A burocracia para a cessão de prédios de escolas estaduais, que estão desativados, emperra os planos de entidades e municípios. Estes locais poderiam ser usados pela população para atividades comunitárias. São 41 imóveis, em 18 municípios, que dependem de uma avaliação do estado e da aceitação de prefeitos para terem serventia.
Em alguns casos, a demora perdura há quase 15 anos. Enquanto a inércia persiste, algumas famílias se apropriam dos prédios como moradia. É o caso da família de Patrique Henrique Andrade Carvalho, 14. Há cinco anos, ele, a mãe e dois irmãos se mudaram para onde antes funcionava a Escola Estadual Marquês do Herval, em Pinheirinho, em Roca Sales. O padrasto está no imóvel há 14 anos.
A família se sente dona do local. As janelas continuam enferrujadas e parte do assoalho cedeu, mas trocaram partes do forro e do piso. Construíram repartimentos de concreto entre as salas, formando quartos e cozinha. Mantêm a grama cortada e as podas das árvores são feitas com frequência.
Caso semelhante se verifica em outros três municípios. Taquari tem a maior incidência: duas famílias ocupam as duas estruturas desativadas pelo governo estadual. Muçum e Anta Gorda também, com uma família, ocupando uma escola cada. Em Poço das Antas, a estrutura afugenta os interessados. “O governo do estado até nos ofereceu o prédio, mas nenhuma entidade quer (o imóvel) porque está deteriorado”, desabafa o prefeito, Ricardo Flach.
Resistência
Assim como na “casa” de Patrique, a situação da maioria das estruturas desativadas está em condições precárias, causando resistência dos municípios. Taquari, Putinga, Bom Retiro do Sul, Coqueiro Baixo e Poço das Antas não querem ser responsabilizados pelos prédios.
“Transferir isso (os imóveis) para os municípios é uma bomba”, classifica o secretário de Educação de Bom Retiro do Sul, Malcus Kuhn. São quatro escolas desativadas na cidade. Algumas são usadas pela comunidade, mas sem a autorização do governo estadual.
Conforme Kuhn, o problema está na regularização da área. A maioria das estruturas educacionais foi criada sobre áreas emprestadas por moradores, tornando a situação ainda pior. O estado é proprietário do prédio, mas não do terreno.
Benefício à comunidade
Pensamento contrário tem os demais municípios. Em Sério, a prefeita Dolores Kunzler solicitou ao estado o prédio da Escola Estadual 7 de setembro, desativada há dez anos. Há quatro, foi instalada uma escola, que funcionou por apenas um ano.
Agora, Dolores aguarda a cessão do prédio para que a comunidade possa usufruir. Mas, os gastos na reforma da estrutura podem atrapalhar as pretensões. “Está tudo cheio de cupim”, reclama. A única parte de alvenaria são as paredes.
Cessão de prédios públicos
O que era para ser um alento se tornou frustração. O governo do estado lança, no dia 30, o Programa Otimizar, que busca o equilíbrio das finanças. Com 18 mil prédios sem serventia, quer facilitar a negociação com municípios, entidades ou empresas.
A Secretaria Estadual de Administração e Recursos Humanos fará um levantamento de todas as estruturas, para ver se pode ser feita a venda, a doação ou a cessão dos imóveis. Mas, o programa se restringe a prédios residenciais – a maioria de empresas que tinha dívidas com o governo e cedeu o imóvel para a quitação.
As escolas não fazem parte do programa. Conforme a secretaria, a maneira como elas foram construídas dificulta a cessão. Elas foram erguidas em terrenos cedidos por moradores e a maioria tem, no máximo, duas peças.
O estado é responsável só pela estrutura. Para autorizar a transferência, uma análise minuciosa sobre a documentação dos terrenos. Esta peculiaridade pode frustrar o uso pelos municípios com a urgência desejada.
Outros municípios aceitam
Em setembro de 2011, um levantamento do jornal A Hora apontou que 43 prédios em 18 municípios sofriam com a ação do tempo. Capitão, com uma instituição desativada, e Arroio do Meio, com duas, buscaram a autorização do governo estadual para usufruir os espaços.
Espelharam-se em Fazenda Vilanova, que no fim da década de 90, municipalizou duas escolas estaduais do interior. O Colégio Santana, desde 2009, atende 40 alunos e se prepara para atividades em turno integral.
O secretário da Educação de Capitão, Vianei Rodrigues da Silva ganhou a autorização. A escola estadual da localidade de São Luiz foi repassada ao município. Mas, ainda não se sabe o que será feito. “A comunidade tem um salão e um ginásio, e agora não sabemos o que fazer com o local.”
O Executivo de Arroio do Meio encontrou uma serventia. O prédio em Forqueta é mantido pela comunidade. O mesmo deve ocorrer com a estrutura de Rui Barbosa. Aguardam uma negociação com os moradores para ceder o espaço.
Escolas desativadas sem serventia
Anta Gorda – 4;
Bom Retiro do Sul – 4;
Coqueiro Baixo – 2;
Cruzeiro do Sul – 3;
Dois Lajeados – 1;
Doutor Ricardo – 2;
Encantado – 5;
Ilópolis – 1;
Muçum – 4;
Marques de Souza – 1;
Nova Bréscia – 2;
Poço das Antas – 1;
Pouso Novo – 2;
Putinga – 1;
Roca Sales – 4;
Sério – 1;
Taquari – 2;
Travesseiro – 1;