A conclusão do Manual de Estilo e a criação do quadro Ombudsman marcam os dez anos do jornal A Hora. O evento alusivo à celebração ocorreu ontem à noite, no Estrela Palace Hotel, em Estrela. O aniversário do veículo de comunicação ocorre em 1º de julho.
As novidades e promoções são direcionadas ao leitor. O diretor de redação, Fernando Antônio Weiss fala a respeito do processo de reformulação e aprendizado pelo qual repórteres e diagramadores passaram nos últimos dois anos. “Foi uma espécie de reciclagem, tanto na área operacional como na ética dos nossos profissionais.” Durante o período, houve ajustes na equipe. Hoje, trabalham 11 jornalistas, dois correspondentes, dois diagramadores, uma secretária de redação e o editor-chefe.
A reformulação se fez por meio de um trabalho ministrado pelo filósofo, especialista em linguagem da escrita, e ex-professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Ademir de Jesus La Roque. Ele será o ombudsman a partir de novembro (ver entrevista). Hoje, é o responsável pelo desenvolvimento e produção do Manual de Estilo.
Conforme Weiss, durante o período foram corrigidos, principalmente, os chamados “vícios” de escrita, os jargões, a falta de objetividade no texto, e questões éticas e editoriais do jornal. “Estamos longe do que consideramos ideal. Mas a profissionalização e os avanços dos últimos anos, encorajam a direção a apostar e ousar”, acrescenta, referindo-se ao Manual e o quadro Ombudsman.
Manual de Estilo está pronto
Ontem foi apresentado o Manual de Estilo do jornal A Hora. O produto é o código interno da redação, e direciona a conduta e postura de todos os funcionários da empresa, em especial da redação. O livro expõe regras de uso de expressões, de siglas e outros itens e recursos de texto. “São padrões facilitadores da tarefa do jornalista e principalmente do leitor”, comenta Weiss.
A Hora será diário
De acordo com o diretor geral, Adair Gilberto Weiss, a expectativa da direção era tornar o jornal diário ainda no primeiro semestre de 2012. No entanto, foi prorrogada para os próximos meses. “Não queremos ser um jornal laudatório, pois o leitor desmerece isso. É preciso excelência e qualidade em todas as edições.”
Adair cita que a filosofia é trabalhar com uma equipe enxuta e bem remunerada. A seleção de novos empregados será cada vez mais minuciosa, e todos devem estar cientes da política editorial e da conduta da organização. “Nosso foco é ser uma empresa de comunicação que faça eco aos anseios do Vale do Taquari. Para isso, só haverá espaço para profissionais inquietos e que sempre buscam melhorar.”
Ele comenta sobre outras novidades para este ano, como a formação de um departamento de pesquisas, de um banco de dados, e dos comitês editoriais. Esse último, se resume a reuniões permanentes envolvendo líderes e autoridades ligadas a assuntos pertinentes, sempre dentro da linha editorial do jornal.
Ombudsman será o terceiro no país
Hoje, apenas a Folha de São Paulo e o jornal O Povo, de Fortaleza, possuem ombudsman contratados. O termo é uma palavra sueca que significa “representante do cidadão”. Em alguns países da Europa, tem como missão canalizar problemas e reclamações da população. Em veículos de comunicação, o cargo tem como função ser um representante dos leitores.
Entre as atribuições está receber, investigar e encaminhar as queixas dos leitores. Ele também defenderá os jornalistas caso perceba injustiça nas críticas. Também será sua função realizar a análise interna do jornal, expondo erros e falhas de desenvolvimento e aprofundamento das reportagens divulgadas.
O jornal, para manter a independência e credibilidade com o leitor, dá ao ombudsman o mandato de um ano, com a possibilidade única de renovar por mais um ano. Ademir de Jesus La Roque não pode ser demitido.
Segundo Weiss, se trata de um ato de coragem da equipe do jornal ao expor os erros e críticas da sociedade. “Exige comprometimento ainda maior, com responsabilidade de aprofundar e averiguar cada vez mais as notícias. Vamos ensinar o leitor a ler jornal de outra forma.”
Um pouco da história
O periódico iniciou em julho de 2002 na cidade de Santa Clara do Sul. Com uma equipe pequena, tinha como objetivo ser um meio de comunicação para áreas rurais da região. Em 2005, foi aberta a primeira filial em Lajeado. Em 2010, Encantado também recebeu a sua. Hoje, 18 cidades recebem três vezes por semana o jornal, com ênfase nos municípios de Lajeado, Arroio do Meio, Teutônia, Encantado e Estrela.
