Um mês depois da publicação do caso de dois professores investigados por assédio sexual, o presidente do Hospital Bruno Born (HBB), de Lajeado, Claudinei Fracaro, é acusado por uma ex-funcionária de assediá-la.
A mulher diz que pediu demissão na semana passada, após sofrer assédios sexual e moral do chefe durante um ano e sete meses. O pesadelo, como ela define, teria começado em dezembro de 2010 com uma ligação telefônica à noite.
Na manhã seguinte, a ex-funcionária relata que começou a receber uma sequência de mensagens com convites e declarações indecentes por celular e correio eletrônico. “Eram duas por dia, com palavras cada vez mais agressivas e vulgares.”
Ela conta que sempre informou os pais, que a orientavam para manter a postura profissional. Na tentativa de reduzir as investidas do chefe, começou a trabalhar sem maquiagem e desarrumada. “Pensava: será que fiz algo para ele fazer isso? Nunca me insinuei, mas era muita perseguição.”
Em março de 2011, o pai procurou um dos diretores do hospital para pedir ajuda. “Fracaro tem o maior cargo no hospital e eu era a secretária direta dele, para quem iria recorrer?”, emociona-se a ex-funcionária.
Depois disso, os assédios pararam, mas por pouco tempo. Logo, os pedidos e insinuações ficaram mais agressivos, conta. “Além das cantadas, ele gritava, brigava e me insultava.” Ela conta que a reclamação feita a outro diretor provocou a fúria do presidente a ponto de começar a constrangê-la na frente de terceiros.
O clima tenso e inseguro lhe causou insônia. Ela procurou terapia até pedir demissão. “Ele é uma sombra na minha vida. Escuto ele me humilhando e falando coisas ridículas.” Ela relaciona o medo à falta de atitudes das mulheres em denunciar e pedir ajuda em casos de abuso. “Medo, tenho muito medo.”
Um dos diretores do hospital confirma que conhece o caso e que conversou com o presidente há mais de ano. Para ele, a questão estava encerrada, até a semana passada, quando ela pediu demissão. O diretor diz que a vítima era considerada uma “promessa na área administrativa”.
Apesar de abalada, a mulher confirma que adorava trabalhar na instituição, por isso insistiu todo esse tempo. Cita que seu interesse em expor o caso não é de chantagear ou se vingar, mas incentivar outras vítimas a não se calarem.
Entrevistada no dia de seu aniversário, ouviu da mãe, emocionada, que a família a apoiará em qualquer decisão. Por enquanto, o assunto está com os advogados para análise de como a família procederá daqui para frente.
Fracaro afirma que está tranqüilo
Na manhã desta sexta-feira, o presidente do HBB veio à sede do jornal A Hora e falou sobre as acusações. “Não estou me defendendo, pois não é verdade. Ela era uma excelente funcionária. Não entendo o motivo dela ter feito isso.” Fracaro afirma que muitas reuniões envolvendo a diretoria ocorrem em períodos distintos dos turnos normais, e que a suposta ligação feita à noite para a ex-funcionária teria como objetivo marcar encontros para tratar de assuntos profissionais ligados à instituição.
Sobre as mensagens indecentes citadas pela ex-funcionária e mostradas à reportagem, Fracaro diz que não lembra de tê-las enviado. “É normal mandarmos mensagens para funcionários, mas com palavras vulgares nunca.” Ao ser avisado de que a reportagem teve acesso aos SMS’s, o presidente perguntou se “o teor das mensagens seria publicado no jornal”.
Ele comenta que 80% dos funcionários do HBB são mulheres, e que às vezes ocorrem brincadeiras. “Podemos ser mal interpretados.” Ele admite que pode ter enviado mensagens à ex-funcionária para tratar de assuntos profissionais. “Chegamos a fazer reuniões às 23h, e ela era a responsável por agendar as reuniões e encontros da diretoria.” Sobre supostos elogios feitos à ex-funcionária, diz fazer parte de seu “estilo de trabalho”. “Muitas vezes elogio as pessoas na mensagem.”
