Foram pelo menos 2.746 quilômetros percorridos em 20 anos e sem comunicar a família. Maria Madalena Flora Maciel, 56, saiu do Rio de Janeiro, após uma briga com os parentes. Pegou um ônibus, rumou para outras cidades e não mandou notícias.
A irmã, Maria Aparecida Flora Maciel, 58, não tinha mais esperança de reencontrá-la. A falta de informações, as dificuldades e o tempo não impediram de continuar as buscas e reunir a família.
No início do mês, uma ligação lhe deu esperanças. Tomou o ônibus em São João do Miriti (RJ) rumo a Roca Sales.
Ontem, no Centro Social Urbano do município, as duas se reencontraram. Choros e sorrisos marcaram a ocasião. “Sinto-me como o pai do filho pródigo. Pensava que ela tinha morrido”, desabafa Maria Aparecida.
O sumiço
Tudo começou em 1992, quando um desentendimento provocou o sumiço. Problemas de memória impedem Maria Madalena de lembrar os motivos da discórdia. Recorda apenas de pegar diversos ônibus rumo ao desconhecido, passando por cidades como Curitiba, Uruguaiana e Porto Alegre. Na capital gaúcha, recebeu tratamento, mas fugiu.
Maria Madalena tinha problemas de memória. Isto atrapalhou sua identificação nos diversos municípios que morou. O medo que sentia a afastava das pessoas contribuiu, dificultando ainda mais a volta para a casa.
A reviravolta aconteceu há poucos dias. A cabeleireira Ivanete Pires ficou curiosa ao ver a estranha com roupas longas em um dia quente, perambulando por próxima da praça. Preocupada, foi ao encontro de Maria Madalena.
Depois de algumas informações, contatou a Assistência Social e a Secretaria Municipal da Saúde. “Ela tinha medo e parecia perdida”, lembra Ivanete.
Com o auxílio do município e do Centro de Referência de Assistência Social, Maria Madalena foi internada no Hospital Roque Gonzales. A insegurança provocou mais uma fuga, mas as buscas, feitas pela assistente social Carine Petter, foram eficientes. Maria Madalena foi reencontrada.
Com auxílio de psicólogos e enfermeiros, Maria recebeu tratamento especial. Depois de conversas, foi retomando parte da memória e informou seus dados. Carine pesquisou o nome de Maria na internet e conseguiu localizar parentes no Rio de Janeiro.
A psicóloga Letícia Fernanda Henz explica que Maria teve alguns colapsos de memória. No início, com medo, não falava. Depois, aos poucos, foi lembrando do nome. Em alguns momentos, ainda se esquece de algumas coisas, por isso precisa manter o tratamento com psicólogo e terapeuta para exercitar a memória.
Vida nova
Hoje, elas embarcam de volta ao Rio de Janeiro. Maria Madalena morará com o filho mais velho dos três que teve. Tem o apoio da família e quer curtir os cinco netos, os quais não conheceu. “O melhor lugar é com a minha família.”
Mas, a saga da Família Maciel persiste. Agora, as duas irmãs tentam reencontrar Genaro, o irmão mais velho, o qual também perderam o contato.
