Falta de vacinas mobiliza a população

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Falta de vacinas mobiliza a população

Doses enviadas aos municípios são insuficientes para suprir a demanda do Vale

A confirmação de 145 casos de gripe A no estado e a falta de vacinas deixam a sociedade em alerta. Até o momento, 23 pessoas morreram. Duas eram da região. Temendo novos casos, algumas escolas antecipam as férias para alunos com suspeitas do vírus, enquanto instituições de saúde aguardam pela remessa de mais vacinas e remédios.

gOntem, a comunidade aproveitou para se vacinar contra a gripe A. Nos últimos dias, 2,3 mil doses foram distribuídas em Lajeado. Centenas de pessoas passaram, durante o dia, nos postos de saúde. No centro, a fila para atendimento chegou a 40 pessoas.

Venilze Duarte Martini, 43, aproveitou a nova remessa de vacinas para levar sua filha, Alana Andreza, 10, à unidade de saúde. As duas receberam a imunização contra o vírus influenza. Ressaltou que toda a sua família recebeu a vacina e diz estar preocupada em contrair a gripe. “Estão falando tanto sobre o vírus que estamos com medo. Espero que haja vacinas.”

Observou que a filha entra em férias na escola a partir de amanhã e se diz mais segura com a situação. “Temos medo que isso vire uma epidemia, pois as crianças são mais frágeis e estão sempre em contato com colegas.”

Em Estrela, só pessoas do grupo de risco serão vacinadas na Unidade Básica de Saúde do bairro Oriental. O restante da comunidade recebe a dose a partir de sábado. Ainda restam cerca de 1,8 mil vacinas. Desde o início da campanha, 8,9 mil foram distribuídas.

No município de Fazenda Vilanova, a equipe da Estratégia da Saúde da Família precisou fazer boletim de ocorrência na Brigada Militar após pacientes se exaltarem pela falta de vacinas. Apenas pessoas do grupo de risco foram vacinadas. Para o restante da população, as doses serão liberadas a partir de segunda-feira.

Uso e venda de álcool gel aumentam

Em outros locais, ações como o uso de álcool gel voltam a ser rotineiras. No Colégio Martin Luther, em Estrela, 14 suportes com produto foram instalados nos corredores de dois prédios. Segundo a diretora Andrea Desbessel, os alunos foram orientados a se prevenir contra o vírus. “Qualquer sintoma deve ser comunicado.” Segundo ela, até o momento não houve nenhuma suspeita.

Nas farmácias, a procura pelo produto aumentou. Conforme a funcionária de um estabelecimento, no bairro São Cristóvão, Giovana Queiroz, nas últimas semanas as vendas cresceram em torno de 30%. “Estamos quase com o estoque esgotado.”

“Hoje nos preocupamos em dobro com gripe A”

O pai do jornalista Anderson Pereira morreu em agosto de 2009 após complicações decorrentes do vírus. O ano marcou o primeiro grande surto da doença. Antes da morte de Francisco dos Santos Pereira, ninguém da família foi vacinada. “As doses só foram liberadas para grupos de risco.”

Ele lamenta o mau atendimento no hospital, que demorou a diagnosticar a gravidade do caso e garante que todos estavam informados sobre a doença.

Hoje, o vírus é visto com cuidado redobrado pela família. Anderson mora em São Paulo. Diz que sua mãe, que mora em Estrela, ligou para ele exigindo que faça a vacina antes de visitá-la. “Ela viajará e tentou se vacinar, no entanto, novamente havia doses apenas para os grupos de risco.” Pereira lamenta a situação. “É muito triste isso, ainda mais para quem perdeu um familiar.”

Entrevista com Luis César de Castro, coordenador do curso de farmácia da univates

A Hora – Quem fez a vacina contra a gripe uma vez está imune para a toda vida?

Luis César de Castro – Estaria se esses vírus não tivessem taxas de mutação tão altas. Portanto, recomenda-se a vacinação anual, conforme indicação do Ministério da Saúde, especialmente quando há campanhas para essa finalidade.

– Se pegarmos uma vez a gripe, nosso organismo fica imune ou podemos pegar de novo?

Luis – Pode-se dizer que sim. O que há de verdade quanto a “estar ou não imune contra a gripe” é que estamos imunes aos vírus com os quais entramos em contato (seja por contato no ambiente ou por vacinas). Ou seja, numa mesma pessoa, duas gripes não são causadas por exatamente o mesmo vírus. Portanto, ao estar imune a um tipo específico de vírus, devemos estar imunes por toda vida a aquele vírus, a não ser que estejamos sob efeitos de medicamentos que diminuem nossa atividade imunológica (corticoides ou imunosupressores) ou situações patológicas de imunossupressão. A prática de exercícios e uma boa alimentação (saudável) favorecem nossa imunidade.

– Quanto tempo a vacina demora para fazer efeito?

Luis – A proteção começa a existir aproximadamente após duas semanas (15 dias) da administração.

Como você vê o fato da vacina ser aplicada apenas agora?

Luis – Com relativo atraso. O período adequado para realizar a imunização seria entre abril e maio, evitando o número de casos que observamos, embora sejam baixos. A imunização deve ocorrer antes do período de sazonalidade (período de ocorrência da gripe).

– O que você pensa sobre estipular um grupo de risco para vacinar. Você não acha que toda a população deveria ser imunizada?

Luis – Uma opção administrativa, fundamentada em dados epidemiológicos de incidência e a existência de grupos em que a ocorrência de casos de gripe tem sido de maior preocupação. Entretanto, a imunização, poderia ser estendida a toda população, inciando pelos grupos de maior risco e de maior incidência epidemiológica, e em seguida ampliada para toda população, independentemente de ser considerada uma pandemia com predominância de casos clinicamente leves e com baixa letalidade.

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