O juiz Rodrigo Bortoli, responsável pela análise do caso envolvendo a cacique Maria Antônia Soares da Silva, pede calma aos índios caingangues que vivem às margens da BR-386. As ações da tribo podem afetar, de maneira negativa, o julgamento da representante – acusada de tráfico de drogas.
Os índios ameaçam bloquear a rodovia federal, caso Maria Antônia não seja transferida para uma penitenciária mais próxima da aldeia ou não haja a soltura dela. A cacique foi encaminhada para a penitenciária de Montenegro, cerca de 70 quilômetros distante de Estrela, nessa sexta-feira. A transferência foi acordada nessa semana com a Justiça de Santa Cruz do Sul.
Bortoli nega a soltura da acusada. Acrescenta que os manifestos do grupo influenciam apenas de forma negativa em suas decisões. “Tudo o que estão fazendo pesará no julgamento de Maria Antônia.” Bortoli diz que o judiciário conversa com os advogados de defesa, mas os índios não estão abertos a negociação.
Sobre os bloqueios, Bortoli alega que é pretensão dos índios quererem pautar o julgamento de um magistrado.
O juiz salienta que Maria Antônia está em prisão provisória e terá que ficar presa durante os 30 dias previstos. Alega que não há intenção de soltar ela antes do prazo. Durante este período, o delegado entrega ao judiciário o inquérito policial e poderá solicitar a prorrogação da prisão ou então a comutação para a prisão preventiva.
O Ministério Público Estadual também opina depois desse prazo e pode denunciar o caso à Justiça. Em seguida, inicia o processo judicial. Se condenada, ela a pena varia de 5 a 15 anos de prisão.
Mais bloqueios
Cerca de 40 índios bloquearam mais uma vez o quilômetro 360 da BR-386 na noite dessa quinta-feira. A manifestação durou cerca de uma hora. Pedaços de madeira, sofás e outros objetos foram utilizados para impedir a passagem de veículos. Os manifestantes chegaram a atear fogo em troncos no meio da rodovia.
Segundo o vice-cacique Altair Soares, a rodovia deverá ser bloqueada outra vez caso não sejam atendidos. O fato se concretizou e Maria Antônia Soares foi levada para uma cela em Montenegro.
O aposentado lajeadense Ernani Knepel, 63, passava pelo local por volta das 20h no momento em que os índios iniciavam a manifestação. Viu quando cinco manifestantes tentaram parar à força um caminhão. “Eles subiram na cabine e batiam nos vidros” O caminhoneiro conseguiu passar pelo acostamento.
Knepel seguiu o mesmo caminho e conseguiu cruzar a barreira. Restos de pneus e outros objetos foram arremessados contra seu veículo. “Viajo há mais de 40 anos, nunca passei por um susto desses. ”
Responsável pela investigação que levou à prisão da cacique Maria Antônia, o delegado de Bom Retiro do Sul, Rodrigo Reis demonstra preocupação com a possível soltura da líder indígena. “Nosso trabalho foi desmantelar a organização criminosa, se receberem liberdade provisória podem reiniciar o crime.”
Inércia da espera federal
O juiz critica a inoperância da Polícia Federal e do Ministério Público Federal que sabem dos bloqueios e não agem para impedir. Ele compara o fato com um roubo, “imagina se a polícia soubesse que ladrões roubariam uma lotérica às 17h e não fariam nada, o quem pensaríamos?”.
Ele diz que eles devem atuar e podem impedir esse tipo de atitude dos índios.