A polêmica está instaurada no Legislativo. Sem conhecimento de toda Mesa Diretora, o presidente da câmara, Rui Reinke (PSDB), o “Adriel”, encaminhou na sessão de terça-feira um projeto de lei sugerindo a redução de 40% nos subsídios do prefeito, vice, secretários e vereadores a partir de 2013.
O projeto prevê a extinção do 13º salário dos legisladores e da verba de representação do presidente, que corresponde a 50% de acréscimo no subsídio. Conforme Adriel, com a redução a economia nos quatro próximos anos será de R$ 6,5 milhões. “A ideia foi lançada e está aberta às sugestões. Mas defenderei o projeto na íntegra.”
Delmar Portz (PSDB), vice-presidente da Mesa Diretora, assinou o projeto. Hugo Luiz Vanzin (PMDB), secretário da mesa, afirma que foi rejeitado pelos demais componentes e diz estar “surpreso” com a proposta. “Acho absurdo participar da mesa e não ser comunicado.”
Alguns vereadores não se manifestaram. Outros criticaram a atitude do presidente, utilizando termos pejorativos como “chacota”, “demagogia”, e “politicagem barata”. Demais legisladores disseram que é preciso estudar e discutir melhor o projeto antes de se pronunciarem.
Durante entrevista, o presidente afirmou estar tranquilo e confiante na aceitação do projeto. Para ser aprovado, é preciso maioria simples no plenário, ou seja, cinco votos favoráveis. Na próxima sessão, ele solicitará audiência pública para discutir o assunto com a comunidade.
Entrevista com Adriel
AHora – Você acredita que os vereadores recebem mais do que merecem?
Adriel – Penso que o vereador tem que ter orgulho de participar das decisões da cidade. Não é preciso ganhar tanto. Eles devem entender que não são vereadores, mas sim estão com o cargo de vereador. Não é profissão, se não gostar do salário, então saia.
– Caso não seja aprovado seu projeto, você dispensará 40% do seu salário integral?
Adriel – Não, estou colocando o projeto para discussão. Se eu for vereador, tenho que receber o mesmo que todos, receber aquilo que for votado e aprovado. De jeito nenhum vou abrir mão.
– Você acredita na aprovação do projeto?
Adriel – Vai ser aprovado, pode ter certeza. Vou fazer ser debatido ao extremo e não aprovar aumento em 20 segundos como ocorreu no último ano.
– Você tem apoio de algum vereador no projeto?
Adriel – Assim que apresentei o projeto, o vereador Delmar Portz me apoiou e assinou. Sou grato a ele por isso. Depois da sessão, muitos vieram me pressionar. A maioria quer regulamentar R$ 5,5 mil. Acho que eles devem ter orgulho de trabalhar na câmara representando o povo, e R$ 3 mil é um ótimo salário. Quem não gostar, que pegue o boné e vá embora.
– Você acha que os secretários e prefeito estão ganhando muito?
Adriel – Alguns secretários fazem jus ao trabalho, outros não. Acho que é preciso verificar a qualificação técnica e direcionar valores que correspondam. O projeto está aberto a emendas e sugestões, mas em princípio defendo na íntegra o que apresentei na última sessão. Em relação ao prefeito, acho que não pode se queixar se o salário for de R$ 10 mil. Hoje a prefeita recebe mais do que majoritários de 15 capitais brasileiras.
– Baseado em que estudo você chegou ao valor de 40% de redução?
Adriel – Desde 2004 os subsídios citados sofreram aumento de 259%. Estudamos dois meses todos os valores e chegamos a números que consideramos justos. Com R$ 10 mil, por exemplo, a prefeita estará ganhando 20 vezes mais do que um funcionário público que ganha R$ 500. É justo.
– Como você acredita que isso repercutirá na população lajeadense?
Adriel – Eu espero que a sociedade entenda que são eles que pagam nossos salários. Primeiro, em respeito aos vereadores, discutiremos o assunto dentro do plenário. Depois vamos propor uma audiência pública para debater com a comunidade.
O que dizem os demais vereadores
Lorival Silveira (PP) – “Sem comentários. Isso se trata de um projeto demagogo e eleitoreiro justamente no ano das eleições.”
Paulo Tóri (PPL) – “Isso é uma chacota. Fazer isso em ano de eleição é politicagem. Ele está enchendo linguiça e fazendo aquilo que o Márcio Klaus manda. É ridículo. Vamos discutir e, se é assim, vou propor emenda para zerar nosso salário. Assim veremos quem realmente trabalha pela comunidade.”
Círio Schneider (PP) – “Aguardarei a posição dos demais colegas. Preciso estudar o projeto e ver o parecer jurídico antes de me manifestar.”
Delmar Portz (PSDB) – “Concordo com o projeto, tanto que assinei. Agora é preciso que os colegas aprovem.”
Eloede Conzatti (PT) – “Vou ser bem sincera. Não entendi quando ele falou do projeto, não sei de onde partiu essa ideia. Conversamos depois da sessão, mas ainda preciso ter acesso à proposta antes de me manifestar.”
Mozart Lopes (PP) – “Estou ciente do projeto, mas não tenho opinião formada até o momento. Vamos estudá-lo e creio que é preciso comparar os valores dos subsídios com salários de pessoas ligadas às áreas jurídicas e da saúde.”
Hugo Luiz Vanzin (PMDB) – “Faço parte da Mesa Diretora e não fui consultado. Juro que fiquei sabendo do projeto só quando ele (Adriel) falou no plenário. Acho um absurdo não ter sido informado com antecedência, e por enquanto não vou opinar.”
Sérgio Kniphoff (PT) – “Sou favorável à redução. Para mim, vereador ganhar subsídio é irrelevante. Quanto ao Executivo, não vislumbro um governo de qualidade sem a remuneração adequada para os secretários.”
Antônio Schefer (PTB) – A reportagem ligou cinco vezes para o celular do vereador e não obteve retorno.