Centenas de peixes morreram após o despejo de resíduos no Arroio São Rafael, no fim de semana. O Grupo de Policiamento Ambiental (GPA) acredita que a poluição seja decorrente do vazamento de produtos químicos da Indústria de Farinhas de Ossos (Faros), instalada na localidade, ou de dejetos orgânicos de propriedades rurais que ficam às margens do arroio.
Os moradores estão inconformados. No dia 20 de agosto, situação parecida ocorreu no Arroio Sampaio. “É um absurdo, os peixes estão morrendo e parece que não há solução para isso”, reclama o produtor Breno Hahn, 45, de São Rafael.
Ele reside no local há duas décadas e observa que a mortandades de peixes é frequente: cerca de duas a três vezes por ano. “Todos sabem quem são os culpados por isso, mas nada é feito, pois os envolvidos têm dinheiro e parece que isso é o suficiente.”
No domingo, Hahn encontrou os peixes boiando no leito do Arroio São Rafael. “Se cortamos uma árvore para ampliar nossa lavoura, seremos multados. Quero ver o que farão agora.”
Hahn usa a água do arroio para irrigar sua lavoura de hortaliças. Teme que os produtos sejam contaminados devido à poluição.
BM investiga causas
Ontem, o comandante do GPA, soldado Dari Scherer esteve no local onde os peixes foram encontrados mortos. Na vistoria preliminar, afirma ter constatado resíduos irregulares no arroio. Uma das hipóteses é de que a empresa Faros, instalada próxima do local, tenha despejado material sem tratamento, descumprindo a Licença de Operação emitida pela Fepam.
A Brigada Militar (BM) cogita a possibilidade de os resíduos serem de propriedades rurais localizadas às margens do arroio. Scherer informa que hoje o GPA volta ao local para averiguar essa situação. Adianta que uma perícia será aberta nos próximos dias para investigar a origem e as substâncias encontradas no arroio.
Depois disso, o material será encaminhado aos órgãos responsáveis – Fepam, Ministério Público e Polícia Civil –, que farão um inquérito policial e avaliarão se a empresa é realmente culpada ou se a poluição provém de propriedades rurais.
Empresa foi multada em R$ 40 mil
Em 23 de agosto, a Faros foi multada em R$ 40 mil pela Fepam por lançar efluentes no Arroio Sampaio, cerca de dois quilômetros distantes do São Rafael. O crime ambiental foi flagrado pelo GPA.
Após a constatação da morte dos animais, a BM encaminhou ao órgão estadual um relatório sobre os danos causados ao ambiente. Na época, a Faros alegou que não é possível determinar o motivo da mortandade devido à falta de amostrar para exame.
Caso recente
No dia 13 de agosto, um suinocultor foi autuado por largar dejetos suínos no Arroio Alegre, em Forquetinha. Morreram dezenas de peixes, como lambari, cascudo e cará. A propriedade tinha uma licença municipal desde fevereiro do ano passado, mas de acordo com o GPA, a situação das instalações era precária.
O que ocasiona as mortes
O despejo de produtos químicos ou resíduos de animais no arroio é a principal causa para a morte de peixes. Conforme o biólogo Luiz Steffens, devido à baixa quantidade de água nos arroios, o produto fica mais consistente, aumentando o dano.
A situação, de acordo com ele, fica mais precária em períodos como o atual, em que há pouca chuva. Observa que os arroios se transformam em poças. “A matéria orgânica acumula e os poucos peixes que existiam ali morrem.”