Fracaro diz que a demissão da funcionária é um assunto interno e que envolve diversos fatores. “Talvez por algumas aspirações que ela tinha e não foram feitas. Eu como presidente preciso saber como as pessoas serão colocadas lá dentro. Existe uma série de ponderações em relação à saída dela.”
Ele informa que a ex-funcionária não trabalhava de forma direta para ele, e lamenta sua saída. “Ela era funcionária exemplar e teria um futuro brilhante no hospital.” O presidente demonstra preocupação com a imagem da instituição. Lembra que o trabalho no HBB é voluntário, e que os diretores não são remunerados. “Temos muito mais obrigações do que direitos lá entro. Estou muito tranquilo.”
Caso sigiloso terá audiência
Está marcada para o dia 28 de agosto a audiência de um caso que segue há quase dois anos na Justiça. Um professor de Educação Física da rede pública de Lajeado foi indiciado por agredir e assediar alunos de pelo menos três escolas.
O caso foi mantido em sigilo e o servidor afastado das escolas, aconselhado a trabalhar longe de crianças. Hoje, está no setor administrativo de uma secretaria.
Pelo menos dez meninas entre 9 e 14 anos foram vítimas do professor. No inquérito, o depoimento de uma das três que foi ouvida pela polícia contém gestos e frases que ele dizia para as alunas: “Senta no colo do tio.”
O homem também é acusado de agredir um aluno em uma das escolas. De acordo com uma diretora, o servidor tinha problemas de conduta, desrespeitava regras e horários, por isso era constantemente transferido de colégio.
No departamento pessoal da Secretaria de Educação consta que ele foi transferido de setor por uma ordem da Justiça, com o motivo: afastamento de crianças.
Acusação sobre professores
Desde junho, mais dois casos envolvendo professores foram informados à polícia. Um deles, que atuava na área de Informática, é investigado por suposto assédio a alunas de três escolas públicas em Estrela.
As meninas com idade entre 12 e 16 anos relataram que o professor teve atos pervertidos, inclusive massageando os ombros e passando a mão na cintura de uma delas. Ele foi afastado das escolas e nesta sexta-feira será ouvido pela polícia.
Em Lajeado, um educador físico de uma escola particular é acusado pelo mesmo crime. A informação chegou à Delegada de Polícia de Lajeado pelo Disque 100 (telefone de informações anônimas específicas para esse tipo de ocorrência). De acordo com a delegada Márcia Scherer, nesta semana, mães de alunas começaram a dar depoimentos.
O professor foi demitido depois de reclamações de pais das estudantes. Entre as queixas estão o fato dele tirar a roupa na frente de alunas e avaliar o corpo delas.
Vereador é indiciado por assédio
A delegada Márcia entregou ao Judiciário o inquérito com provas e depoimentos contra o presidente do Legislativo de Lajeado, Rui Olíbio Reinke (PSDB), o “Adriel”, por assédio sexual. Agora, o processo será analisado pela Justiça.
O vereador foi acusado, em fevereiro deste ano, por uma adolescente de 17 anos que trabalhava como estagiária na câmara. A família da garota foi quem registrou a ocorrência. Segundo depoimentos, Adriel perguntava se ela tinha namorado e chegou, inclusive, a ameaçar demiti-la.
Quando contatado, Adriel ficou assustado com a situação porque acreditava que o processo havia sido encerrado. Ele afirma não ter recebido ofício do Judiciário.
O perfil dos assediadores
A delegada compara as características de quem assedia no emprego e daquele que comete assédio na escola. No ambiente escolar, a escolha pelas vítimas é coletiva. Na maioria das vezes, trata-se de um grupo de meninas. É a família quem procura ajuda da polícia.
No emprego, o assédio passa a ser pessoal e discreto. A delegada diz que o assediador mantém o ato em sigilo sob ameaças de demitir a funcionária. Nesses casos, segundo ela, poucas mulheres procuram a polícia por falta de provas e porque elas tentam resolver o caso se demitindo do trabalho.