. O nível do rio fechou em 13,30 metros na tarde de ontem, sendo 30 centímetros acima do normal. Em menos de um dia, o nível subiu 10 centímetros.
Paradas de ônibus são insuficientes
O acúmulo de água no asfalto e entupimento de bueiros causaram transtornos para quem dependia de ônibus. No bairro Conventos, em Lajeado, as aposentadas Hilda Blum e Erna de Lima comentam que com a cada chuva o problema se agrava. “O bueiro está entupido e com isso se forma uma “lagoa” na frente da parada. É preferível ficar na chuva do que esperar no abrigo”, comenta Erna.
Hilda diz que há outros problemas, como as precárias condições das paradas. Observa que inexistem bancos para que as pessoas possam se sentar, capoeira e goteiras. “O buraco que tinha na nossa fechamos com um pedaço de cadeira.”
O problema se agrava no centro. Na parada de ônibus localizada em frente ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mais de 30 passageiros aguardam pelo transporte público no fim da tarde. São dois abrigos, e a maioria das pessoas fica sem proteção.
Prejuízos na lavoura de milho e trigo
As fortes chuvas prejudicaram os produtores que semearam o milho em várzeas. O agricultor Felipe Gabriel, da Rua das Flores, de Santa Clara do Sul, estima uma perda de 30% na lavoura que foi plantada na última sexta-feira.
Observa que o volume de água que se acumulou na valeta que passa ao lado da lavoura foi maior do que o suportado pelos canos e invadiu a área semeada com o grão. “Replantaremos, mas é um custo a mais.”
O retorno da umidade permite a retomado do trabalho de preparo do solo e o plantio da safra de soja, feijão, aipim e fumo. As lavouras de trigo foram prejudicadas pelos fortes ventos e chuva que derrubaram parte das plantas em alguns municípios da região.
Os prejuízos estão sendo calculados pelos produtores que esperam o retorno do sol para que a plantas retomem seu desenvolvimento. A safra deve se iniciar em novembro.
O volume de chuvas deve repor parte dos níveis dos reservatórios de água para a irrigação de arroz no estado que estava abaixo da metade. A semeadura da cultura no estado começa em setembro.
As precipitações aliadas à previsão de altas temperaturas favorecem o rebrote das pastagens de inverno. O milho plantado para silagem continua se desenvolvendo, e os problemas de germinação por falta de umidade no solo foram amenizados.
Em agosto choveu uma média de 80 milímetros. O esperado era de 120/130 mm. As temperaturas variaram de 7ºC a 22ºC.
Bueiros entupidos prejudicam moradores
A família Drexler investiu na construção de duas salas comerciais na Av. Teobaldo Breitenbach, no bairro Conventos. Ao lado da casa, dependendo do volume de chuvas, os bueiros entopem e alagam a rua. “Os canos deveriam ser substituídos por maiores. Com este transtorno toda vez que chove dificilmente alguém alugará essa estrutura”, comenta Hilário. Reforça que o nível da valeta deveria ser revisto para melhorar o escoamento da água.
Tempo é monitorado
Conforme o coordenador regional da Defesa Civil, major Vinicius Renner Galvani, foi estudado um anúncio de alerta quanto a enchentes durante a segunda-feira, mas com a diminuição da intensidade das chuvas durante a tarde, a situação se normalizou. “Não devemos nos preocupar, porque o tempo abrirá durante a semana.”
De acordo com a Defesa Civil, não houve desabrigados. Cita que há uma preocupação para os próximos meses em virtude de os meteorológicos preverem enchentes. Projetos de prevenção serão discutidos durante uma reunião em Brasília nos dias 19 e 20.
El Niño promete regularidade de chuvas
Conforme a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é de que nos próximos meses ocorra o fenômeno El Niño, que provoca o aquecimento anômalo da superfície do Oceano Pacífico Equatorial e favorece a ocorrência de chuvas mais regulares.
Na região Sul, o prognóstico indica precipitações que devem ficar entre 300 e 450 milímetros. Em 2011, com a influência do fenômeno El Niña, o período foi marcado por pouca chuva, o que provocou atraso na semeadura, desenvolvimento das plantas e perdas na produtividade em função do déficit hídrico.
Calor volta a predominar
Hoje ainda podem ocorrer pancadas na Região Metropolitana, no Centro e no Oeste, mas a chuva perde intensidade e começa a se afastar do estado.
Na maioria das regiões, o tempo será seco, com nebulosidade variada. As temperaturas caem durante a madrugada, mas sobem durante o dia. A máxima deve ficar em torno 30°C.
Amanhã e quinta-feira o dia será nublado com aberturas de sol. A mínima será de 11oC e a máxima de 23oC. Na sexta e sábado haverá predomínio do sol, e as temperaturas serão altas. A máxima chegará a 31oC. No domingo a previsão é de pancadas de chuvas.
Reportagem e fotos: Giovane Weber e Estevão Heisler