Hoje, a diretoria é composta por Adair Gilberto Weiss (diretor-geral), Fernando Antônio Weiss (diretor de Redação), Sandro Lucas (diretor-comercial) e Fabrício de Almeida (diretor-administrativo e financeiro). Trabalham no jornal A Hora 46 funcionários, 35 entregadores e 34 colunistas e apoiadores.
A tiragem é de sete mil exemplares por edição. Hoje, o jornal possui 12 cadernos especiais, direcionados a públicos seletos. São eles o caderno principal; A Hora da Terra; Espaço A; Agronotícias; Conexão; ClassiHora; Mais Atual; Mais Viver; Esporte; Auto-Giro; Retrô e Caderno Tudo.
Entrevista com La Roque
A Hora – O jornal A Hora terá seu Manual de Estilo próprio a partir deste ano. O que ele representa a um veículo de comunicação?
Ademir de Jesus La Roque – O Livro de Estilo tem a função de clarificar o método e os procedimentos práticos que a direção do jornal considera apropriados para atingir os objetivos de seu projeto. É a constituição do jornal. E um grande aliado na vigilância pela qualidade da publicação.
– O Manual está em construção há mais de dois anos. Neste tempo, o senhor reformulou toda a redação implementou um novo jeito de fazer e pensar jornalismo. O Manual retrata esta nova era do A Hora?
La Roque – Ele é de certa forma a consolidação de uma etapa na mudança e servirá para que os jornalistas em momentos de dúvida tenham a mão este guia prático para se socorrerem.
– E o leitor, motivo maior da existência de um jornal, o que ganha com isso?
La Roque – Ganha um texto melhor, notícias melhor apuradas e jornalistas que sabem ser a essência de sua profissão a disciplina da checagem. Estes jornalistas treinados no A Hora tem consciência de que a verdade absoluta é uma utopia, mas que eles têm o dever de buscar a verdade factual, esta sim é possível e desejável. Pois a obrigação fundamental do jornalismo sério é com a verdade.
– No país, dois jornais têm ombudsman (defensor do leitor) – Folha de São Paulo e O Povo, de Fortaleza. A Hora terá a partir de novembro. Descreve o que significa essa figura.
La Roque – Quando chegar o momento esclareceremos o que é esta figura e o que significa, por ora cabe frisar que é uma atitude inovadora e corajosa do A Hora em propor a sua criação. O defensor do leitor é instituído para responder todas as questões feitas pelo leitor no que respeita a linha editorial e a forma de cobertura da matérias pelo jornal. Por que se tomou determinadas decisões editoriais? Por que se escolheu dar prioridade a certas matérias em detrimento a outras? Por que o enfoque foi este e não àquele? As perguntas serão de toda a ordem, até mesmo sobre o uso inadequado do idioma. O defensor atenderá todas as queixas e sugestões. Mas sua função maior é de ser uma espécie de guardião da ética e da qualidade do periódico. O jornal ao ousar tomar esta medida deixa patente sua opção pela transparência no fazer jornalístico.
– Por que será criado só em novembro?
La Roque – Ainda falta alguns ajustes na redação. Também o leitor necessita se acostumar a se comunicar com o jornal. A seção das cartas do leitores tem de amadurecer um pouco para que, ao ser criado o defensor, o leitor possa usufruir de todo o potencial de transparência intrínseco na figura.
– Qual o impacto que isso terá no jornalismo gaúcho?
La Roque – O sul do país teve por dois anos um ombusman no jornalismo, de 1995 a 1997, foi no jornal A Notícia Capital em Santa Catarina, e depois nunca mais. Será algo marcante. Talvez obrigue jornais maiores que o A Hora a repensar sua relação com os leitores. O tempo dirá.
– A Hora faz estes anúncios justamente por acreditar no jornal impresso, mesmo com os avanços das mídias sociais. O que senhor pensa disso?
La Roque – As mídias sociais são uma realidade e a convergência das mídias inexorável. O A Hora sabe disso e não age como avestruz, mas, hoje, a plataforma digital em face de ser muito rápida e imediata carece de apuração em suas notícias. Também peca em profundidade, contextualização e análises. Motivo pelo qual A Hora aposta na qualidade da informação veraz e acredita que o leitor que quiser entender as notícias e obter as informações de que necessitam para se posicionarem com autonomia buscará o impresso de sua preferência. E o A Hora disputará com independência e com lealdade esta preferência.