Os teutonienses têm muito o que celebrar. Comemorando 31 anos de emancipação hoje, o município está entre as três principais economias do Vale do Taquari. É a terceira em Produto Interno Bruto (PIB), a segunda em Valor Adicionado Fiscal (VAF) e a primeira no setor primário.
Detalhe importante: é o 15º município mais velho da região e está atrás apenas de Lajeado e de Estrela. Cidades mais antigas, como Taquari (163 anos) e Encantado (97 anos) estão logo atrás, nas 5ª e 4ª posições, respectivamente.
Para quem desconhece a história do município, o resultado surpreende. Mas, quem acompanhou o desenvolvimento considera normal. É o caso do economista e professor de Gestão na Univates, Lucildo Ahlert.
Vários fatores contribuíram. Ele aponta como principal a visão empreendedora do líder emancipacionista e primeiro prefeito, Elton Klepker. “Ele conseguiu unir os distritos de Teutônia, Canabarro e Languiru, que viviam brigando entre si.” A disputa interna, conforme Ahlert, atrapalharia o desenvolvimento.
O segundo motivo é a ERS-128, conhecida como a Via Láctea. E Klepker, mais uma vez, foi o responsável pela conquista. Ahlert conta que o emancipacionista negociou com Ernesto Geisel, presidente militar entre 1974 e 1979, a criação da rodovia.
A estrada interligou Teutônia diretamente com a Região Metropolitana. Antes os motoristas precisavam se deslocar até Estrela para ingressar na BR-386. Tornou-se um ponto quase que obrigatório para quem se dirige para as regiões da Serra e do Vale dos Sinos.
Tradição germânica
Quem visita Teutônia se encanta. A cidade mantém a cultura alemã de diversas maneiras. Um bairro tem o nome “Alesgut”, que significa “Tudo bem”, em português. Porém, há outras influências. A principal está na arquitetura.
Em diversos pontos há construções ao estilo enxaimel: são casas, antigos hospitais – como o Teutônia Norte – e prédios públicos. Estes, por sinal, mais uma vez pensados por Klepker.
Ao constituir Teutônia, planejou a cidade. Para evitar as disputas entre os bairros Teutônia, Languiru e Canabarro, criou o Centro Administrativo. Tomou como base a capital federal Brasília, construída em um ponto inabitado em Goiás.
No município é igual. Aproveitou-se de uma área pouca habitada, indenizou os antigos moradores e constituiu o bairro que centralizou a administração municipal. Tal qual Jucelino Kubistcheck – presidente brasileiro que criou Brasília – pensou até no desenho geográfico.
As ruas são nominadas pelos pontos cardeais. A prefeitura foi construída em forma de cruz. Mas é a arquitetura quem chama a atenção: é toda em estilo enxaimel – porém, sem as tradicionais madeiras entre as paredes, para facilitar a conservação.
Uma lei municipal obriga todos os prédios públicos do bairro terem essa característica. O único que destoa é o Fórum. Para os moradores, é uma obrigação positiva. “É muito bonito e assim a gente consegue manter a nossa tradição alemã.”
Força do setor primário
Em 2011, a produção rural teutoniense superou todas as do Vale do Taquari. Conforme dados do consultor Selvino Huppes, a agropecuária atingiu R$ 122,8 milhões no valor adicionado gerado pelo setor.
Os agricultores comemoram. Martin Afonso Müller, 47, produz cerca de 20 mil frangos por lote e acredita que a emancipação contribuiu. “Agora ficou tudo mais próximo, como a prefeitura, os bancos e as cooperativas”, conta ele, que é natural de Estrela.
Müller acrescenta outro motivo para o resultado: as cooperativas. Languiru, Certel Energia e Sicredi são as três maiores do município e estão muito próximas dos associados. Com isso, a cobrança por serviços de qualidade são muitas e todas tentam atender a exigência dos produtores.
Ahlert concorda com Müller. Para ele, pelo fato da zona rural ser composta por pequenas propriedades, os agricultores é que comandam a produção, proporcionando mais organização e fortalecimento das cooperativas.
