Escola carente está no topo do ranking

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Escola carente está no topo do ranking

Maior envolvimento dos pais no aprendizado dos filhos é apontado por especialistas como uma das alternativas para melhorar a qualidade do ensino. Em Taquari, a escola estadual teve o maior avanço por trabalhar com essa opção

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Nardy Farias Alvim, do centro de Taquari, foi a que mais cresceu no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb). Superou 108 colégios de Séries Iniciais da rede pública da região. Especialistas apontam que a participação da família no ambiente escolar e o interesse dos alunos são fundamentais para o aprendizado.

cA previsão do Ministério da Educação (MEC) para a escola de Taquari era de 3,4 pontos, mas ela superou o número em 1,2. No colégio estudam 250 crianças da pré-escola até a 8ª série. A maioria delas é carente e mais de 50% é atendida no Lar São José no turno inverso ao da aula.

De acordo com o diretor Paulo Davi Mulinari, o desempenho dos alunos cresceu depois que a escola intensificou a relação com a família dos alunos. Em todas as últimas segundas-feiras do mês, um responsável pelo estudante precisa comparecer ao colégio para saber como está o desempenho dele.

Mulinari relata que a escola tem controle diário de frequência e, caso o estudante falte dois dias, os pais são avisados. Notas baixas são avaliadas com os responsáveis.

O diretor afirma que a cobrança familiar é fundamental para o que o aluno aprenda na escola e não apenas a frequente. Diz que envolver a criança em projetos durante o dia, como é feito no Lar, é importante.

No projeto, os adolescentes estudam e passam o dia em oficinas de dança, teatro e outras atividades que impulsionam a criatividade e a comunicação. “Isso deixa a criança motivada a estudar.”

Em 2011, o desempenho dos alunos da rede pública foi avaliado pelo Ministério da Educação (MEC). Nessa terça-feira, o dado foi divulgado e revelou que de 108 escolas de Ensino Fundamental, 74 tiveram pontuação aquém do esperado. Os alunos atingiram pontuação média de 4,3, quando a previsão era de 4,5.

A mestre em Educação, especialista na área de Linguística e professora pública, Edí Fassini diz que há pais compreensivos e comprometidos com os filhos, mas em contrapartida existe um aumento daqueles com perfil desleixado.

Segundo ela, os pais criam a imagem de que o colégio deve educar o filho e o abandonam lá. “Só que quando queremos ser um pouco mais exigentes e discipliná-los, somos repreendidos.”

Edí afirma que os alunos precisam de regras, e os professores de autonomia para isso. Diz que a cobrança dos pais por boas notas e frequência na escola são fundamentais no processo.

Duas municipais entre as piores

Duas escolas municipais e uma estadual tiveram os menores índices nas Séries Finais. O Instituto Estadual de Educação Monsenhor Scalabrini, de Encantado, teve previsto 6,2 pontos e marcou 4,8; a Escola Municipal São Bento, de Lajeado, deveria ter marcado 5 e fez 3,6; e a Escola Municipal São Caetano, de Arroio do Meio, ficou com 1,4 ponto a menos do previsto.

A secretária de Educação de Arroio do Meio, Eloise Hammes informa que a situação da Escola São Caetano é analisada pelo município e pela direção da escola. Desde 2011, há um grupo de reforço direcionado aos estudantes com dificuldades escolares.

Diz que será criado um novo grupo de Educação para Jovens e Adultos (EJA) que deverá auxiliar na melhora dos pontos numa próxima avaliação.

A mesma cidade teve um dos melhores desempenhos nas escolas municipais na categoria Séries Iniciais. Os resultados de escolas como a Bela Vista e até mesmo a de São Caetano, superam índice de países desenvolvidos e considerados com ótima educação, como Finlândia e Japão. Nestes, a média do que seria o Ideb de lá é de 6 pontos.

Os motivos do baixo índice

– Sistema: disciplinas são programadas, e os professores não interagem e não interligam os conteúdos;

– Formação: professores não se aperfeiçoam e nem atualizam seus conteúdos;

– Participação dos pais: falta trabalho coletivo e maior envolvimento entre escola e pais;

– Avaliação: conteúdos são programados de acordo com os vestibulares. O aluno é motivado a decorar e não a aprender.

O que pensam os especialistas em educação

Silvio da Rocha,

coordenador pedagógico do Governo do Estado

“Os índices estaduais se mantiveram estáveis nos últimos anos. Não evoluímos, mas não decaímos. A proposta de mudanças está prevista para 2015 quando a reforma do novo Ensino Médio estiver completamente implementada. Em 2013, ainda teremos índices estáveis.

Para mudar as deficiências estamos investindo nas Séries Iniciais com reforma curricular. Os professores recebem formação para alfabetização e será investido mais em material didático. O investimento nesta etapa fará com que as Séries Finais mais tarde tenham resultados positivos.

Para o Ensino Médio será construída uma nova forma de avaliar o aluno: “ensinar e não preparar para provas.”

Marisa Bastos,

coordenadora regional da Educação

“Entre as causas do baixo índice está a desvalorização social da educação. Os estudantes precisam se dedicar mais e a família priorizar mais o estudo. Desde 2003, foram feitos poucos investimento na rede estadual. Muitos professores sequer têm formação continuada, o reajuste para o Magistério nem atingiu a inflação e não houve melhora nos espaços físicos das escolas.

Observo algumas questões e penso que as Diretrizes Curriculares Nacionais devem ser parâmetro para a proposta pedagógica de todos os entes federados. Determinados projetos que constam no Plano de Ações Articuladas (PAR) do MEC deixaram de ser utilizados pelas administrações estaduais anteriores e por alguns municípios.”

Luzia Hermann,

presidente do Sindicato dos Professores Estaduais (Cpers)

“Muitos são os fatores que interferem no processo de ensino. É preciso questionar o que se ensina e avalia, e como, quando e o motivo. A inexistência de políticas pública sérias, que levem em conta a construção do saber, o local onde isso ocorre e valorize os profissionais que têm essa responsabilidade, acompanhando, dando suporte e cobrando resultados é a principal falha do sistema.

Os alunos vão mal por vários motivos. Entre eles: a deficiência na formação de professores; as escolas sucateadas: bibliotecas sem atendimento; falta de professores e de funcionários; sobrecarga de trabalho; desestímulo dos profissionais; metodologias que, muitas vezes, não dão conta da construção de conhecimentos de maneira a corresponder com a forma como são avaliados.”

Eva Bruch,

presidente Sindicato dos Professores Municipais

“O estado tem o pior resultado em educação em todo o país, e os professores são apontados como responsáveis pela situação. O investimento em educação é insuficiente, e os professores são pouco valorizados. Que salário é oferecido para que possam investir na sua formação? Quando um professor pode viajar, ter outra visão de mundo?

Para melhorar o desempenho é preciso oportunizar aos professores a discussão dos problemas e das mudanças. Fazer cumprir a lei das horas atividades e propiciar ao professor tempo para planejar.

A principal falha na rede municipal e estadual é que as escolas não têm autonomia para investir em projetos e necessidades.

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