A comunidade quer saber onde a concessionária Univias investe o dinheiro arrecadado com a cobrança de pedágio em cinco praças na região. A reivindicação foi apresentada por líderes políticos e da sociedade ontem, no Legislativo de Lajeado.
O encontro foi promovido pela subcomissão da Assembleia Legislativa, que discute a renovação dos contratos com a concessionária. Durante mais de duas horas, diretores do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Delegados (Agergs) ouviram as manifestações.
Os representantes regionais reclamam da falta de transparência da Univias. O Vale representa 2% da malha rodoviária do estado, mas o polo de Lajeado é o maior em arrecadação: foram R$ 103.616.416 só em 2010. Representa 24,3% dos R$ 424.928.454 recolhidos pelos sete polos gaúchos.
Ney Lazzari, presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale (Codevat), reclama que o valor não é revertido para a comunidade. Acrescenta que a concessionária “maltrata” os clientes com essa posição.
Cita como exemplo uma reivindicação para que a BR-386, a partir de Marques de Souza até a região norte do estado, tivesse trechos com três pistas. “A empresa nos mostrou um projeto, isso há sete anos, e nada foi feito até agora.”
O prefeito de Marques de Souza, Rubem Kremer ecoa a reclamação. Há mais de 15 anos, o Executivo pede a construção de uma rótula no acesso para evitar os acidentes. Nada foi feito. Outras medidas, como lombadas eletrônicas, também foram descartadas pela concessionária. A justificativa é de que o contrato é apenas para manutenção das rodovias.
As reivindicações
– as atuais concessões do Programa Estadual de Concessões Rodoviárias;
não devem ser renovadas de forma automática;
– deve haver novas licitações com novos regramentos, como investimentos na região e a manutenção das estradas;
– os valores investidos nas praças e polos de pedágio sejam proporcionais aos seus recolhimentos;
– solicita presença de representantes do Vale do Taquari nos colegiados que encaminharão sugestões a respeito do referido tema;
– devem ser revistos os valores cobrados na atual praça de Marques de Souza, estabelecendo valores que fiquem nos mesmos patamares das demais praças de pedágio;
– deve ser implantado o Conselho de Usuários na região, para deliberações e monitoramento dos investimentos, possibilitando a fiscalização e o controle social.
Novo modelo
O governo estadual propôs a criação de uma empresa para fiscalizar os contratos das novas concessões de estradas para pedágios. O projeto será votado pelos deputados estaduais em 12 de junho.
Para o representante da entidade, Edmundo Silva, deveriam ser estudadas outras maneiras de concessões. Acredita que as Parcerias Público-Privada (PPP) poderiam beneficiar a sociedade, uma vez que as empresas devem fazer melhorias, em vez de só manter a qualidade do pavimento.
Silva acrescenta que a Agergs não tem poder de fiscalização. Só faz relatórios e o estado, que concedeu as rodovias para a exploração privada, é quem deve tomar as medidas cabíveis.
O relator da subcomissão dos pedágios no parlamento gaúcho, Gilmar Sossella (PDT) anotou todas as reivindicações. Elas integrarão o relatório que será encaminhado ao governo do estado, para compor os novos contratos de pedágios.
Preço
Lazzari informa que os pedágios foram benéficos para a população, pois melhoraram as condições das estradas até então mantidas pelos governos estadual e federal. O problema é o preço: R$ 13,40 na praça de Marques de Souza (a mais cara do Brasil) e R$ 6,70 nas demais.
Classifica o valor cobrado em Marques de Souza uma extorsão. O argumento da Univias é que a empresa deixou de construir duas praças de pedágio, juntando os dois preços. Lazzari rebate. Ressalta que a estrutura é pequena e não tem mais funcionários que os outros locais, portanto não justifica a cobrança.
Cita como exemplo na BR-101, em Santa Catarina, onde a tarifa é de R$ 1,50 em uma rodovia duplicada.
O diretor de obras do Daer, Cléber Domingues informou que lá o modelo é diferente: o governo federal entregou a estrada com a duplicação, e a concessionária só deve fazer a manutenção. Lazzari contrapôs. “Mas aqui, o contrato também é só para manutenção, e pagamos R$ 6,70.” Domingues não replicou.