Vale busca inclusão no Polo Naval

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Vale busca inclusão no Polo Naval

A falta de espaço no Porto de Rio Grande, no sul do estado, para a instala­ção de novas empresas abre novas perspectivas ao desen­volvimento econômico da região. Empresários analisam as estru­turas de cidades próximas de rios para aproveitar a malha hidrovi­ária como meio de escoar a pro­dução ao polo naval gaúcho.

eO governo do estado apoia a iniciativa. Planeja diminuir o tráfego nas principais rodovias do estado. A medida é um alento para municípios como Estrela e Taquari: são limítrofes ao Rio Ta­quari; e têm portos e áreas dispo­níveis para novos investimentos.

Mas, há muito trabalho pela frente. As duas infraestruturas estão subaproveitadas. Dos 27 hectares, apenas dez do Porto de Estrela são ocupados – todos para transporte de grãos. Em Taquari, o caso é mais delicado: a área foi desativada na década de 60 e os galpões demolidos. Hoje, o local é de preservação permanente.

São necessárias adaptações. Para tanto, a Secretaria Estadu­al de Infraestrutura (Seinfra) e o Departamento Nacional de Infra­estrutura de Transportes (Dnit) farão um estudo para identificar as adequações que precisam ser feitas nos portos e no trajeto hi­droviário.

Conforme o diretor de Infra­estrutura e Energia da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), Marco Franscechi, a aná­lise começa no próximo semes­tre. O custo total – entre o estudo e as adaptações – está avaliado em R$ 68 milhões.

Paradoxo no Vale

A construção da BR-386, na década de 60, se constituiu em dois cenários diferentes no Vale. Enquanto a maioria dos municí­pios foi beneficiada com a nova rodovia – que liga o estado ao restante do país –, cinco tive­ram suas economias afetadas negativamente.

Taquari, Bom Retiro do Sul, Fa­zenda Vilanova, Paverama e Ta­baí estagnaram. “Nós estamos de frente para o rio, mas de costas para as rodovias”, resume o pre­feito taquariense, Ivo Lautert.

Ele aponta o transporte terres­tre como o principal fator para o fechamento de algumas empre­sas. Até 1958, o Rio Taquari fazia parte da rota hidroviária para o escoamento da produção e para o transporte de passageiros. Com a BR-386 e a RSC-287, o uso do Rio Taquari diminuiu drasti­camente.

O empresário do ramo madei­reiro e ex-prefeito de Taquari, Cláudio Martins compartilha a opinião. Acredita que haverá economia de tempo e de dinhei­ro para os empresários. “Manter uma empresa está caro, mui­to em função da logística, pois quando um caminhão chega na BR-116 fica tudo congestionado.”

Exemplo de Charqueadas

Para atrair investimentos no setor hidroviário, portos são desnecessários. É o caso de Charqueadas, onde esta infraes­trutura inexiste. Entretanto, em 2011, as empresas UTC e IESA se instalaram no município, tota­lizando investimentos de R$ 178 milhões.

A particularidade foi na promo­ção do município feita pelo prefei­to Davi de Abreu Souza. Cedeu áreas para as empresas, que ins­talarão fábricas de módulos para plataformas petrolíferas.

As peças serão encaminhadas pelo Rio Jacuí para estaleiros do Porto de Rio Grande. Só uma es­trutura destas custa, em média, 1,6 bilhão de dólares.

Em Taquari, os investimen­tos são poucos, mas o limite com o rio atrai empresários. É o caso da Intecnial, de Ere­chim. Há dois meses, se insta­lou no município, onde cons­trói uma barca no valor de R$ 18 milhões. São 65 funcioná­rios, com possibilidade de am­pliar para 150.

Necessidades

Para atrair investimentos de polonaval os municípios precisam:

– Áreas próximas de rio;

– Abastecimento de energia elétrica suficiente para atender a demanda;

– Acessos às empresas devem ser asfaltados.

Agência é aposta de risco

A sugestão de Franceschi ganha coro dos líderes regio­nais. Todos concordam quan­to à criação da entidade. Po­rém, apontam dificuldades para gerir a agência, que é considerada de alto risco.

“É um projeto grande, que precisa ser amadu­recido, antes que a gente implemente e acabe não dando certo”, adverte Cenci. A cautela é compar­tilhada pelo presidente do Conselho de Desenvolvi­mento do Vale (Codevat), Ney Lazzari.

Conforme ele, a compli­cação está em manter a agência. Em um primeiro momento, precisará de in­vestimentos – em especial de empresários – para a contratação de profissionais que possam fazer projetos e buscar investimentos.

Acrescenta que poucos querem investir em algo que não dá retorno financeiro imediato. “Serão necessá­rios, pelo menos, dois anos para estruturar toda a equi­pe. É algo que consome cerca de R$ 30 mil sem a certeza de sucesso.”

Lazzari diz que o ideal se­ria os empresários comanda­rem a agência. Acredita que, se ficar com o poder público, pode se transformar em um cabide de emprego político.

O presidente da Câmara de Indústria e Comércio da região (CIC-VT), Oreno Ardê­mio Heineck concorda. Para ele, a criação de uma agên­cia é viável, mas o que falta é a iniciativa.

Dica do estado

O assunto foi debatido pelo diretor de In­fraestrutura e Energia da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Inves­timento (AGDI), Marco Franceschi, durante reunião em Taquari com líderes regionais.

Para ele, as condições do Rio Taquari são propícias para investimentos de fornecedo­res de peças como: instrumentação e medi­ção; turbinas e gás, compressores e moto­res. Os produtos podem ser encaminhados por navio para o Porto de Rio Grande, onde são construídas as grandes embarcações.

Entretanto, alertou quanto ao trabalho em conjunto. Ressalta que a criação de uma agên­cia regional de desenvolvimento pode facilitar a promoção dos municípios. “Ninguém conse­gue esse tipo de investimento sozinho.”

O prefeito de Fazenda Vilanova, José Cen­ci concorda. Segundo ele, municípios de pe­queno porte tem dificuldades para atrair grandes investidores. Cita como exemplo a implantação de uma fábrica há dois anos, em um investimento de R$ 30 milhões.

Afirma que teve de conceder incentivos de R$ 2 milhões, o que inviabilizou outras obras. Cenci acredita que, com uma orga­nização conjunta, vários municípios po­dem ser beneficiados. Ressalta que, quan­do uma grande empresa se instala, outras menores procuram cidades vizinhas para o fornecimento de peças.

É neste trabalho em conjunto que Cenci crê.

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