A juíza Carmen Barghouti atendeu ao pedido encaminhado pelo promotor Carlos Augusto Fiorioli. No documento, ele solicitou a permissão para que o promotor de eventos, Luiz Heissler, o “Django”, realizasse o tradicional baile de Carnaval de salão do município. A festa ocorre dia 20, nas dependências do Clube Centro de Reservistas.
Fiorioli aponta três fatores que o fizeram rever sua posição: a mobilização da comunidade depois do anúncio do cancelamento da festa; um compromisso firmado com a diretoria do clube, estabelecendo prazos para as adequações; e a presença do prefeito Paulo Kohlrausch, que interrompeu as férias para tentar reverter o quadro.
O prefeito lamentou que um problema criado dentro da cidade – com elaboração de um abaixo-assinado pedindo readequações no clube – tenha causado tanta polêmica e o cancelamento provisório do evento. Kohlrausch reconhece a necessidade de o Centro de Reservistas fazer as melhorias cobradas pelo Ministério Público (MP) e espera que o acordo seja cumprido.
Para permitir a realização do evento, o MP estabeleceu prazos – o que não ocorreu no primeiro acordo firmado em 2008, que foi descumprido pela diretoria. Fiorioli estipulou que pelo menos 30% do lucro com o baile de Carnaval seja revertido para realizar as melhorias no sistema acústico do prédio e que o projeto seja apresentado em dois meses.
Medidas emergenciais para o Carnaval
– As caixas de som devem estar direcionadas para o centro do ginásio, impedindo que o som ultrapasse os limites estipulados;
– Durante a festa, a produção do evento deverá controlar o volume emitido, não podendo passar os 70 decibéis em um raio de 5 metros após o muro do clube;
– Contratação de segurança privada.
Como e por que o Carnaval é tão importante
Início foi tímido
O maior Carnaval de salão do sul do país começou em 1977. O primeiro presidente a realizar a festa, José Antônio Goergen, 57, recorda que a então Sociedade Centro de Reservistas havia comprado uma área de terras no centro da cidade, onde hoje é o Banco do Brasil.
Custear o valor era uma preocupação. Apenas quatro ou cinco bailes eram realizados por ano e a receita era insuficiente para pagar pelas terras. Em uma festa de aniversário, Goergen e seu amigo José Guilherme Braun, o Zeca, tiveram a ideia de promover o Carnaval.
Na época o Centro de Reservistas tinha um convênio com as sociedades de Conventos, Nova Santa Cruz e São Bento, pelo qual realizava os bailes da Soja, Milho, Leite e Frango.
Convênio com entidades
Para fortalecer a festa de Carnaval o convênio foi mantido e as quatro sociedades promoveram festas em paralelo. O Centro de Reservistas se responsabilizou pelo baile da segunda-feira à noite.
O primeiro baile de Carnaval reuniu cerca de 500 pessoas. Rendeu lucros e as terras foram pagas em um pouco mais que um ano.
Nos primeiros anos de Carnaval havia uma disputa entre alegorias das quatro sociedades conveniadas. Com isto, o evento começou a se consolidar e muitas pessoas, inclusive famílias, se reuniam para olhar o desfile.
A consolidação
Grandes escolas carnavalescas da região começaram a participar da festa, envolvendo cada vez mais pessoas. Com os anos, o espaço dentro do salão se tornou insuficiente, e o público começou a lotar as ruas. Por volta de 1985 se iniciou também o Carnaval de rua, com carros de som, venda de bebidas e alimentos, beneficiando as lancherias locais.
O público da cidade dobrava durante a noite de evento. No auge do baile, a multidão chegava a 12 mil pessoas, preenchendo até dois quilômetros de extensão da avenida. A festa começava pelas 22h até o amanhecer.
Há cerca de 15 anos, Django começou a participar da organização do evento.
Quem se beneficiava com o movimento era o então extinto Cachorrão do Telê. O ex-proprietário, Airton Teloken, chegava a vender 1,2 mil cachorros-quentes, 28 caixas de cerveja e outros alimentos em apenas uma noite. “Era minha colheita. Ganhava na noite o que recebia durante meio ano.”
Em busca da ordem
O Carnaval de Rua foi proibido a partir de 2007. Ocorriam vandalismos e brigas, prejudicando a imagem da cidade. O prefeito Paulo Kohlrausch lembra que os moradores pediram uma solução.
Desde então, foi proibido estacionar e colocar carros sonoros na Av. 28 de Maio, assim como a prática de vendedores ambulantes, ficando limitado aos que tinham estabelecimentos comerciais.
O baile de Carnaval passou a ser realizado apenas dentro do salão.
A polêmica
Em 2008, moradores do entorno do clube efetuaram um abaixo-assinado reclamando do alto volume do som gerado durante a promoção de festas. O MP foi acionado e assinou um acordo com o Centro de Reservistas para que respeitasse os moradores durante o horário de sossego.
Em 2011, a comunidade voltou a reclamar. O MP investigou o caso e constatou que o volume do som chegava a 70 decibéis e não como o combinado, que eram 45 decibéis. Ao desrespeitar a determinação judicial, o Centro de Reservistas perdeu a licença para a realização de festas em janeiro.
Um dos moradores reclamantes, Ângelo Braun, ressaltou que não era contra o baile de Carnaval, e sim aos demais eventos que prejudicavam a vizinhança do clube.
Com a proibição da festa, a comunidade se uniu e 800 pessoas participaram de um abaixo-assinado, pressionando o MP a liberar o evento. O clube propôs um acordo, de após o baile realizar as adaptações acústicas. No início da semana o promotor Carlos Fiorioli negou conciliação.
Comunidade festeja
– Atendente, Rosana Mallmann, 19 – “Sou a favor da festa, não se trata apenas do clube, mas de todos os moradores, pois é uma vitrina para a cidade e movimenta o comércio local. Não fazia sentido acabar assim.”
– Aposentado, José Guilherme Braun, 58 – “Jamais poderiam tirar isso da cidade. Foi criado pela comunidade e é como se fosse um patrimônio, um marco do município.”
– Comerciante, Arnoldo Noll, 53, – “Investimos um monte e agora não ter? Ninguém pode ir contra a nossa tradição.”
– Açougueiro, José Valdir Olbermann, 44 – “Santa Clara do Sul só ficou conhecida pelo baile. Seria uma grande injustiça conosco. Aproveitem e invistam os lucros da festa nas melhorias que a Justiça exige.”
– Padeiro, Rafael Teloken, 21 – “Ficamos muito felizes que a juíza voltou atrás. Seria uma injustiça com a comunidade. Todos sairiam perdendo, principalmente o comércio que se beneficia com o evento.”