A contrapartida é feita pelas associações. Investimentos e incentivos à modernização das propriedades contribuíram. Exemplo é a Languiru, que paga mais R$ 0,08 por cabeça de frango produzida em aviários mecanizados. “Ela foi a mola propulsora, que fez os produtores se modernizarem e ajudar na economia.”
Ações semelhantes ocorrem para as produções de suínos e de leite. Todos os que investem em qualidade ganham incentivos. E todo o retorno é reinvestido na região. Prova disso são os frigoríficos de aves em Westfália e de leitões em Poço das Antas – cidades com distância máxima de 15 quilômetros de Teutônia.
A força do turismo
Há dez anos, o município intensificou a aposta no turismo. Criou a Rota Germânica que a cada ano aceita novos empreendimentos. Com os investimentos e estruturação, as visitas aumentaram. Deixaram de ser restritas para moradores da microrregião e se expandiram, com turistas de diversos pontos do estado.
A rota incrementou a economia. Quem confirma é a professora e empresária Vanda Mader Schneider, 52. Em 2002, reformou o antigo engenho de seu pai e voltou a fabricar destilados. O resultado da aposta é visto hoje.
Segundo Vanda, os lucros com a venda de cachaça e de licores artesanais correspondem a 25% da renda da família Schneider. Parte do dinheiro é investido em outros municípios – como a compra de material para a produção. “Mas a maioria eu gasto aqui”, garante. O dinheiro é revertido para a compra de roupas em lojas dentro do município, estimulando o desenvolvimento local.
O turismo também gera empregos, mesmo que temporários. Vanda, por exemplo, contrata uma pessoa para auxiliar na recepção dos turistas em alta temporada, contribuindo com os impostos e estes sendo revertidos à comunidade.
Vanda pensa no futuro. Dos quatro filhos, um já mostrou interesse em expandir o engenho, deixando de ser catalogado pelo talão do produtor. A ideia é criar um CNPJ e torná-lo uma microempresa. Tudo devido ao retorno do turismo.
Cidade que canta e encanta
Não só de arquitetura se mantém a cultura alemã. O canto coral é outra grande tradição no município. São 40 grupos, como o de Linha Clara, com 122 anos. O trabalho é levado a sério, ao ponto de neste ano, ser realizado um curso para regentes e formação de coralistas.
Estes investimentos, muitas vezes pessoais, torna Teutônia a “Cidade que Canta e Encanta”. E falta pouco para se tornar uma referência nacional. Tramita no Congresso um projeto para conceder o título de Capital Nacional dos Corais, fazendo jus ao slogan.
Estímulo à profissionalização
Produzir é o principal, mas não é tudo. Diversas propriedades têm técnicos agrícolas, e a maioria é formada pelo Colégio Teutônia. Este é outro apontamento de Ahlert.
Os cursos mudaram a mentalidade dos produtores. Se antes os filhos de agricultores optavam pelos grandes centros, hoje retornam ao campo para continuar o trabalho dos pais.
Todo o ensinamento retorna para a família. As aulas teóricas e práticas no instituto ajudaram a profissionalizar as propriedades. O que era baseado em conhecimentos passados de geração a geração, agora tem embasamento estatístico e teórico.
Müller compartilha a opinião de Ahlert. Formado em 1982 em técnico agrícola pelo Colégio Teutônia, aplicou todos os conhecimentos na produção de frangos.
Futuro
Ahlert é cauteloso quanto ao futuro de Teutônia. Hoje, o forte está no setor primário, mas acredita que a tendência é diminuir esta dependência. O crescimento econômico diminuirá as áreas de produção. Mas, isso é para um futuro distante.
Para o professor, o futuro está no turismo. Avançar nesta questão, criando uma agência que venda a Rota Germânica para outros estados e países. Ressalta que os integrantes do roteiro precisam se profissionalizar, agregando mais valor aos produtos.