Acidentes de trânsito são os que mais matam no país. Trinta e uma pessoas morreram em estradas da região nos seis meses de 2012. Destas, dez foram atropeladas e 18 sofreram colisões entre veículos. A imprudência motiva a maioria.
As vias de Lajeado, Teutônia e Arroio do Meio somam 51,6% das mortes no trânsito da região. Nestes municípios passam duas rodovias, a ERS-130 e a BR-386, e há intenso fluxo de veículos.
Mas são nas rodovias estaduais que morrem mais pessoas. Foram registrados 13 óbitos, a maioria nas proximidades de Teutônia, onde há problemas de trânsito nas vias urbanas que costeiam as rodovias.
Os principais motivos, de acordo com a polícia, são a falta de planejamento na construção de pistas para pedestres e a grande quantidade de acessos a bairros e municípios.
De acordo com o comandante do 3º Pelotão Rodoviário da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) de Cruzeiro do Sul, Samaroni Teixeira Zappe, o acidente acontece porque o motorista é imprudente. Pesquisas revelam que 93% dos acidentes fatais são causados pelos condutores.
Contudo Zappe diz que as condições precárias das rodovias também propiciam acidentes. Segundo o comandante, as vias têm movimento intenso, com muitos acessos, cruzamentos e não há ruas paralelas e acostamentos para os pedestres.
O chefe da 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Lajeado, Leandro Wachholz não acredita que as sinalizações sejam eficazes para o condutor seguir as leis. Ele afirma que os motoristas precisam ser forçados a cumprir, com punições, barreiras físicas e estruturais.
Ele cita o caso dos pedestres que são proibidos de atravessarem a rodovia, quando há uma passarela nas proximidades. “Mas não há como punir ele (sic), e isso faz com que cometam o mesmo erro.” Para ele, a melhor forma de controlar pedestres e condutores é construir obstáculos no perímetro que os forcem a usar a rota mais segura.
Iluminação e controladores de velocidade fixos são outras ferramentas importantes para obrigar o motorista a dirigir consciente. O chefe cita que a intenção do radar móvel não é multar, por isso é anunciado o uso do equipamento.
Sofrimento da família
Desoladas com a perda, famílias se apegam a lembranças e fotografias do familiar morto como forma de consolo. Em Arroio do Meio, a família da Silva, do bairro Bela Vista, sofre há dois meses.
O garçom Ademar da Silva, 40, mais conhecido como “Paulista”, voltava do trabalho, no feriado de 1º de maio, quando próximo da ponte do Arroio Forqueta, na ERS-130, invadiu a pista contrária e atingiu a lateral de uma carreta bitrem. Ademar morreu no local.
A companheira Leuzení Diógenes da Silva, 40, soube do acidente pelo rádio. Emocionada, conta como conheceu o marido em um restaurante em São Paulo e se lembra da sua paixão por motocicletas. Veículo que ocasionou sua morte.
Leuzení fala da angústia de dormir à noite sem o marido e diz que é nesse momento que as lembranças surgem. “Eu vivia para ele, foi como se tivesse perdido um pedaço de mim.”
Fazia um ano que ele havia retornado para Arroio do Meio, onde mora sua família. A mãe Oracilda Nunes da Silva, 73, tem amnésia e ainda espera o retorno do filho. “Quando ela escuta uma moto, ela pede se o Ademar está vindo”, lamenta o irmão da vítima, Nei José da Silva.
Nei conta que Ademar era o mais apegado à mãe entre os oito irmãos, motivo pelo qual ele voltou para a cidade. Ele planejava abrir uma pizzaria nos fundos da residência, sonho que o motivava há anos. Ademar deixou um filho de 17 anos.
Redução de acidentes na BR-386
Há dois anos, a BR-386, no perímetro de Lajeado até Estrela, saiu do topo da lista das rodovias mais perigosas do estado. Foi exigida da Polícia Rodoviária Federal (PRF) diminuição nos índices e, desde então, é desenvolvido um planejamento de trabalho.
Foram detectados causas, locais e horários de maior risco, onde os policiais montaram barreiras e usaram radar móvel para fiscalização. Um deles foi em frente à empresa Balas Florestal, normalmente às 18h.
As falhas na rodovia foram apontadas pela PRF e, depois de consertadas, auxiliaram na redução dos acidentes.
Tragédias custam ao governo
Em 2011, o valor gasto em decorrência das mortes no trânsito no estado foi de R$ 1,1 bilhão. Entre os fatores elencados pela pesquisa feita pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) como indutores a acidentes estão:
– cuidados em saúde (hospitalar, pré e pós, perda de produção, remoção, IML e funeral);
– custos do veículo (danos materiais, perda de carga, remoção e estacionamento, conserto);
– custos da via e do ambiente (danos à propriedade pública, privada e ambientais);
– custos institucionais (atendimento, policiais, judiciais);
– sequelas (traumas, estresse).
Plano para reduzir mortes
O vice-governador e coordenador do Comitê Estadual de Mobilização pela Segurança no Trânsito, Beto Grill apresentou na semana passada Plano Estadual de Trânsito. Ele propõe alterações: na legislação, integração dos municípios ao sistema nacional e investimentos em tecnologia, obras viárias, aumento de efetivo e campanhas de conscientização.
O documento será encaminhado para a Casa Civil na próxima semana. A meta é reduzir em 50% até 2020 as vítimas no trânsito, dentro do programa Década de Ação. A campanha estabelece a necessidade de diminuir em 3,3% ao ano o número de vítimas.
Durante essa quinta-feira, gestores e agentes de trânsito do Vale do Taquari participaram de um curso de capacitação e motivação para reduzir o número de acidentes.
Radar móvel multa 11 mil
O limite de velocidade no trecho da BR-386 entre Lajeado e Estrela foi aumentado de 60 quilômetros por hora para 80. As mudanças permitiram um melhor fluxo na rodovia, mas os resultados do radar móvel apontam que os motoristas seguem imprudentes.
Até essa quarta-feira, a PRF flagrou 10.999 motoristas dirigindo acima da velocidade permitida de Lajeado até Tabaí. Isto representa mais de 400 multas por dia.