Distantes mais de 10 quilômetros do centro, cerca de 20 famílias do interior de Picada Café aguardam a instalação de ramais para telefonia fixa e torres para sinal de celular. Enquanto a solução não chega, a única forma de comunicação para algumas famílias rurais é a internet.
Morando há 58 anos na localidade, o agricultor Genésio Hammes comprou três celulares para a família. No entanto, para usar o aparelho, precisa percorrer uma distância de oito quilômetros até Arroio Grande. “E tenho que contar com a sorte, pois às vezes lá também não pega.”
Outra solução, pouco eficiente, é subir no topo de uma colina em frente à sua propriedade.Hammes conseguiu solucionar o problema de telefonia fixa. Mas precisou recorrer ao município vizinho de Capitão para conseguir uma linha. “Estou conectado ao ramal de Capitão, porque aqui na minha cidade não teve jeito.”
Mesmo assim, o pouco número de ramais torna a ligação uma tarefa demorada. Volta e meia, mesmo em alguma emergência, ele precisa esperar cerca de meia hora para completar a chamada.
A filha de Genésio é a única da família que não tem dificuldades de comunicação. De posse de seu notebook, a jovem Tatiana Hammes comemora a recente chegada do sinal da internet na localidade. Com perfis no Orkut, Facebook e Messenger, ela consegue conversar a qualquer momento com amigas. “O sinal é muito bom, posso conversar e realizar minhas pesquisas escolares.”
Com 58 anos de lida na roça, Genésio fica distante do moderno aparelho. Diz que precisa fazer um curso especializado para utilizar a internet e brinca com a idade. “Isso de internet (sic) é para os guris, nós estamos velhos.” Mas logo a seriedade volta. Segundo ele, os negócios da família, como a venda de suínos e produtos hortigranjeiros, ficam prejudicados pela falta de comunicação.
Isolados e sem contato
Um casal vizinho vive uma situação ainda mais preocupante. Alfeu e Normélia Werner se mudaram a pouco mais de dois anos para a localidade de Picada Café. Diferente de Hammes, eles não conseguiram ramal com o município de Capitão e muito menos com Arroio do Meio. “Ele trabalha fora e fico sozinha. Imagina se acontece alguma emergência”, reclama Normélia.
Alfeu não perde a esperança. Diz que o filho inclusive comprou celular para eles e sugere a utilização da torre de 22 metros da internet para instalação de telefonia.
Abaixo-assinado e investigação da Justiça
Segundo Hammes, o problema também atinge: Arroio Grande Central, Arroio Grande Superior, Morro Leão, Morro Sete Barulhos, Cascata e Morro Tico Tico.
Em setembro de 2011, um grupo de moradores organizou um abaixo-assinado com 265 pessoas, cerca de 30% da população dessas localidades.
O documento foi entregue ao promotor de Justiça de Arroio do Meio, Paulo Estevam Araújo. Uma investigação civil foi aberta para investigar junto aos agentes reguladores estaduais e federais e Anatel, para busca de uma solução técnica. Uma comitiva formada pelo prefeito Sidnei Eckert e alguns vereadores também auxilia na busca por soluções.