O perfil dos presos

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O perfil dos presos

Levantamento feito pelo Presídio Estadual de Lajeado aponta que o roubo e o homicídio são os crimes mais cometidos pelos 210 presos da casa prisional. A lista mostra 36 tipos de delitos. Em alguns casos, há punições por mais de um crime.

A reportagem a seguir traça um perfil dos presos, que em sua maioria são jovens entre 18 e 26 anos. Deflagra o drama da superlotação que não tem previsão de acabar.

Os delitos graves que figuram no topo da lista mostram o grau de periculosidade e a necessidade de mais segurança no presídio. Impulsionado pela disseminação do crack, o narcotráfico mudou o perfil dos presos da região.

Embora esteja em terceiro na lista, especialistas apontam que ele é causador direto dos delitos graves. É o principal responsável por, pelo menos, cinco tipos de condenações: roubo, furto, homicídio, tráfico e receptação.

pPelas fichas criminais, todos os crimes, inclusive o homicídio, têm relação com drogas. Disputa de poder e dívidas são os provocadores.

As prisões por roubo são maiores que as de tráfico de drogas. São 172 condenações de ladrões contra 102 de traficantes. Diferente dos números estaduais em que o tráfico lidera o ranking – de 22,8 mil condenados, 40% vendem drogas. No índice regional, em segundo lugar aparece o homicídio, pelo qual 103 homens cumprem pena.

Muitos traficantes ainda usam a seu favor a lei antidrogas, criada em 2006. Ela distingue usuários de traficantes apenas pela quantidade de substância ilícita portada. Isso torna difícil a definição legal de quem usa e quem vende a droga, gerando menos prisões.

Outro dado alarmante apresentado é a idade dos apenados. Dentre os presos, 90% têm de 18 a 26 anos. Aqueles com idade superior estão há mais tempo na cadeia. Conforme o diretor do presídio, Júlio Cesar Dias Karpes, que trabalha na penitenciária desde 2005 e assumiu em março o cargo da administração, os jovens comentem crimes cada vez mais cedo.

O juiz criminal Rodrigo Bortoli confirma a associação do tráfico com os delitos cometidos. Segundo ele, é rápida a transformação de usuários de crack em redistribuidores. “A solução para diminuir crimes graves é reprimir o tráfico.”

Ele trabalha na Justiça de Lajeado há menos de 20 dias. Visitou o presídio na semana passada e percebeu um problema antigo. Para ele, a estrutura física é boa, se comparada a outras cidades, mas o espaço não comporta a quantidade de presos. O ideal seriam seis por cela.

Para Bortoli, é preciso ter um local adequado que possibilite o trabalho. Assim estes presos voltarão como mão de obra qualificada para a sociedade. Hoje, a superlotação é menor que em meses de 2011. Antes eram 25 presos em uma cela que comporta seis. Agora chega no máximo a 16.

O diretor do presídio alega que até a metade do ano pelo menos duas celas serão reformadas e nelas serão construídos triliches. Isso diminuirá o amontoamento de pessoas nos 4 metros quadrados.

Presídio de Venâncio Aires prorroga o de Lajeado

A expectativa da construção de uma penitenciária em Lajeado está mais distante.

A conclusão se dá depois de um anúncio feito quinta-feira à tarde pelo delegado penitenciário da 8ª delegacia, Anderson Paulo Louzado.

Ele não descarta a construção de um novo presídio em Lajeado, mas diz que o principal foco agora é o de Mariante, em Venâncio Aires. Ela sequer teve a obra iniciada, mas será uma alternativa para desafogar a superlotação de presos da região.

Louzado diz que o déficit em dez presídios de sua comarca é de 800 vagas, e que o presídio de Venâncio oferecerá 650 para reduzir as carências. Agora a meta é defender que Venâncio Aires administre a nova casa prisional de Mariante e não Porto Alegre, como é feito hoje.

Caso contrário, as 650 vagas de Mariante serão destinadas para desafogar os presídios da Capital e o problema local perdurará por mais algum tempo. Ele não fala em previsões de início de obra na região vizinha, apenas garante que a planta e todos os processos burocráticos, como licenças, estão concluídos. Sobre Lajeado o projeto segue uma incógnita.

Números do presídio

485 presos

– 212 condenados regime fechado

– 80 preventivos regime fechado

– 106 regime semiaberto

– 72 regime aberto

– 5 clínica de recuperação

dez domiciliar

Entrevista com preso

Um detento de Lajeado tem a maior pena da penitenciária: 72 anos. Em 2005, cometeu crimes contra uma pessoa, entre eles estupro, atentado violento ao pudor e homicídio. Hoje, com 26 anos, ele cumpriu apenas sete anos da pena. Por lei ele só poderá ficar preso por 30 anos.

A Hora – Como você se vê na cadeia?

Preso – Me vejo esforçado, com consciência própria. Trabalhando para diminuir a pena.

– O que você projeta dentro dela?

Preso – Quero cumprir com meu dever pagando pelos meus crimes. Fazer as coisas certas, respeitando o espaço de cada um para depois dar continuidade quando estiver na sociedade.

– Como faz para passar o dia mais rápido?

Preso – Trabalho. Faço o café, o almoço e a janta para mais de 27 pessoas, com o auxílio de mais dois presos. No restante do dia jogo futebol, olho TV e escuto rádio.

– Descreva sonhos, pesadelos e vivências dentro de um presídio

Preso –Tenho o sonho de voltar para casa e ajudar minha mãe que passa por bastante dificuldades e precisa muito de mim. Os pesadelos são as marcas que nunca mais apagarão de minha mente. Carregarei para sempre a dor e o sofrimento e isso já um castigo. A cadeia pune, mas não nos livra do remorso. As noites de insônia, os pesadelos e a impotência para os estragos feitos ficam. No presídio aprendi que temos que ajudar uns aos outros, porque todos estamos no mesmo barco. Quanto mais amigos você pode fazer, melhor.

– Se arrepende de ter cometido o crime?

Preso – Me arrependo, mas arrependimento não conserta nossos erros, apenas nos ensina a não voltarmos a cometê-los. Todos erramos com menor ou maior gravidade. Eu errei e não tem pior coisa.

– O que mudaria?

Preso – Mudaria na vida as coisas ruins que fiz. Na cidade daria mais oportunidades de trabalho para os presos e tentaria amenizar os preconceitos com os presos. E no presídio, construiria uma empresa para os presos trabalharem.

– Fale sobre o que passou na vida.

Preso – Conforme o tempo vai passando a gente aqui dentro começa a esquecer como é a vida lá fora. Passamos a ser como animais que tem só quatro paredes a espera da hora em que nos dão de comer e de beber. Tiram-nos a vontade própria. As coisas são como os outros querem que seja sem se importar se gostamos ou não. Nossos pedidos quase sempre são ignorados, afinal somos o lixo da sociedade.

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