O aumento da taxa de imposto sobre os cigarros em 41% refletirá no preço do produto. Os fabricantes repassarão a alta aos consumidores em até 25% a partir de 6 de abril. A medida que atinge todas as marcas nacionais foi confirmada ontem pela fábricas Souza Cruz e Phillip Morris.
Segundo o governo, se trata de uma forma de reduzir o número de fumantes e desonerar a Saúde Pública. Nota da Receita Federal informa que mais duas alterações no valor do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), em 2013 e 2015, elevarão o preço em 55%. Um maço de Marlboro, por exemplo, hoje vendido por R$ 4,25, custará R$ 5,30 em abril e R$ 6,58 em 2015.
O valor mínimo para as carteiras de cigarros será de R$ 4,25. O preço sobe para R$ 4,50 daqui a três anos. Para o gerente de um bar em Lajeado, Cléber Zeni, a medida aumentará a sonegação e o contrabando. “Acredito que poucos deixam de fumar apenas pelo aumento de preço”, diz. “O consumo de produtos paraguaios, sem qualquer tipo de fiscalização, aumentará muito.”
Para ele, campanhas de conscientização sobre os efeitos do tabagismo, financiadas com o dinheiro que as indústrias pagam de imposto, seriam mais eficazes. Zeni acredita que alguns clientes devem optar por marcas mais baratas, mas o número diário de cigarros não terá redução expressiva.
A dona de casa Eroni Ferreira Ritzel, 43, fumante há 14 anos, espera que o aumento de preço impeça que mais pessoas iniciem no vício. Ela cita a mudança de cultura que fez o cigarro perder o “glamour” entre os mais jovens. A filha de 22 anos nunca quis fumar e faz coro com as reclamações do irmão caçula sempre que os pais acendem um cigarro.
Indústria preocupada
O presidente da Associação de Fumicultores do Brasil, Benício Albano Werner, diz que a região tem 7,3 mil famílias que se sustentam plantando tabaco. As ações para restringir a venda do produto preocupam o setor, que gera mais de 2,5 milhões de empregos no país.
Segundo ele, a cada ano a indústria arrecada mais de R$ 9 bilhões para os cofres públicos, enquanto o Ministério da Saúde apresenta um gasto pouco superior a R$ 360 milhões com doenças ligadas ao tabagismo (veja boxe).
Werner acredita que com o aumento de preço, o consumo migrará para produtos sem certificado de procedência e registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Perdem-se empregos e o governo perde o controle do consumo.”
Segundo informações do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), 30% dos cigarros consumidos no país são oriundos de contrabando.
Saiba dos riscos
Estima-se que, no Brasil, a cada ano, 200 mil pessoas morrem precocemente devido às doenças causadas pelo tabagismo. Considerado uma epidemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima que existam mais de 1,3 bilhão de fumantes, sendo 80% nos países em desenvolvimento, que consomem 20 bilhões de cigarros por dia.
O tabagismo passivo é apontado como a terceira maior causa de morte evitável, só perdendo para o tabagismo ativo e o consumo excessivo de álcool.
Outro dado da OMS revela que 80% das pessoas querem parar de fumar, mas só 3% dos fumantes atingem o seu objetivo a cada ano.
De acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel Brasil 2011), Porto Alegre é a capital onde as pessoas fumam mais cigarros, cerca de 9% consomem 20 ou mais cigarros por dia.