Nos quatro primeiros meses do ano, choveu apenas 434 milímetros, menos que a metade da média registrada no mesmo período em 2011. A cada dia o nível do Rio Taquari e de seus principais afluentes diminui.
Segundo relato de moradores, esta é a pior estiagem dos últimos 60 anos. O pescador Florentino Dutra, de Arroio do Meio, mora há 53 anos às margens do Taquari e não recorda que a água tenha chegado a um nível tão baixo. “Nem pescamos mais.” A mesma constatação é apresentada por Ermínio Ostral, de Estrela. Pescando desde a década de 80, próximo do Porto Fluvial, garante nunca ter visto cenário parecido. “Estou há quase um mês sem pescar.”
Em alguns pontos a travessia pelo Taquari pode ser feita a pé, como no bairro Navegantes, em Arroio do Meio. Morando no local desde 1995, Adriano Noll nunca conseguiu cruzar o leito do rio a pé. “Hoje, atravesso com água pela cintura.” Seu pai tentou utilizar o barco a motor da família. A tentativa custou R$ 56, preço pago pelo conserto de uma das hélices, danificada após bater em uma ro cha. O pequeno barco agora está guardado à espera da chuva.
Entre os principais afluentes do Taquari, os arroios Engenho, Saraquá – ambos em Lajeado – e o Boa Vista, em Estrela, estão cerca de um metro e meio abaixo do nível normal. Darci Oliveira, que mora próximo do arroio estrelense, vê um cenário desolador. “A água está quase dois metros abaixo das rampas utilizadas para lanchas e embarcações.”
O agricultor Roni Inácio Wickert, 58, de Sampaio, interior de Santa Clara do Sul, diz que, se o abastecimento dependesse da água do arroio, todos passariam sede. A pior estiagem que ele recorda aconteceu em 1977, ano em que as famílias tiveram que buscar água em outras localidades do município.
No trecho em que reside, próximo da Soessa, o nível do Arroio Sampaio está 50 centímetros inferior ao normal desta época. “A sobrevivência dos peixes está comprometida.”
Lúcia Lottermann, 68, mora há 50 anos em São Bento, Lajeado. O Arroio Saraquá, que cruza sua propriedade, abasteceu a produção e foi fonte de água para os animais por muitos anos. Cita que o arroio virou uma valeta, e a água que resta é inadequada até para os animais.
Barcos estão parados
O chefe operacional do Porto de Estrela, José Ronaldo Silveira afirma que a navegação está difícil. Apenas navios de extração de areia continuam trabalhando e com carga reduzida.
O transporte de grãos – soja, trigo e milho – que no período normal, costuma ser de 30 até 60 navios cargueiros por mês, reduziu a zero. Hoje passa pelas rodovias. Cada cargueiro tem capacidade de transportar até três mil toneladas de grãos. Para levar a mesma quantidade, são necessárias cem carretas.
Em média, o Rio Taquari no município tem um nível de 13 metros. Hoje está em apenas 11,10.
Prejuízos no campo refletem na cidade
A falta de chuva que arrasou as lavouras começa a trazer reflexos no comércio. Com os lucros reduzidos, a maioria dos agricultores está tendo dificuldade em pagar suas dívidas.
Conforme dados da Emater, em 64 municípios atendidos pela entidade, os prejuízos nas lavouras chegaram a 40%.
Com isso deixarão de circular na economia da região R$ 75 milhões. Com a quebra na safra de grãos, o custo de produção e os preços aumentaram.
A saca de milho subiu de R$ 24 para R$ 32 e a de soja está em R$ 54, a melhor remuneração desde 2004.
Proprietária de uma empresa de implementos agrícolas, Ângela Hammes conta que a venda direta aos agricultores reduziu em quase 50% em função da seca.
Segundo ela, os financiamentos como o Programa Mais Alimentos são responsáveis por manter os negócios estáveis.
Leito virou potreiro
Em Forquetinha, o arroio de mesmo nome está quase seco. O agricultor Romeu Grahl, 62, ex-proprietário de um camping, comenta que as áreas de banho viraram lago e potreiro. “Não há mais vazão. A água está verde, com mau cheiro e pode estar contaminada.”
Parte da sua lavoura de milho secou. O que sobrou foi destinado para confecção de silagem. Lembra que no dia 14 de abril de 2011 com a enchente o nível da água chegou aos 8 metros. “Um ano depois, o arroio está seco.”
Geração de energia reduz
As hidrelétricas Salto Forqueta e Boa Vista, da Cooperativa Certel, operam com um quinto da capacidade total, que é de 6, 124 MW (megawatts), conforme o diretor de geração da cooperativa, Julio Cesar Salecker.
Mais de 18 mil associados podem ser atendidos com essa potência. Salecker acrescenta que a média mensal de precipitações precisa voltar ao normal, entre 120 e 170 milímetros/mês, para manter o fornecimento. Ressalta que, se chover uma média de 15mm/ semana, o problema é amenizado.
Previsão de chuva e enchentes
Com o fim do fenômeno metereológico La Niña, que provocou o resfriamento das águas do Pacífico Central, a previsão é de que o volume de chuvas se normalize a partir de junho.
Não está descartada a possibilidade de chover acima da média e até de enchentes nos próximos meses.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê a ocorrência de pancadas isoladas e de baixa intensidade para sexta-feira.
As temperaturas durante a semana devem continuar em elevação, chegando a 27ºC na quinta-feira.