Maior desafio é o preconceito Maior desafio é o preconceito

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Maior desafio é o preconceito Maior desafio é o preconceito

Cresce o número de pessoas infectadas pelo vírus HIV mesmo com a facilidade de acesso às informações. Na última década, foram diagnosticados 415 casos no Vale do Taquari, conforme dados do Ministério da Saúde. Em Lajeado, há 187 pessoas com Aids tratadas com o chamado coquetel de remédios. Seis são gestantes.

Só em janeiro deste ano, dez pacientes foram diagnosticados com a doença. Segundo a enfermeira responsável pelo Serviço de Assistência Especializada (SAE) de Lajeado, Márcia Kilian, para cada soropositivo cadastrado há seis casos não identificados pelos próprios portadores. “As pessoas têm medo de descobrir e preferem não realizar exame.”

aidsA aposentada Maria de Lourdes Kraemer, 52, descobriu há nove anos que tinha o HIV. Lembra até hoje do momento em que recebeu a notícia. “Falei para a médica: você está louca.” Desde então, muitos amigos deixaram de freqüentar sua casa, que fica em uma travessa do bairro Conservas.

Maria contraiu o vírus de um antigo namorado. Com apenas 20 dias de relacionamento, ele morreu. “Depois descobri que ele usava drogas e era soropositivo.” Diz que nunca usou preservativo e pouco sabia sobre a doença. Hoje, aconselha familiares para que não repitam seus erros. A neta, de apenas 12 anos, ficou sabendo na semana passada do problema da avó. “Fiquei um pouco assustada”, confessa.

“Eu era gordinha, agora estou mais bonita”

A aposentada diz que percebe o preconcei­to em algumas pessoas. Mas garante que foi pior. Hoje sabe quem são os seus verdadeiros amigos. Leva a vida com bom humor e ga­rante que o emagrecimento em decorrência da doença lhe deixou mais bonita. “Eu era gordinha, agora estou melhor.”

Nem o coquetel diário dos remédios gra­tuitos, que por vezes trazem alguns efeitos colaterais, tira o sorriso do seu rosto. Preten­de viver, no mínimo, até os 80 anos. “Preciso cuidar dos meus netos.”

Maria teve outros namorados após a do­ença ser diagnosticada. Garante que sempre usou preservativos nessas relações, mas de­monstra desinteresse por novos romances. “É difícil.” Ela confessa que teve medo da morte no início. Hoje, pretende ser cobaia de qual­quer tratamento que surja. O medo ficou no passado.

SAE registra 758 casos

O SAE atende 32 municípios da região e exis­te desde 1999. Registrou 758 atendimentos nesse período e hoje atende 442 pessoas com o vírus. Outros 121 morreram em decorrência de doenças como pneumonia, meningite e tuberculose, fatais para doentes com baixa imunidade.

Márcia explica que a doença é dividida em etapas. Primeiro o paciente é diagnosticado como soropositi­vo para HIV. O teste pode identificar a doença apenas após três meses da contaminação. “Mas ele já é um transmissor, podendo passar o vírus para outra pes­soa no mesmo dia em que o contraiu.”

A doença pode demorar anos para se manifes­tar. Em alguns casos da região, pessoas ficaram até 15 anos neste estágio. A partir do momento em que a imunidade do paciente baixar de 350 cd4 (a média normal de uma pessoa saudável fica acima de 1.000), ele é considerado doente de Aids e passa a tomar os medicamentos.

O único fornecedor do coquetel de remédios é o serviço público. Assim como os exames, todo o tratamento é gratuito. Márcia salienta a impor­tância das pessoas encararem a doença. “Eles precisam procurar o serviço o mais cedo possível. Principalmente gestantes.” Segundo a enfermei­ra, se o tratamento iniciar antes das 14 semanas de gravidez, as chances de a criança contrair o vírus são menores de 1%.

Problema em cidades pequenas

O aumento da incidência de casos não se restringe aos grandes centros. Em cidades pequenas, o crescimento no número de casos também gera preocupação. Bom Retiro do Sul regis­tra pelo menos um novo caso todos os anos desde 2001. Neste período, foram 28 pacientes registrados.

Segundo o secretário de Saúde, Sérgio Schmidt, os índices preocu­pam. “Realizamos intensas campa­nhas de prevenção e estamos dis­tribuindo preservativos em outros pontos.” Ele diz que muitas pessoas se constrangiam ao buscarem pre­servativos nos postos de saúde e, por isso, as camisinhas serão distri­buídas em pontos como postos de combustíveis e outros.

Outros municípios também apre­sentam números preocupantes. É o caso de Taquari, com 35 novos casos; Cruzeiro do Sul, com 18 e Estrela, com 52 registros nos últimos dez anos.

Campanha intensificada no carnaval

Os jovens gays de 15 a 24 anos são o principal foco da campanha do Ministério da Saúde para o Carnaval deste ano. Isso porque de 1998 a 2010, o percentual de casos na população homossexual nessa faixa etária subiu 10,1%. O conceito da campanha é “Na empolgação pode rolar de tudo. Só não rola sem ca­misinha. Tenha sempre a sua.”

Segundo as estatísticas do Ministério, menos da metade (43%) desses jovens usa preser­vativos de forma regular. Além das emissoras de TV aberta, a campanha abrange redes so­ciais, emissoras de rádio, pai­néis eletrônicos, táxis, pedágios e canais fechados de TV.

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, serão dis­tribuídos 2,8 milhões de pre­servativos em todo o estado durante o Carnaval. Mais do que o dobro do mesmo perí­odo em 2011, quando foram entregues 1,3 milhão de uni­dades.

O estado registra taxa de incidência de 38 casos de in­fecção por HIV a cada 100 mil habitantes, a maior do Brasil. Entre as dez cidades com maio­res índices no país, cinco são gaúchas: Porto Alegre (99,8), Alvorada (81,8), Uruguaiana (67,0), Sapucaia do Sul (66,4) e Canoas (57,4). No Vale do Taquari, Bom Retiro do Sul (26) e Lajeado (21)

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